Fotografia: Adrianna Glaviano.
Muitos de nós aprendemos a pôr a mesa quando somos crianças. A tarefa de dispor os talheres e arrumar os os guardanapos começa por ser relativamente simples, ensinada através de lengalengas fonéticas ou histórias animadas que envolvem a faca a proteger a colher (como um cavaleiro a guardar uma princesa ou um pastor a vigiar as suas ovelhas).
Neste mês de novembro, a Vogue pediu a cinco figuras culturais reconhecidas pela sua estética apelativa – desde chefs vencedores do prémio James Beard, a designers de Moda, a grandes damas da sociedade – que criassem uma mesa inspiradora. A única condição era ser uma mesa festiva. Alguns ignoraram prontamente o pedido: “Não sou uma pessoa natalícia”, diz a filantropa e musa de Warhol, Deeda Blair, enquanto outros o seguiram em pleno. Na verdade, o designer Tanner Fletcher, nomeado para os prémios CFDA, até criou uma loja de decoração festiva no seu website, com antiguidades e artigos de mesa vintage.
Para uma decoração festiva imperdível, há cinco tablescapes distintos para ver abaixo.
Tanner Fletcher
Em vez de velas, Tanner Fletcher utilizou cinco candeeiros diferentes para iluminar a mesa.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
“É tudo inspirado na decoração rural inglesa”, diz Fletcher Kasell sobre a sua mesa festiva, em conjunto com Tanner Richie. A dupla por detrás da marca de Moda Tanner Fletcher, nomeada para os prémios CFDA, entrelaçou um corredor de renda com uma grinalda de cedro e, ao invés de velas, optou por cinco candeeiros vintage diferentes. Aliás, tudo na mesa é vintage: desde os tabuleiros de prata até aos anéis dos guardanapos (italianos e dos anos 60). “Algumas coisas são da minha mãe, do Midwest – ela envia-nos caixas de coisas”, diz Richie.
Fletcher Kasell, metade do duo Tanner Fletcher, coloca uma tarte de maçã numa boleira vintage na sua mesa festiva. “É suposto sentirmo-nos como se estivéssemoss num mundo nostálgico, mas ao mesmo tempo moderno”, diz Kasell sobre a decoração de mesa.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
A mesa tem um caráter folclórico distinto: como se pertencesse a uma avó chique em Cotswolds, ou à família de F. Scott Fitzgerald em St. Paul, Minnesota, no início do século.
Até a comida – uma tarte de maçã caseira – exala uma sensação calorosa e sentimental. “É suposto sentirmo-nos como se estivéssemos num mundo nostálgico, mas ao mesmo tempo moderno”, diz Kasell.
Deeda Blair
“Não sou uma pessoa festiva”, diz Deeda Blair, um ícone da sociedade nova-iorquina. Na foto, uma decoração de mesa para quatro pessoas, no seu apartamento em Sutton Place.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Deeda Blair, de 92 anos – um dos últimos cisnes da sociedade nova-iorquina – não se preocupa com a decoração festiva. “Só de pensar em colocar luzes numa árvore de Natal, quanto tempo demora e o quanto custa tirá-las – consome tanto tempo”, diz. “ E eu tenho uma casa na qual não quero vermelho nenhum, por isso nada feito”.
Blair tem um fascínio com esculturas botânicas pintadas, que dispõe ao longo do seu apartamento. As flores são frescas, da Zeze, uma florista célebre no Upper East Side de Nova Iorque.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Quando entrámos no seu apartamento em River House – o icónico edifício de apartamentos onde viveram Henry Kissinger, Greta Garbo e Cornelius Vanderbilt Whitney – como prometido, não havia vermelho à vista. Entre azuis, cinzentos e cremes, a sua casa ostenta uma mistura de tons pastel com toques de neoclassicismo e minimalismo escandinavo. (O marido de Blair, William “Bill” Blair, foi embaixador na Dinamarca e, mais tarde, nas Filipinas). Junto a uma janela com vista para o East River, há uma mesa redonda para quatro pessoas. Nunca convida mais do que esse número de pessoas: depois de décadas a organizar grandes e complicadas festas para diplomatas no estrangeiro, quando o casal se mudou para Nova Iorque, Blair transformou a sua sala de jantar numa biblioteca. “Prefiro dar três jantares para quatro pessoas do que um jantar para 24”, observa. “É mais interessante”.
“Prefiro dar três jantares para quatro pessoas do que um jantar para 24”, diz Blair. “É mais interessante”.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Na sua mesa? Um arranjo da Zeze Flowers (alteraram uma marcação para acomodar a disponibilidade de Mrs. Blair), esculturas botânicas pintadas, porcelana chinesa de exportação do século XVII (proveniente de Paris e da Dinamarca) e talheres de bambu, tudo colocado sobre uma toalha de mesa tecida na Guatemala. Entre histórias de jantares em Copenhaga e usar chapéus de palha Christian Lacroix em Paris, Blair incentivou-nos a esperar que o luar iluminasse as nossas fotografias. Depois, foi para a sua sala de jantar (transformada em biblioteca) para fumar. Qualquer pessoa é bem-vinda a juntar-se a ela.
Clare de Boer
“Estou sempre a pensar na comida. Não gosto de mesas ocupadas que atrapalhem a conversa”, diz Clare de Boer sobre a sua mesa festiva, na sua casa em Park Slope.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Clare de Boer abriu a porta da sua casa em Park Slope apenas com uma camisa e sem maquilhagem. O seu filho de cinco anos, Abraham, agarrou-se à sua mão antes de me oferecer umas bolachas e acompanhar até à sala de jantar, onde uma mesa de cerejeira está disposta de forma elegante e sem grande alarido. Pratos de jantar brancos em individuais de tecido da Rush Matters e rodeados por talheres clássicos de prata de lei da David Mellor. À cabeceira da mesa está um arranjo de plantas de inverno. “Tudo o que estiver a crescer em abundância durante dezembro deverá ser o que comemos e cortamos. Não há flores em dezembro, exceto as poinsétias”, diz de Boer. De seguida, aponta para um cesto de cebolas vermelhas. “Penso nas cebolas vermelhas como a bola de Natal de dezembro”.
Pratos de jantar brancos em individuais de tecido da Rush Matters. De Boer aposta em pormenores prateados brilhantes – como um prato de sal em forma de concha.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
É essa hiper-sazonalidade que tornou de Boar célebre: a chef já esteve nomeada quatro vezes para os prémios James Beard pelos seus restaurantes King e Stissing House, ambos com menus que mudam diariamente. Quando se senta à mesa, fá-lo de forma bastante prática: os pratos não só podem ser lavados na máquina de lavar louça, como também são de qualidade digna de restaurante. (“Podia atirá-los contra a parede que não se iriam partir”, afirma.) Os seus guardanapos são exageradamente grandes – um reflexo da sua vida com três crianças pequenas que precisam de ter o colo tapado quando comem – e Abraham mostra como tapam a sua cabeça na totalidade.
Isso não quer dizer que a mesa seja monástica. De Boer admite que gosta de unir diferentes estéticas – em cima do prato da manteiga está um prato de sal vintage em forma de concha. Além disso, como explica, a mesa ganha vida quando a refeição é servida: “Estou sempre a pensar na comida. Não gosto de mesas ocupadas que atrapalhem a conversa”.
DeVonn Francis
“Quero que seja equilibrada, divertida e festiva”, diz DeVonn Francis sobre a sua mesa festiva, protagonizada por um bolo de tahini preto.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
O chef de cozinha e fundador do Yardy World, DeVonn Francis, encontra inspiração constante em duas estéticas aparentemente opostas: as generosidades sombrias das pinturas flamengas e as cores caleidoscópicas da sua herança jamaicana. No entanto, na mesa que preparou para a Vogue – com ervas de praia, tâmaras e bolos de tahini preto com cobertura artística de creme de manteiga – as inspirações combinam-se facilmente. “Quero que seja equilibrada, divertida e festiva”, diz.
Francis revela que se inspirou nas pinturas flamengas, bem como na sua própria herança jamaciana. O bolo está decorado com uma cobertura de creme de manteiga em tons de rosa.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Francis procura criar um ambiente de elegância informal sempre que recebe convidados. Até os jantares de última hora com amigos são servidos com louça fina e prata: “As regras sobre a forma como passamos tempo juntos são uma parvoíce”, diz. Apesar de ser um chef com formação tradicional, Francis prefere evitar refeições formais quando cozinha em casa. “Adoro um momento de família”, diz, a sorrir.
Romilly Newman
“Queria manter o romantismo e ver as velas a pingar e a deteriorarem-se com o avanço da noite”, diz Romilly Newman sobre as suas velas.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
“Esta era a toalha de mesa que usávamos em todas as alturas festivas quando estava a crescer”, diz Romilly Newman no seu apartamento em Brooklyn, e aponta para um linho D Porthault com um motif de videira verde. Após herdar a herança da avó, que usava no dia de Ação de Graças e na Páscoa, Newman teve o cuidado de criar uma coleção de jantar que a complementasse: guardanapos vintage em forma de vegetais e talheres de prata da Christofle, bem como velas cónicas que acrescentam um elemento de humor. Na mesa, todos assumem posições diferentes. “Queria manter o romantismo e ver as velas a pingar e a deteriorarem-se com o avanço da noite”, partilha.
“O que interessa é a forma como o ambiente evolui ao longo da noite,” diz Newman. Os frutos glacé da Fortnum and Mason dão um toque extravagante à decoração de mesa.
Fotografia: Adrianna Glaviano.
Como stylist culinária, as flores e a comida são sempre o foco da sua mesa. No centro, está sempre presente um arranjo floral feito com musgo verde e lírios roxos – “Queria que estes crescessem quase que para fora da mesa”, diz sobre as suas flores –, enquanto num tabuleiro de prata encontramos frutos glacé da Fortnum and Mason. Newman admite que, à primeira vista, a sua mesa pode parecer monótona. No entanto, “o que interessa é a forma como o ambiente evolui ao longo da noite”, acrescenta. “Adoro a pequena mancha na toalha de mesa, o aspeto da comida quando a refeição consiste numa montanha de pratos deliciosos, e a forma como as pessoas olham ao redor da mesa”.
Traduzido do original, disponível aqui.
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