Fotografia de Zuzu Valla. Styling de Daria Chez e Yal Keenan.
Não há dois corpos idênticos, e nem todos se movem da mesma forma. Mas todos se movem com a mesma força. É por isso que, cada um deles, à sua maneira, tem um encanto especial.
Olivia Deane
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O acaso roubou-lhe um olho: aos 12 anos foi fazer um exame oftalmológico, por inveja dos óculos novos da irmã. O oculista viu uma massa negra no olho direito de Olivia e reencaminhou-a para vários hospitais. A modelo, hoje com 24 anos, foi diagnosticada com um caso raro de retinoblastoma, já que esta forma de cancro é mais comum em crianças até aos cinco anos. Depois de dois anos a fazer quimioterapia, Olivia acabou por ter de retirar o olho. Agora, encara a experiência a partir de uma perspetiva positiva — pode partilhá-la com outros e ajudar a normalizar as diferenças físicas que existem em cada um de nós. Aliás, apesar de ter uma prótese, a jovem não se coíbe de tirar fotos sem a colocar. Afinal, é o corpo que tem e que terá para sempre. Olivia acredita que todos merecemos sentir-nos bem na nossa própria pele, e esse é um dos seus grandes objetivos: ajudar a prevenir o bullying e dar a sua contribuição para o ensino cívico.
Sonia Vera
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Já todos ouvimos falar em histórias com mudanças repentinas, e a de Sonia Vera é uma dessas histórias — em 2016, a modelo e empresária acordou paralisada. A vida de Sonia tem dois capítulos: a venezuelana descreve o primeiro como “glorioso”, e o segundo como “épico.” Depois de uma longa carreira que começou no concurso Miss Venezuela, passou por Hollywood e inúmeras capas de revistas, a modelo viu-se presa a uma cadeira de rodas, vítima de uma rara doença neurológica autoimune. Muitos anos de fisioterapia depois, Vera, de 47 anos, voltou a fazer alguns trabalhos de modelo e a investir na sua marca de swimwear de luxo, Sonia Vera Swimwear. Atualmente dedica-se, também, a promover a defesa de pessoas com problemas de mobilidade, que necessitem de recorrer ao uso de uma cadeira de rodas. No entanto, Sonia deixa bem claro: a cadeira de rodas não a define.
Hannah Powis Keane
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Ferozmente independente — estas são as palavras que Hannah utilizaria para se descrever a si mesma. Mãe de dois filhos, a visual stylist tem um percurso que lhe trouxe, hoje, uma vida profissional tão realizada quanto a pessoal. Hannah partilha com a filha mais velha o seu interesse pela Moda, e juntas desenham coleções de roupa. Para além de explorar a sua criatividade com a filha, Keane, de 31 anos, já protagonizou campanhas para marcas como a Samsung, a Dove e a Love Home and Planet. Uma das coisas que mais gosta de fazer é conduzir, pela sensação de liberdade que lhe dá. O que é que a distingue? Hannah não tem o braço direito.
Mollie Pearce
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Foi graças ao irmão mais velho que Mollie, hoje com 19 anos, nunca desistiu de tentar alcançar o que a sua incapacidade poderia implicar. Mesmo com uma deformação na mão direita, detetada logo às 20 semanas de gestação, a modelo nunca deixou de correr, brincar e escalar com o irmão. Mollie sempre soube que era diferente, tanto que admite ter passado muitos anos a esconder o braço em fotografias, especialmente nas redes sociais. No entanto, o apoio que recebeu de toda a família e amigos ajudou-a a aceitar e a celebrar o que a torna diferente. A mão, contudo, viria a ser apenas uma parte da sua condição peculiar: aos 11 anos, Mollie foi diagnosticada com colite, uma inflamação no cólon, e recentemente fez uma cirurgia que a deixou com um saco de ostomia (que recolhe a urina ou as fezes). Adaptar-se ao seu novo corpo tem sido mais um desafio árduo, mas com a ajuda de outras pessoas com deficiência, Mollie tem vindo a percorrer o caminho da aceitação e amor próprio.
Nancy Harris
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Mãe, modelo e orientadora — estes são os rótulos que Nancy usa para definir os seus papéis, mas é muito mais do que cada um deles. Depois de 30 anos a dançar e a fazer exercício, a professora de educação física teve um acidente num trampolim que lhe custou uma perna. Nancy lidou com a perda do membro como se lida com a morte: passou pelas fases de negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Sentiu-se, temporariamente, outra pessoa, pouco confiante, pouco feminina. Perdeu o emprego. Até que, no fim desse longo percurso, Harris, de 54 anos, se encontrou a si própria. Hoje é modelo e usa a sua visibilidade para ser a inspiração positiva de que tanto sentiu falta depois do acidente. Para além disso, a coragem que ganhou com todo o processo permitiu-lhe ser mais aventurosa do que alguma vez tinha sido — atualmente, só com uma perna, Nancy faz jet ski, parapente e até já se aventurou na queda livre interior.
Lauren Hilaire
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A Síndrome de Down é o que torna Lauren no que é hoje. Aos 23 anos, a modelo percorreu um longo caminho para chegar onde está: com formação em teatro, Lauren já trabalhou como assistente num escritório, numa cozinha e num hospital, onde a sua especialidade era fazer pudim para os doentes. Depois de ter estado desempregada durante parte da pandemia, a modelo voltou a trabalhar enquanto assistente administrativa, mas a sua vocação são as relações pessoais. Lauren dá palestras com associações em escolas, onde partilha a sua experiência com a incapacidade. Já a sua carreira como modelo começou há cerca de um ano e trouxe-lhe uma agradável surpresa: na agência onde se inscreveu, reencontrou um amigo de infância, com quem fazia terapia. O objetivo de Hilaire é continuar a deixar a sua marca, inspirando e apoiando jovens que, como ela, querem conhecer-se melhor a si mesmos e partilhar o que os torna únicos.
Francis Majekodunmi
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Francis, ou melhor, o seu alter ego, Lady Francesca, fez história por ser a primeira drag queen negra com Síndrome de Down. Se assistir a um espetáculo do Drag Syndrome (espreite dragsyndrome.com, não se vai arrepender), é lá que vai poder encontrar das mais ferozes e selvagens drag queens, como é descrita Lady Francesca. Já Francis Majekodunmi, o jovem de 32 anos que dá vida à personagem, deixa a sua marca no mundo das artes, no qual participa nos papéis de dançarino, performer e coreógrafo. A condição de Francis tem a importância que têm os rótulos insignificantes — serve apenas para lhe dar força — já que nunca abdicou de nenhum sonho. Com um curso em Artes Performativas, o jovem é co-director do projeto Blink Dance e marcou presença em vários espetáculos de dança, como uma (ao que consta, muito aplaudida) reinterpretação do The Rite of Spring, na Royal opera House de Londres.
Clara Holmes
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A primeira coisa que Clara nos diz sobre si é que é uma mulher com uma deficiência, e não uma mulher deficiente. É preciso mais alguma coisa para a conhecer? Talvez que tem 41 anos, vive no Reino Unido e é modelo e oradora. Ah, e que tem Síndrome de Ehlers-Danlos, uma doença que afeta a mobilidade das articulações, mas já percebemos que não é isso que distingue esta britânica. Há quem a descreva como destemida, e até um pouco selvagem, mas Clara simplesmente vive a vida ao máximo, o que inclui dedicar-se às suas paixões. A modelo é atenta à sua saúde — é vegetariana há mais de 17 anos e vegan há cinco — e gosta de viajar por todo o mundo. Entusiasta da Moda, Clara é particularmente apaixonada pela possibilidade que esta transmite em dar a conhecer novos rostos e novas histórias, isto é, pela crescente diversidade e representação de todo o tipo de corpos na indústria. Sim, Holmes dá palestras sobre o tema. Porque estar dependente de uma cadeira de rodas é, para a modelo, apenas um pretexto para o seu lema de vida: rollin funk (numa tradução livre, “ousadia sobre rodas”).
Modelos: Olivia Deane, Lauren Hilaire, Mollie Pearce, Hannah Powis Keane e Nancy Harris @ Zebedee Management. Francis Majekodunmi @ Radical Beauty Project. Clara Holmes @ SlingShot. Sonia Vera. Cabelos: Lauren Bell com produtos BaByliss Pro e Hair by Sam McKnight. Maquilhagem e manicure: Bryanna Angel Ryder. Set Design: Zia Knives Zohra. Assistente de fotografia: Sara Carpentieri. Assistente de set design: Riccardo Taddei. Editorial realizado em exclusivo para a Vogue Portugal. Originalmente publicado no The New Beginnings Issue, de setembro de 2021, e disponível aqui.
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