Com a estreia da segunda temporada do fenómeno televisivo da HBO, Alix Friedberg, responsável pelo guarda-roupa de Big Little Lies, oferece-nos um preview de alguns dos melhores momentos de estilo e das pistas que merecem a nossa atenção.
Com a estreia da segunda temporada do fenómeno televisivo da HBO, Alix Friedberg, responsável pelo guarda-roupa de Big Little Lies, oferece-nos um preview de alguns dos melhores momentos de estilo e das pistas que merecem a nossa atenção.
Alix Friedberg não é estranha aos géneros de mistério e crime. A responsável pelo guarda-roupa de hits da HBO como True Detective e Sharp Objects recebeu um Emmy em 2017 pelo seu trabalho na primeira temporada de Big Little Lies. A adaptação televisiva do bestseller de Liane Moriarty atingiu o estatuto de fenómeno global – para além de ter levado para casa quatro Golden Globes e de ter transformado a cidade californiana de Monterey num destino de férias, a série tem vindo a causar uma verdadeira febre de inveja imobiliária.
A par com tudo isto, gerou artigos incontáveis sobre as tribos de estilo de Big Little Lies, num testemunho do trabalho incansável de Friedberg em vestir as cinco personagens principais da série: a preppy perfecionista Madeline (interpretada por Reese Witherspoon), a elegante Celeste (interpretada por Nicole Kidman), a poderosa CEO Renata (interpretada por Laura Dern), a boho Bonnie (interpretada por Zoë Kravitz) e a casual Jane (interpretada por Shailene Woodley). Mas, com o regresso da série ao pequeno ecrã para a sua segunda temporada, como é que se supera um guarda-roupa que já é perfeito?
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Para Friedberg, a resposta é simples: se a primeira temporada estabeleceu as personagens e os seus looks distintos, a segunda será dedicada a desvenda-las. “Já estabelecemos a silhueta e a paleta cromática de cada uma destas mulheres”, explica à Vogue, “mas, nesta temporada, muita coisa mudou. Algumas personagens não estão a conseguir lidar bem com aquilo que aconteceu, enquanto outras estão a conseguir superar na perfeição. Tentámos refletir esta jornada emocional através do guarda-roupa de cada uma delas.” Esta tentativa é notoriamente visível em Celeste, a antiga advogada e mãe de dois que ainda está a tentar lidar com as consequências da morte do seu marido abusivo, Perry.
“O look da Celeste foi sempre composto por tecidos luxuosos e designs clássicos”, diz Friedberg sobre as peças neutras de Chloé, Max Mara e The Row usadas na primeira temporada, cuidadosamente pensadas para esconder as feridas por debaixo de camisolas com golas-altas e cachecóis confortáveis. Agora, livre do trauma que o seu casamento causou, Celeste sente-se conflituosa e culpada. O primeiro episódio da nova temporada, intitulado “What Have They Done?”, marca um afastamento da estética polida de Celeste. “Ela está a lutar contra o sofrimento”, explica a responsável do guarda-roupa. “O visual dela não é tão effortless como na primeira temporada, e os seus mecanismos de sobrevivência estão a vir ao de cima.” Apesar das peças high-end serem uma parte crucial do guarda-roupa de Celeste, a segunda temporada vê a personagem usar t-shirts e malhas suaves. “Às vezes, vemos Celeste a vestir t-shirts ou sweatshirts antigas do Perry – peças que ainda têm o cheiro dele -, e isso é mais uma forma de expressar a sua dor”, acrescenra Friedberg.
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Outra personagem que está a sentir dificuldades em lidar com a morte de Perry é Bonnie, a instrutora de yoga com espírito livre, que se sente inteiramente responsável pelo incidente. Incorporando caftans fluídos, peças de desporto justas, joias turquesa e vestidos slip, o guarda-roupa de Bonnie foi um dos pontos altos da primeira temporada. “A vibe dela é boémia, leve e com padrões”, diz Friedberg, fazendo referência a marcas como Anthropologie e Free People. “Mas, nesta nova temporada, ela sente que tem que carregar o fardo da morte do Perry e o seu espírito está, por consequência, mais negro.” Ao invés dos seus robes drapeados e livres e dos seus longos vestidos vintage, o look de Bonnie torna-se mais protetor à medida que a personagem se encobre em camisolas geométricas e blazers que escondem a sua figura.
Já Jane encontra-se no espectro oposto. “Nos primeiros episódios, ela estava a sentir-se consciente do seu corpo e, deliberadamente, usava roupas sem forma porque queria ser invisível”, explica Friedberg. “Nesta temporada, voltamos a ver a luz nos olhos dela. Ela tem um novo emprego no Monterey Bay Aquarium, mudou-se para mais perto do oceano, e adotou este estilo mais vintage e californiano, com uma vibe de surfista. Ela ainda usa muitas peças recicladas, sustentáveis e vintage, mas conseguimos ver a pele e a silhueta dela. Há um novo senso de confiança.”
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Duas personagens a quem não falta confiança são Madeline e Renata. Na segunda temporada, ambas lidam com crises pessoais ao amplificarem o seu estilo. A dona de casa e mãe Madeline tem um novo emprego como agente imobiliária e está a esconder o verdadeiro motivo da morte de Perry, bem como o seu caso amoroso com Joseph, o diretor do teatro comunitário. “Ela adora cores garridas, padrões e silhuetas femininas”, diz Friedberg. “Aquele look perfeitamente construído da Madeline é uma máscara para aquilo que está a acontecer na vida pessoal dela. O casamento dela está a desabar e a filha dela está a ir por caminhos complicados.” A responsável pelo guarda-roupa contou com muitas das marcas que usou na primeira temporada – Dolce & Gabbana, Red Valentino, Zara – e incluiu alguns pormenores como uma carteira Prada em rosa. “A Madeline mistura marcas de luxo com marcas de fast-fashion”, acrescenta. “Não precisa de estar ao nível da Renata no que diz respeito a Moda.”
O guarda-roupa desta última é o mais glamoroso do grupo, sendo composto por macacões de Stella McCartney e vestidos de Azzedine Alaïa. “Elevei muito as coisas com a Renata”, diz Friedberg, referindo-se à cena da segunda temporada em que a CEO usa um vestido de noite comprido para uma sessão fotográfica na sua própria casa. “Ela sempre foi estruturada e rígida, mas agora está ainda mais exagerada. Ela depende da roupa para se sentir mais poderosa.” O sentimento intensifica-se na reta final da temporada, quando o seu poder é ameaçado. “Ela trabalhou muito para ter aquilo que tem”, acrescenta a responsável pelo guarda-roupa. “Por isso, quando está em maus lençóis, a Renata agarra-se desesperadamente às suas posses materiais. Ela é forte e determinada em não mostrar aquilo que se passa com ela, mas, com o passar do tempo, há um certo desespero na forma como ela se veste.”
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Apesar de vestir as Monterey Five ser uma segunda natureza para Friedberg, a segunda temporada trouxe um desafio único: vestir o novo elemento da série, Meryl Streep, que integra o elenco no papel de Mary Louise, a mãe de Perry que chega a Monterey para resolver o mistério da morte do filho. “Tem sido um dos pontos altos da minha carreira”, diz a responsável de guarda-roupa. “Para vestirmos a personagem de Mary Louise, o processo foi pensar que ela está a lidar com a sua própria dor, e que essa dor se devia manifestar nas suas roupas. Ela tem um uniforme, e esse uniforme é muito correto, muito à medida, muito caro – loafers belgas, camisas feitas em França, um lenço da Hermès. São peças lindíssimas, mas de certa forma incolores porque ela não quer chamar a atenção. E aquele sobretudo bege que ela usa? É quase como se de um detetive se tratasse.”
Mary Louise está à procura de pistas sobre a noite em que Perry morreu – a noite da angariação de fundos temática de Otter Bay, que nos deu alguns dos coordenados mais emblemáticos da série até hoje. Existe algo de novo nesta segunda temporada que consiga competir com isso? “Temos um episódio em que a Reneta organiza uma festa com o tema disco”, diz Friedberg, fazendo referência a uma cena que aparece brevemente no trailer. “Ela e a filha têm disfarces iguais e estão fantásticas – o coordenado é tão Renata e tão divertido. É o meu coordenado favorito e, definitivamente, um dos que vejo como mais antecipados.”