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Cinema: Homem-Aranha: Regresso a Casa

06 Jul 2017
By Catarina D'Oliveira

Facilmente o melhor Homem-Aranha da década, Regresso a Casa é o teen movie que veio comprovar que a Marvel Studios ainda consegue surpreender.

Facilmente o melhor Homem-Aranha da década, Regresso a Casa é o teen movieque veio comprovar que a Marvel Studios ainda consegue surpreender. 

A história já é bem conhecida: no final dos anos 90 e bem antes da Marvel Studios existir, a Marvel Comics vendeu os direitos de reprodução cinematográfica de Homem-Aranha à Sony Pictures, dando origem à trilogia original de Sam Raimi (protagonizada por Tobey Maguire) e ao malfadado (e incompleto) reboot que mais tarde contou com Andrew Garfield no principal papel. 

Quase 20 anos depois e com muitas batalhas legais pelo meio, o novo Homem-Aranha é o filho da contemporaneidade cuja custódia se divide atualmente entre a Sony e a Disney (detentora da Marvel Studios): e assim nasce o primeiro Spideycompletamente ambientado ao crescente Multiverso Marvel que deu um primeiro gostinho das suas reais habilidades em Capitão América: Guerra Civil (2016) e que tem em Regresso a Casa a primeira aventura a solo para provar o que vale.

Entusiasmado com a sua recente experiência com os Vingadores, Peter regressa a casa, onde vive com a tia May, sob o olhar vigilante no seu novo mentor, Tony Stark. Peter procura reintegrar-se na sua rotina diária, mas permanece focado no objetivo de provar a Stark que não é apenas o super-herói simpático que vive nas redondezas. Quando uma nova ameaça paira sobre Nova Iorque e tudo o que é mais importante para Peter fica ameaçado, o Homem-Aranha terá a sua oportunidade de fazer a coisa certa... se conseguir. É que mesmo com a alta tecnologia fornecida por Homem de Ferro, ele ainda não é exatamente um super-herói exemplar, tropeçando em trapalhadas não forçadas que acabam por ofuscar sempre o seu desejo maior de ser verdadeiramente útil.

Comecemos pelo óbvio: Homem Aranha: Regresso a Casa está longe de ser perfeito – os efeitos visuais que ficaram do lado da Marvel Studios pela primeira vez na história são, como esperado, impressionantes, mas a inexperiência do realizador indie Jon Watts numa produção deste arcaboiço faz-se notar particularmente na estruturação das cenas de ação que em vários momentos se tornam confusas, difíceis de acompanhar ou simplesmente pouco estimulantes. De um modo geral, o trabalho do realizador é competente, mas não particularmente memorável – os momentos altos surgem nas sequências mais meta. Ainda assim é, sem sombra de dúvidas, a melhor rendição do mais icónico personagem da Marvel, pelo menos desde Homem-Aranha 2 e, ao captar a natureza essencial do personagem, torna-se o "teen movie" que a Marvel (nem sabia que) precisava, com direito a hierarquização da beleza de Thor e Homem-Aranha e vídeos escolares de formação do Capitão América. No fundo, é como se a gigante do entretenimento tivesse realizado o seu próprio filme de John Hughes.

De facto, este Homem-Aranha é, talvez, o menos espetacular de todos – enquanto anteriormente nos habituamos a vê-lo balançar-se expressivamente por Nova Iorque, aqui torcemo-nos na cadeira ao vê-lo a destruir desastradamente jardins inteiros enquanto persegue os maus da fita e quando tem um orgasmo nerdperante uma intrincada peça de Star Wars em LEGO – e essa vulnerabilidade inequivocamente humana que joga como o seu grande trunfo.

Até ver, 2017 foi o ano mais intimista da Marvel. Para as suas duas estreias do ano – Guardiões da Galáxia Vol. 2 e Homem-Aranha: Regresso A Casa – guardou-se alguma ausência de relação direta com o Universo Cinematográfico até aqui criado, e ganhou-se na aposta em histórias que, não sendo de origem, tentam expandir consideravelmente o pathos de alguns dos seus mais adorados heróis. No caso de Homem-Aranha: Regresso a Casa, este oferece um muito bem-vindo estreitamento narrativo, afastando-se das temíveis invasões alienígenas e dos vilões megalómanos para se focar numa narrativa mais familiar e local.

É também realmente significativo que o vilão de serviço (um competente Michael Keaton numa incursão a fazer lembrar um alter-ego malvado de Birdman) não caia nas armadilhas narrativas do costume, sucumbido ao desejo acalentado e tantas vezes tão pobremente justificado de controlar o mundo porque sim. Neste caso, as ambições são mais terrenas e, automaticamente, conferem-lhe muito mais dimensão – um pai que procura cuidar da sua família, mas cuja bússola moral já esteve mais inclinada para norte.

Tobey Maguire e Andrew Garfield foram excelentes no seu direito, mas independentemente dos gostos, Tom Holland é fisicamente o Homem-Aranha mais próximo do original da banda-desenhada que já tivemos oportunidade de ver no grande ecrã. As feições jovens do ator de 20 anos permitem-lhe enquadrar-se perfeitamente no ambiente da Escola Secundária, e as habilidades acrobáticas que tinha desenvolvido mesmo antes de ser escolhido para o papel – basta fazer scrollpela sua conta de Instagram e segurar bem o queixo - conferem-lhe uma fisicalidade e atleticismo que se sentem tremendamente orgânicos. Além disso, Holland confere a Peter Parker a imaturidade, jovialidade e vulnerabilidade que sempre lhe associamos tornando este um retrato atraente e com um charme juvenil que vamos querer revisitar muitas vezes no futuro próximo do Universo da Marvel.

Felizmente a participação de Robert Downey Jr. não é tão intrusiva como algum do material promocional fez pensar funcionando o seu Homem de Ferro mais como uma espécie de mentor à distância. Devemos ainda uma palavra de apreço que não deverá ficar por dar à Sony/Disney pelo casting diversificado que deu cor ao elenco secundário, sobretudo no ambiente escolar de Parker onde a multiplicidade de origens das personagens as torna instantaneamente mais estimulantes.

Optando por explorar a narrativa de um adolescente que se debate com as quezílias habituais do choque de hormonas da juventude e, simultaneamente, tem de aprender a controlar poderes com os quais ainda não está totalmente familiarizado, o novo Homem-Aranha é mais um passo em frente na construção do império cinematográfico da Marvel Studios e um "regresso a casa" para um dos super-heróis mais icónicos da história. 

Catarina D'Oliveira By Catarina D'Oliveira

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