Inspiring Women  

As palavras de Amanda Gorman

21 Jan 2021
By Rui Matos

Com apenas 22 anos, Amanda Gorman é a mais jovem poetisa a discursar numa tomada de posse presidencial nos Estados Unidos da América. Foi com o seu poema The Hill We Climb que conquistou o mundo. E assim nasce um estrela.

Com apenas 22 anos, Amanda Gorman é a mais jovem poetisa a discursar numa tomada de posse presidencial nos Estados Unidos da América. Foi com o seu poema The Hill We Climb que conquistou o mundo. E assim nasce um estrela.

“Quando chega o dia, perguntamo-nos onde podemos encontrar luz nesta sombra sem fim?” É desta forma que se inicia The Hill We Climb, o poema que Amanda Gorman escreveu para recitar no dia em que Joe Biden assumiria a presidências dos Estados Unidos da América. Ao The New York Times, a poetisa assumiu estar cansada e não ter certezas de estar à altura do momento. “É provavelmente uma das coisas mais importantes que farei na minha carreira. Se tentasse escalar a montanha de uma só vez, acabaria por cair para o lado,” confessou ao diário nova-iorquino. Gorman decidiu escrever algumas linhas deste poema por dia, mas a 6 de janeiro tudo mudaria. No dia em que os apoiantes radicais de Donald Trump invadiram o Capitólio, foi o momento decisivo para Amanda terminar o seu poema, um processo que se prolongou pela noite dentro. 

“Vimos uma força que destruiria a nossa nação, ao invés de a partilharDestruiria o nosso país se isso significasse adiar a democracia E este esforço quase teve sucessoMas embora a democracia possa ser periodicamente adiadaNunca poderá ser permanentemente derrotada”

Estes versos são uma alusão clara ao ataque terrorista que os apoiantes de Trump levaram a cabo naquele dia 6 de janeiro. Um ato bárbaro, mais um que se junta aos quatro anos tumultuosos que os EUA viveram sob a alçada de um presidente impiedoso. Mas a 20 de janeiro Joe Biden tomou as rédeas de um país que está dividido, e para o ajudar nesta missiva tem como seu braço direito Kamala Harris, a primeira mulher na história do país a assumir o cargo de vice-presidente. 

“Encerramos a divisão porque sabemos que para colocar o nosso futuro em primeiroDevemos colocar as nossas diferenças de ladoLargamos as nossas armasPara que possamos esticar os nossos braçosUns aos outrosNão procuramos o mal, procuramos harmonia para todosDeixem o globo, senão outra coisa, dizer que isto é verdade:Que mesmo quando tristes, crescíamosQue mesmo sofrendo, tínhamos esperançaQue mesmo cansados, tentámosQue estaremos para sempre amarrados, vitoriososNão porque nunca mais conheceremos a derrotaMas porque nunca mais semearemos a divisão, outra vez”

As palavras são poderosas armas e Amanda Gorman sabe manusea-las com uma mestria rara. E foi com o seu tom assertivo e delicado que encantou todos aqueles que ouviram o seu discurso naquele dia 20 de janeiro, ao vivo ou em deferido, ou através das milhões de partilhas nas redes sociais.

Quem é Amanda Gorman?

Amanda Gorman durante a sua intervenção na tomada de posse de Joe Biden © Getty Images
Amanda Gorman durante a sua intervenção na tomada de posse de Joe Biden © Getty Images

“Uma menina magrinha e negra, descendente de escravos e criada por uma mãe solteira.” É assim que Gorman se descreve no já referido The Hill We Climb. Nasceu e foi criada em Los Angeles e cedo deixou-se levar pelas palavras. A poesia apanhou-a sem pedir licença na terceira classe quando uma professora leu Dandelion Wine, de Ray Bradbury, para a turma. Estudou Sociologia na Universidade de Harvard e foi durante a sua estadia no campus universitário que se tornou poetisa juvenil laureada pelo National Youth Poet Laureate, um título atribuído nos Estados Unidos a um jovem que demonstra habilidade nas artes, especialmente na poesia ou na palavra falada.

Desde os 16 anos que lhe são atribuídos prémios de mérito pelo seu trabalho. Em 2015 publicou The One for Whom Food Is Not Enough, o seu primeiro livro de poesia. Em setembro próximo, a Viking Books vai editar em livro a primeira coleção de poemas de Gorman, intitulada The Hill We Climb, uma obra direcionada para adolescentes e adultos, com o poema da tomada de posse a vigorar nas páginas. No mesmo dia, é editado o seu primeiro livro ilustrado infantil Change Sings, com ilustrações de Loren Long, a artista que concebeu o livro Thee I Sing: A Letter to my Daugherts, de Barack Obama.

Em novembro de 2017, numa entrevista ao The New York Times, Gorman afirmou que a Casa Branca há muito que está na sua bucket list. “Esta é uma meta longa, longa, distante, mas em 2036 estarei a concorrer ao cargo de presidente dos Estados Unidos.” 

“Quando chega o dia, saímos da sombra, Em chamas e sem medoO novo amanhecer floresce à medida que o libertamosPois sempre haverá luzSe formos corajosos o suficiente para ver issoSe ao menos formos corajosos o suficiente para ser isso”

É desta forma que termina o poema que Amanda Gorman levou ao púlpito da tomada de posse de Joe Biden. Seguiram-se fortes aplausos. Ali, naquele preciso momento nasceu uma estrela. As palavras, e sempre as palavras, terão sempre o poder nos abrir horizontes.

Abaixo, a transcrição de The Hill We Climb no idioma original.

When day comes we ask ourselves,where can we find light in this never-ending shade?The loss we carry,a sea we must wadeWe've braved the belly of the beastWe've learned that quiet isn't always peaceAnd the norms and notionsof what just isIsn’t always just-iceAnd yet the dawn is oursbefore we knew itSomehow we do itSomehow we've weathered and witnesseda nation that isn’t brokenbut simply unfinishedWe the successors of a country and a timeWhere a skinny Black girldescended from slaves and raised by a single mothercan dream of becoming presidentonly to find herself reciting for oneAnd yes we are far from polishedfar from pristinebut that doesn’t mean we arestriving to form a union that is perfectWe are striving to forge a union with purposeTo compose a country committed to all cultures, colors, characters andconditions of manAnd so we lift our gazes not to what stands between usbut what stands before usWe close the divide because we know, to put our future first,we must first put our differences asideWe lay down our armsso we can reach out our armsto one anotherWe seek harm to none and harmony for allLet the globe, if nothing else, say this is true:That even as we grieved, we grewThat even as we hurt, we hopedThat even as we tired, we triedThat we’ll forever be tied together, victoriousNot because we will never again know defeatbut because we will never again sow divisionScripture tells us to envisionthat everyone shall sit under their own vine and fig treeAnd no one shall make them afraidIf we’re to live up to our own timeThen victory won’t lie in the bladeBut in all the bridges we’ve madeThat is the promise to gladeThe hill we climbIf only we dareIt's because being American is more than a pride we inherit,it’s the past we step intoand how we repair itWe’ve seen a force that would shatter our nationrather than share itWould destroy our country if it meant delaying democracyAnd this effort very nearly succeededBut while democracy can be periodically delayedit can never be permanently defeatedIn this truthin this faith we trustFor while we have our eyes on the futurehistory has its eyes on usThis is the era of just redemptionWe feared at its inceptionWe did not feel prepared to be the heirsof such a terrifying hourbut within it we found the powerto author a new chapterTo offer hope and laughter to ourselvesSo while once we asked,how could we possibly prevail over catastrophe?Now we assertHow could catastrophe possibly prevail over us?We will not march back to what wasbut move to what shall beA country that is bruised but whole,benevolent but bold,fierce and freeWe will not be turned aroundor interrupted by intimidationbecause we know our inaction and inertiawill be the inheritance of the next generationOur blunders become their burdensBut one thing is certain:If we merge mercy with might,and might with right,then love becomes our legacyand change our children’s birthrightSo let us leave behind a countrybetter than the one we were left withEvery breath from my bronze-pounded chest,we will raise this wounded world into a wondrous oneWe will rise from the gold-limbed hills of the west,we will rise from the windswept northeastwhere our forefathers first realized revolutionWe will rise from the lake-rimmed cities of the midwestern states,we will rise from the sunbaked southWe will rebuild, reconcile and recoverand every known nook of our nation andevery corner called our country,our people diverse and beautiful will emerge,battered and beautifulWhen day comes we step out of the shade,aflame and unafraidThe new dawn blooms as we free itFor there is always light,if only we’re brave enough to see itIf only we’re brave enough to be it

Rui Matos By Rui Matos

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