Beleza  

Será que o cabelo retém traumas? A explicação psicológica do porquê de um corte de cabelo ser transformador após o fim de uma relação

18 Feb 2025
By Irene Coltrinari

WWD/Getty Images

Não há provas científicas mas, de acordo com a psicologia, o corte radical pode realmente ajudar a esquecer o passado.

Será que o cabelo retém traumas? Cientificamente, não, mas eis porque é que, psicologicamente, um corte de cabelo radical pode realmente ajudar a esquecer o passado.

Se o corte bob foi o estilo mais popular do ano passado e o loiro de Gabbriette uma das tendências de cor de cabelo para 2024, há uma razão para isso. São escolhas radicais que rompem com o passado. A ideia de que um corte de cabelo significa também o fim da própria imagem é um cliché antigo que regressou recentemente ao TikTok através de milhares de vídeos que mostram o antes e o depois de cortes de cabelo drásticos. Todos estes vídeos contêm a descrição "o cabelo preserva as memórias", significando a atitude que representa livrarmo-nos do comprimento do cabelo. No entanto, nesta profusão de conteúdos, encontram-se vídeos muito mais sombrios, nos quais os criadores discutem se o cabelo conserva ou não vestígios dos traumas (e não apenas memórias) vividos por uma pessoa. É possível? Sim, se tivermos em conta que a duração de vida de um cabelo varia entre dois a sete anos e que, através da análise tricológica, é possível rastrear o ADN de uma pessoa graças às proteínas do cabelo, um verdadeiro bilhete de identidade biológico capaz de identificar qualquer indivíduo, segundo o Helvetic Sanders Institute.

É daqui que vem a cultura do corte de cabelo pós separação, como forma de nos libertarmos de uma versão passada de nós próprios e abandonar o passado - um pouco como Gwyneth Paltrow em Sliding Doors, um filme de 1988, que segue a atriz entre capítulos românticos, mudando de parceiro e de corte de cabelo, experimentando novas versões de si própria. Cientificamente, o cabelo não tem a capacidade biológica de armazenar emoções ou memórias, embora psicologicamente tenha.

Gabbriette
Andreas Rentz/Getty Images for Gucci

@hairbyandiej_

Cut that energy out baby girl #breakup #haircut

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Simbologia do cabelo comprido

A ideia de que os fios de cabelo armazenam informações e, por conseguinte, podem também "reter" os resíduos de um trauma – termo utilizado para identificar a perturbação do estado psíquico resultante de experiências e acontecimentos tristes, dolorosos, negativos, perturbadores e desorientadores – está ligada ao conceito de vida vivida com eles. De facto, a queda de cabelo, o aparecimento dos primeiros fios brancos ou o aparecimento da calvície em casos mais extremos, é sempre um sintoma de uma mudança física que deve ser acompanhada. Relembremos que ter cabelos compridos, em diferentes tradições e crenças, era considerado espiritualmente importante para ter a sua própria história. Muitos povos nativos americanos consideravam que o cabelo estava espiritualmente ligado à terra e, por isso, preferiam mantê-lo comprido. Na Idade Média, nunca era cortado e era considerado um símbolo de poder, tal como a barba, usada pelos imperadores e monarcas para representar estatuto e virilidade, enquanto um corte de cabelo radical era reservado como tratamento punitivo para os derrotados de guerra. O cabelo curto, tal como o corte de cabelo "à rapaz", era considerado ridículo. Na Bíblia, na primeira carta de S. Paulo aos Coríntios, esta ligação binária entre o comprimento do cabelo e o género é reforçada: "Não ensina a própria natureza que, se um homem tem cabelo comprido, é uma vergonha para ele? Mas se uma mulher tem cabelo comprido, é uma glória para ela". A partir deste contexto, o olhar masculino atual desenvolveu a sua preferência pelo cabelo comprido, prolongando a imagem da mulher angélica até ao presente, o que resultou numa necessidade de reagir a essa imagem, especialmente quando esta escapa à aprovação masculina.

O fenómeno do corte de cabelo pós separação

Foi Coco Chanel quem disse: "Uma mulher que corta o cabelo está prestes a mudar a sua vida", tornando o ato de cortar o cabelo diretamente proporcional a uma perturbação emocional. Um corte de cabelo não tem de ser um sinal de agitação interior, mas as mulheres, em particular, estão habituadas a ver-se retratadas em filmes e séries televisivas como personagens que cortam o cabelo para ultrapassar momentos difíceis. Em suma, o culto do corte radical após o fim de uma relação ou a superação de um trauma tornou-se um fenómeno geracional, tal como a franja depois de uma separação. A psicóloga nova-iorquina Catherine Nobile explica porquê: "Cortar drasticamente o cabelo pode ter efeitos psicológicos, quer como decisão isolada, quer na sequência de uma experiência traumática. Isto porque o cabelo é um elemento crucial da identidade de uma pessoa e pode ser percepcionado como tal, o que significa que uma mudança significativa pode ser uma poderosa forma de terapia", explica. Britney Spears, em 2007, é o melhor exemplo a citar, embora no caso da estrela pop americana o problema não fosse apenas Justin Timberlake. O fenómeno do corte de cabelo pós-namoro também já viu as estrelas Selena Gomez depois da separação com Justin Bieber, Ana de Armas depois da separação com Ben Affleck, Rihanna pós Chris Brown, entre muitas outras. No TikTok, como é óbvio, o hashtag #breakuphaircut está repleto de dicas e de mulheres que se incentivam mutuamente a cortar o cabelo para iniciar um novo capítulo nas suas vidas. Isto também é confirmado pela editora de beleza responsável por este artigo, que, no entretanto, decidiu cortar muitos meses depois da separação efetiva - talvez, precisamente, porque não estava pronta para se livrar da versão de si própria que tinha com o cabelo comprido.

A conclusão do ponto de vista psicológico

"Cientificamente, não há provas que o cabelo contém fisicamente memórias ou traumas", explica o terapeuta Jeff Yoo. A terapeuta Laci James concorda e acrescenta: "Sabemos que os traumas são fortemente armazenados nos nossos corpos, particularmente no cérebro e no sistema nervoso, [mas] não há investigação que diga que o cabelo armazena especificamente memórias ou traumas." De um ponto de vista psicológico, portanto, o cabelo pode representar uma versão de si próprio que viveu traumas passados apenas simbolicamente, porque é um aspeto visível da identidade e qualquer mudança associada a ele, como um corte radical, ou uma mudança sensível de cor, pode refletir exteriormente mudanças emocionais internas. Isto não significa que o cabelo contenha fisicamente o trauma, mas que os nossos estados emocionais, incluindo o trauma, podem influenciar a perceção e o tratamento do cabelo.

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Traduzido do original, disponível aqui.

Irene Coltrinari By Irene Coltrinari

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