Christian Louboutin: "Eu adoro azulejos."

...e cogumelos, adora também cogumelos, e adora falar de cogumelos - em português. Mas não falámos só disso quando nos encontrámos com Christian Louboutin na sua casa em Lisboa.

É pelas ruelas e labirintos que serpenteiam em direção ao Castelo de S. Jorge que se chega ao lar, doce lar lisboeta de Christian Louboutin, mas uma vez entrando no palacete com uma decoração que denuncia as suas viagens um pouco por todo o mundo, a azáfama de um dos pontos turísticos mais intensos de Lisboa é abafado para descobrir que está na capital portuguesa apenas pela invejável vista sobre o rio Tejo que se impõe do terraço nas traseiras do edifício. E pelos azulejos que se destacam na sala onde nos sentamos para falar com o designer, claro. Adora-os. Foi também por isso que quis, de alguma forma, incorporá-los no seu saco Portugaba, que chegou às lojas e online em maio deste ano e que esgotou em tempo recorde.

A it bag é uma homenagem ao que de melhor se faz em termos de artesanato nacional e Christian trabalhou de perto com profissionais um pouco por todo o pais, para colocar diferentes veias da tradição num design que pulsa em português, ainda que a etiqueta seja francesa. Porquê este tributo? Porque a ligação de Louboutin a Portugal não é nova, mas é cada vez mais estreita: umas férias na Comporta em jovem serviram de rastilho para uma casa em Melides, onde também está a construir um hotel, e uma morada em Lisboa, locais onde não só relaxa como desenha as suas coleções de outono/inverno, como nos contou para a edição de junho 2019, numa entrevista mais alargada que pode ler aqui.

Só que ler Christian Louboutin não é o mesmo que ouvir Christian Louboutin. Porque quando o mestre das solas vermelha fala, a sala inteira presta atenção: porque dialoga com honestidade, sem tabus, franco, sem filtros, mas nunca desrespeituoso. É sincero em cada consoante e vogal, como nunca se consegue veicular em caracteres, e tem um humor acutilante que o acompanha e que é atípico para um homem de negócios de sucesso como ele o é. Ouvir Christian Louboutin é colocar uma voz doce na autoridade dos saltos altos e perceber que os êxitos de um criador de sapatos com o seu gabarito só é exponenciado pela humildade de alguém que gosta das coisas boas da vida - de um bom coelho numa tasca lisboeta, de um jantar num bom restaurante recôndito numa vila portuguesa, de ir comer cogumelos não muito longe desta casa onde nos encontramos.

É verdade que tem privilégios - gosta de colecionar artefactos e obras que depois acabam, com alguma esquizofrenia decorativa harmoniosa, nas suas casas -, mas são das coisas simples da vida que retira grande prazer, como uma boa conversa. E desta boa conversa, saímos nós também privilegiados.