Ninguém sabe o que ele diz. Só os búzios – porque os búzios sabem de tudo e mantém-se no silêncio até alguém os encostar ao ouvido. Será que está preparado para ouvir o que têm a dizer?
Ninguém sabe o que ele diz. Só os búzios – porque os búzios sabem de tudo e mantém-se no silêncio até alguém os encostar ao ouvido. Será que está preparado para ouvir o que têm a dizer?
@Condé Nast Archive
Como é que vou escrever sobre uma consulta de búzios que em menos de 24 horas alterou a minha vida, sem entrar em pormenores? Vão ter de confiar na minha palavra. São 1h35 da manhã e não consigo dormir. Sinto o coração a palpitar-me no pescoço e estou deitada, mas a minha boca insiste em esboçar um sorriso. O que ouvi hoje, o que aprendi hoje, as “janelinhas” que os búzios abriram, como lhes chama Maria Silva, já começaram a dar frutos. Não fui para a minha consulta de búzios com uma mão cheia de perguntas, nem tão pouco uma vontade incessante de saber o futuro. Na verdade, e para variar um bocadinho, fui sem expectativas – e talvez tenha sido por isso que correu tão bem. Talvez também tenha sido por isso que esta consulta foi desmarcada quatro vezes. Talvez também tenha sido por isso que este tema foi lançado para a mesa na reunião de redação da edição da Vogue de junho. Há uma mão cheia de razões e outra cheia de pequenos nadas. Os céticos revirarão os olhos, mas também já ouvi dizer que não existem céticos – apenas pessoas com medo. E sim, o autoconhecimento pode ser das coisas mais assustadoras (e desafiantes) à face da terra.
Uma consulta de búzios é tudo o que já imaginámos e zero do que imaginámos ao mesmo tempo. Não participará em nenhum ritual estranho, não lhe vão pedir que diga o que quer que seja, nem estará rodeada de velas e incensos e todos essas coisas que compramos na Natura. Não ouvirá música ambiente, nem verá fumo a sair da cabeça da pessoa que lhe lança os búzios. É tudo diferente, e único, mas também é estranhamente familiar. É-lhe pedido para se sentar, descalçar e encontrar uma posição confortável. Através do seu nome, a curandeira lançará os búzios, que podem responder a perguntas específicas ou fazer uma leitura mais geral. Começámos pela segunda opção e não me perguntem como mas ‘aqueles búzios’ estavam dentro da minha cabeça, da minha vida, dos meus receios e fragilidades. Fui ali descrita como nunca o tinha sido, ‘aqueles búzios’ disseram-me coisas que demorei uma vida inteira a perceber (ou um ano de terapia, não querendo entrar em comparações, claro). Até aqui, ‘os búzios’ não me tinham dito nenhuma novidade – mas serviram de chamada de atenção para aqueles problemas que insistimos em empurrar para debaixo do tapete. Como Maria Silva diz, aquilo que ‘os búzios’ nos transmitem não deve ser lido como uma fatalidade do destino, mas antes orientações, sugestões, que podemos optar por aceitar ou não. No meu caso, foi um momento introspetivo, redentor e extremamente sincero. Mas não acabou aí. Até porque nessa altura começaram a surgir as perguntas. As verdadeiras perguntas, que eu sabia que tinha, mas que receava fazê-las em voz alta. Não vos posso dizer o que foi dito – mas posso contar que mudou a minha vida. Sim, assim. Horas depois, estava a falar com uma das pessoas mais importantes da minha família sobre um assunto que até então era um ‘elefante na sala’ – pude ouvi-la falar, desabafar, libertar-se de um peso que há muito lhe caia em cima. Reconectámo-nos. E só assim poderia reconectar-me comigo mesma. E isto foi um resumo muito resumido. Mas ficam com a ideia.
Não sei se todas as consultas de búzios terminam (ou começam?) desta forma. Suponho que cada um terá a sua própria experiência, pessoal e intransmissível. Por isso, a única coisa que quero expressar neste texto é que mais importante do que os búzios, a astrologia, a numerologia, e por aí fora – mais importante do que isso tudo, é conhecermo-nos a nós próprios. Perdermos tempo a ouvir-nos e estarmos dispostos a viver as repercussões da nossa estadia na terra. Riam-se, riam-se, que não me importo. Hoje acordei feliz. Já encostou um búzio frívolo ao ouvido na esperança de sentir o mar? Para a próxima, vá até à praia, descalce os sapatos, desligue o telemóvel e oiça alto e bom som o mar a enrolar na areia. Vai ver que vai saber e-xa-ta-men-te o que ele diz.
Contacto: Maria Silva m.silva200415@gmail.com