Fomos a Milão descobrir a coleção outono/inverno 2023 da marca e, por lá, cruzámo-nos com algumas caras conhecidas.
O despertador toca e são quatro da manhã. Sou, possivelmente, uma das pessoas menos matinais deste mundo, mas o inexorável cenário de acordar cedíssimo torna-se mais ligeiro quando sei que me espera uma viagem à capital da moda italiana. Com uma mala de cabine possivelmente acima do peso permitido e repleta de coisas que, com toda a certeza, não iria precisar, rumei a Milão para conhecer a nova coleção da Falconeri.
Foi sob o conceito “Il Viaggio del nostro Cashmere” (A Viagem da Nossa Caxemira) que a Falconeri encheu os arredores da cidade. O desfile da marca italiana levou-nos a conhecer a verdadeira essência da caxemira num evento repleto de metáforas pensadas para ilustrar a jornada desta fibra, desde a sua procura e processos de fabrico, até chegar, finalmente, aos rolos de fio. O desfile teve lugar no emblemático espaço Fonderia Macchi e foi o que se pode chamar de experiência imersiva, não fazendo uso deste termo em vão.
Sob a luz ténue das lanternas (também elas cobertas em caxemira), esta viagem começou com a fibra dentro de pequenos sacos de juta, seguindo-se uma jornada pelos sentidos através das fragrâncias Falconeri e paleta de cores da coleção desenhada pelos diretores criativos da marca, Giulia Sartini e Pierangelo Fenzi. Nas palavras de Giulia Sartini, com quem tivemos a oportunidade de conversar, estas propostas acrescentam “novas nuances à narrativa de moda da marca”, sendo o caráter da Falconeri “representado por uma coleção selvagem e ousada, capaz de equilibrar uma identidade de estilo intemporal, métodos de produção inovadores e o caraterístico artesanato italiano”.
É na Mongólia que a marca encontra as melhores fibras de caxemira, permitindo criar a Falconeri Superior Cashmere com a penugem mais fina e delicada das cabras Hircus. Depois, a caxemira ao natural é transportada de avião para Biella, em Itália, para ser fiada e terminar a sua viagem em Avio, sede da fábrica Falconeri, onde a bobina de fio começa a transformar-se numa peça de vestuário. Estas peças denotam uma clara elegância intemporal que é criada, nas palavras da diretora criativa, combinando os elementos tendência que complementam a identidade da marca, com uma atenção inegável à “qualidade e ao trabalho artesanal”. A chave, para Giulia Sartini, é garantir que qualquer tendência adotada “realça, em vez de se sobrepor, à estética de assinatura, resultando numa mistura perfeita de tradição e modernidade.” Com as propostas para a coleção de outono/inverno, a Falconeri abraça o “quiet luxury”, uma “nova forma de encarar o luxo, em que a sofisticação e a subtileza têm precedência sobre as exibições excessivas de riqueza.” O objetivo principal será sempre refletir “a procura de qualidade, o design intemporal e a atenção aos detalhes”, que ganha ainda mais valor num mundo inundado de “ostentação excessiva”, soma, fazendo a “beleza simples e autêntica, sem limites temporais”, brilhar.
Ainda que tenha sido uma coleção sóbria, as opiniões foram unânimes: houve, sem dúvida, espaço para a inovação. Conta-nos Raquel Strada que “foi mesmo inesperado porque havia uma componente musical e de dança, que não é habitual porque num desfile estamos habituados que a música marque o passo dos manequins, mas aqui sentiu-se uma grande capacidade de inovar [...] queriam marcar pela diferença e isso nota-se, até mesmo no sítio escolhido e no facto de terem posto caxemira a rodear os candeeiros. Conseguiram modificar um sítio que seria possivelmente muito frio e tornaram-no apelativo.” Quanto ao styling, este foi para Raquel Strada e Luísa Beirão um dos pontos altos da noite, destacando uma saia feita com um cachecol e presa com um alfinete de dama, a mostrar de que forma podemos reinterpretar estas peças. Um apontamento que, como refere Luísa Beirão, serviu para reforçar o caráter “arrojado, inovador e estilizado” do desfile que tínhamos acabado de ver. De facto, acrescenta que “ há quem tenha a perceção que a Falconeri é uma marca conservadora e para determinada faixa etária, mas conseguiram demonstrar o oposto, dinamizando vários tipos de peças e provocando o inesperado com um show inovador”.
Perante dois dos maiores ícones de estilo portugueses, a pergunta óbvia surge: existe uma fórmula de estilo que sigam para este tipo de eventos? Ambas confessam que não, que é algo intrínseco, mas Raquel põe a questão de uma forma muito mais bonita: “eu sempre achei que a roupa era uma forma de homenagearmos as pessoas que nos convidam, quando pões algum tipo de esforço é uma forma de dizeres ‘quero estar bonita para ti já que tiveste esta iniciativa, quero tentar ir e de alguma forma homenagear isso’, e a forma como nos apresentamos imprime esse cuidado.”
O que aconteceu depois do desfile ficará em off the record, mas posso cometer uma inconfidência. A noite milanesa terminou, precisamente, como qualquer noite italiana deveria terminar: com pasta e vino.
A atuação que deu início ao desfile.
As figuras nacionais presentes no evento: Francisca e Ricardo Pereira, Sara Salgado, Luísa Beirão, Raquel Strada e Maria João Bastos.
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