Se a Chanel não vai até Capri, Capri vem até à Chanel.
Se a Chanel não vai até Capri, Capri vem até à Chanel.
A Moda sempre teve e continua a ter o papel de refletir a frivolidade dos tempos que vivemos. Estivemos quase dois meses em casa, restringidos às quatro paredes a que chamamos de lar. Aqueles metros quadrados foram o nosso escritório, o nosso ginásio, o nosso espaço de lazer. E tudo aquilo que nos restava era sonhar. Sonhar com um mundo pré-coronavírus, pré-pandemia e pré tudo aquilo que estávamos habituados a viver. Aos poucos voltamos a ter a nossa liberdade de volta. Não podemos ir a Saint-Tropez, a Cannes ou a Capri, mas podemos contar com a Chanel para nos levar até à Côte d’Azur - ainda que em pensamento.
Nas últimas três décadas a Maison francesa sempre fez questão em preparar um espetáculo - parece-nos redutor chamar-lhe simplesmente desfile - para apresentar uma coleção. Se no ready-to-wear e na Alta-Costura, o Grand Palais sempre foi palco destes eventos, para as coleções Cruise, as cidades de Cuba, Veneza e Dubai já serviram de cenário. Em 2020, seria a vez de Capri receber de braços abertos a entourage Chanel. E não lhe precisamos de explicar o porquê desta coleção ter sido apresentada hoje virtualmente.
“Inicialmente eu tinha Capri na minha mente, onde era para acontecer o desfile”, começou por escrever Viard. “Tivemos que nos adaptar. Não só decidimos usar materiais que já tínhamos, como a própria coleção emergiu muito para uma viagem no Mediterrâneo.” As ilhas, os tons rosas das bougainvilleas, o aroma dos eucaliptos no ar e o filme Le Mépris de Jean-Luc Godard serviram de ponto de partida para uma coleção leve, com uma alfaiataria mais suave e com peças que combinam entre si. “Atualizámos algumas roupas que estavam nas boutiques - dois ou três casacos que estavam na coleção Cruise anterior, que, aqui, os mostramos com calças”, confessou Virginie Viard em entrevista à Vogue.
Balade en Méditerranée (Um Passeio pelo Mediterrâneo, em português) não é só uma ode às férias que tanto ansiamos, é também uma carta de amor à Nouvelle Vague do cinema francês e às suas musas, um tema amplamente explorado pela designer francesa nas suas coleções. E para recriar os cenários idílicos da Riviera Francesa, os estúdios da Maison francesa, no emblemático número 31 da Rue Cambon, transformaram-se em Capri com direito a um pôr do sol digno de uma golden hour IRL.
O mundo está a mudar e a Moda vai acompanhar estas mudanças. A Semana de Moda de Londres vai acontecer em formato digital, entre os dias 12 e 14 de junho, assim como a Semana de Moda de Alta-Costura. Este foi o primeiro lançamento digital depois de uma vida interrompida que começa a agora a dar os primeiros passos. As reviews não se fizeram esperar. Para a crítica de Moda do The New York Times, Vanessa Friedman, a Chanel não precisava de apresentar esta coleção: “Em primeiro lugar, a marca não precisava de ter feito isto. Poderia ter saltado esta estação, c como muitos outros. Ou simplesmente enviar as fotografias para as suas lojas. Em vez disso, optou por manter a sua versão do desfile como uma declaração pública de intenção e estética.” Mas os clientes e os (muitos) admiradores da Maison decerto gostarão de conhecer, em primeira mão, as novas propostas de Viard, principalmente após tantas semanas sem acesso direto às ultra-desejadas peças Chanel.
É muito provável que, em 2020, não se realizem mais desfiles - e quem numa primeira fase, este tipo de apresentações passe a ser a norma. A Chanel foi a primeira grande marca a apostar no lançamento destes virtual shows. Groundbreaking ou não, a verdade é que nos deixamos envolver nesta carta de amor às férias de verão e aos dias de puro dolce far niente, que são sempre melhores com um guarda-roupa que cabe num trolley. Deixemos os ball gowns para outras ocasiões e continuemos a sonhar.