A exposição que está patente na loja da Old Bon Street, em Londres, e oferece a visão de como Alexander "Lee" McQueen alimentou sementes de criatividade em todos aqueles que trabalharam com ele - uma tradição que Sarah Burton adotou de bom grado.
A exposição que está patente na loja da Old Bon Street, em Londres, e oferece a visão de como Alexander "Lee" McQueen alimentou sementes de criatividade em todos aqueles que trabalharam com ele - uma tradição que Sarah Burton adotou de bom grado.
Tim Beddow
Tim Beddow
Um espetacular jardim de vestidos abriu a 29 de novembro ao público no último andar da loja Alexander McQueen, na Old Bond Street, em Londres. A exposição de Sarah Burton, intitulada Roses, começa com uma citação de Alexander "Lee" McQueen na entrada: "Tudo o que faço está ligado à natureza de uma forma ou de outra" e, em seguida, conduz os espectadores por todos os caminhos de criatividade que ao longo do tempo floresceram em forma de vestidos.
Mas Roses é algo muito diferente de uma exposição tipicamente associada a um museu. "Quero mostrar como a comunidade está no centro de tudo o que fazemos na Alexander McQueen," diz Burton. "Desde o começo, quando comecei com Lee, na Central Saint Martins, em 1996, e havia apenas alguns de nós, ele deu a todos - os estagiários inclusive - experiência prática em fazer as coisas”.
Tim Beddow
Tim Beddow
Contrariando toda a mística e exclusividade reservada aos VIP’s diretamente ligada à moda de luxo, Burton encontra-se determinada a criar recursos de livre acesso que promovam a partilha de conhecimento para as novas gerações. A visita privada, por exemplo, foi para um grupo de estudantes de moda que Burton havia convidado vindos de toda a Grã-Bretanha. Com a chefe do atelier McQueen, Judy Halil, Burton partilhou diversas memórias e demonstrou as técnicas que ainda hoje fazem parte da cultura da empresa. Uma instalação de vídeo permanente mostra Halil a confecionar passo a passo o vestido Rosa da coleção outono/inverno de 2019, que deu o nome a esta exposição - da dobra minuciosa ao drapeado milagroso.
Longe de ser um gesto isolado no momento em que os orçamentos para a educação artística estão a sofrer cortes, o evento de Burton deu início a uma segunda série de palestras académicas e workshops dados por membros da equipa e que têm acontecido no espaço da loja desde Unlocking Stories - a primeira exposição que a designer montou no início de 2019. Fluxos de clientes e grupos de adolescentes curiosos que têm aparecido na loja têm direito a tours, gratuitamente.
A exposição Roses está estruturada à volta de duas peças centrais: o incrível Red Rose dress, com as suas pétalas esculturais, e o inesquecível vestido de crinolina que McQueen fez, assistido por Burton e uma equipa de floristas, cheio de flores reais para a sua coleção Sarabande de primavera/verão 2007. Este último dá as boas vindas aos visitantes à medida que estes sobem a escada em espiral.
Durante as semanas de restauração meticulosa que este vestido sofreu, a equipa McQueen fez uma descoberta surpreendente: algumas das hortênsias secas e um único botão de rosa ainda sobreviviam dentro do vestido. A memória que Burton tem desse look está relacionada numa narrativa tipográfica. "As flores não puderam ser colocadas até o último minuto. Por isso enquanto a modelo caminhava, as flores começaram a cair atrás dela," lembra Burton. “As pessoas estavam maravilhadas.” Mais adiante na exposição, o momento é reproduzido novamente num clipe retirado do desfile.
Enquanto isso, há vestidos gigantescos que parecem explosões de cravos cor-de-rosa, como se tivessem saído de canteiros de flores de uma casa de campo inglesa. Há guirlandas acrobaticamente bordadas, rosas reais e vestidos polinizados por abelhas e inspirados em tapeçarias de Arts & Crafts. Um foi moldado por McQueen - Burton lembra-se de Lee ter mandado os alunos bordar espontaneamente o vestido com borboletas de lã imaginárias e folhas de flores.
Eventualmente, este caminho, com todo o seu simbolismo e pesquisa, leva até ao presente, através de uma fotografia de um campo de flores de linho de cor azul pálido que floresce numa fazenda na Irlanda do Norte. Burton e a sua equipa tiveram oportunidade de o ver no verão passado numa viagem de pesquisa que realizaram - o que acabou por inspirar um vestido azul de pétalas que posteriormente subiu à passerelle de Paris em outubro deste ano.
Será esta a criatividade orgânica de Alexander McQueen? Bem, sim, mas enraizada na perícia britânica, que pode subir tão alto quanto a Alta-Costura. Full disclosure: Sarah Burton pediu-me para fazer a co-curadoria deste projeto. Ela nunca se vangloria dos seus talentos e mostra-se relutante quanto ao facto de dar muitas entrevistas. No entanto, o que eu entendi ao trabalhar com ela, é que a sua maneira colaborativa de fazer as coisas é guiada por um olho extremamente perfecionista e instinto para o que está certo. Além disso, ela nunca esquece nada - um vestido, um corte, uma emoção, uma pintura, todos os incidentes engraçados que aconteceram nos bastidores. Tudo isto - assim como a sua lealdade e talento - foi o que atraiu Lee McQueen para ela e, ouso dizer, a duquesa de Cambridge também.
É típico dela instigar um projeto que visa inspirar os alunos e, ao mesmo tempo, ser inspirada por ele. Os admiradores de McQueen terão tomado nota de um vestido usado por Stella Tennant no desfile da primavera/verão de 2020, decorado com bordados de esboços feitos por estudantes da Central Saint Martins durante uma sessão de ilustração de Moda realizada na loja McQueen no início deste ano. Todos os alunos receberam o crédito pela sua obra de arte nas notas do desfile distribuídas em Paris e por isso, como grupo, foram membros do staff de toda a corporação que Burton indicou para bordar à mão.
Ecos do passado prático liderado por Lee McQueen a projetar-se no futuro? Sem dúvida Sarah Burton. A designer está a encontrar a sua própria e única voz cada vez mais claramente, partilhando com o público da maneira mais real possível. No final do seu último desfile, quando Burton trouxe o exército de pessoas que trabalham com ela nos bastidores de McQueen para partilhar o seu protagonismo, as pessoas na plateia mostraram-se emocionadas. O seu sentido de grupo, a sua maneira de fazer as coisas em silêncio, de forma profunda e genuína finalmente tornaram-se no seu super-poder.
A exposição Roses está aberta durante o horário de funcionamento da loja de Alexander McQueen na Old Bond Street número 27 em Mayfair, Londres.
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