Vania Leles já atravessou continentes, mas as suas jóias mostram que o seu coração está na sua terra natal.
Vania Leles já atravessou continentes, mas as suas jóias mostram que o seu coração está na sua terra natal.
©Instagram/@suzymenkesvogue
Quando Vania Leles atravessa o segundo-andar do seu estúdio em New Bond Street, Londes, passando pela sua coleção de joias com pedras coloridas, Enchanted Garden, pode olhar para além da janela que foi o começo da sua carreira: Graff Diamonds, onde trabalhou três anos com o fundador, o joalheiro Laurence Graff.
“Foi o meu primeiro emprego de sempre – enviei ao Sr. Graff o meu currículo 15 vezes até conseguir uma entrevista; depois tive uma segunda, uma terceira, e finalmente consegui o emprego”, conta a designer. “Tive muita sorte em fazer parte de uma empresa familiar como Graff Diamonds. Aprendi muito e consegui perceber as dinâmicas e os movimentos. A sabedoria é realmente passada para ti. O meu título oficial era House Gemologist. A minha função era organizar os diamantes e as pedras preciosas”.
Agora, Vania Leles deu um passo ainda maior desde a sua infância passada na Guiné-Bissau. Depois da escolaridade em Lisboa e dos trabalhos como modelo, estudou no Gemological Institute of America (GIA), em Nova Iorque, onde aprendeu a determinar as cores e a qualidade das pedras preciosas.
Os frutos de três anos estão literalmente à minha frente, à medida que olho para os brincos vívidos, alguns com dimensões 3D em forma de flor, possíveis de usar graças à determinação das eticamente extraídas flores de rubi de Moçambique com 70% de titânio e 30% de ouro. Também existem peças desenhadas como uma subtil homenagem a África, em forma de mapas abstratos, divididos por uma lasca que representa o rio Nilo.
“Quando me aventurei pelo mundo da joalharia, era modelo e vivia em Nova Iorque, mas não era feliz a fazer apenas isso, e queria mudar de carreira”, explica Vania. “Passava por jóias fantásticas, como Boucheron’s ou Tiffany’s, e sentia-me fascinada por elas, e foi isso que me levou a questionar sobre a indústria, a ler e a investigar mais sobre joalharia.”.
Vania descreve a aprendizagem sobre elegância e qualidade como um processo demorado. “Se nasces num país pequeno como a Guiné-Bissau, situado no oeste de África, e cresces em Lisboa, não estás exposta a este nível de luxo”, diz a designer. “Lembro-me quando me mudei para Londres aos 23 anos, e essa foi a primeira vez que tive uma carteira da Gucci e vi algumas amigas usarem Prada. Em Lisboa, usávamos Benetton e Zara – nessa idade, essas lojas representam o luxo para ti”.
Nos dias de hoje, a indústria em Lisboa tornou-se mais sofisticada – e o mesmo aconteceu com Vania. Em Londres, a designer organiza eventos privados para clientes reais e potenciais, especialmente na altura dos desfiles de alta-costura, quando as mulheres com poder de compra se encontram na cidade. Apesar de ter tido um filho em 2014, Vania viaja constantemente do Médio Oriente para os Estados Unidos da América.
Antes de criar o seu próprio projeto em 2011, cumpriu o seu tempo em Graff com De Beers, na altura copropriedade da LVMH, e depois na Sotheby’s em Geneva, onde trabalhou como client relationship manager.
À medida que Vania contemplava a ideia de começar o seu próprio negócio, percebeu que existiam duas temáticas sob as quais queria trabalhar: a lacuna de Casas de jó
ias Africanas e a necessidade de extração ética de pedras preciosas. A primeira verificação surgiu do facto de todas as grandes Casas de joalharia extraírem as suas pedras preciosas de África. “Mas, ainda assim, não havia uma única pessoa Africana à frente de uma Casa de joalharia”, relembra Vania. “Pensei ‘Uau! Nós temos todos estes recursos naturais, 54 países, centenas de culturas únicas – porque é que nós não estamos a negociar e a produzir?’”.
O outro problema representa o lado negro da indústria das pedras preciosas em África – o modo de tratamento dos trabalhadores em zonas controladas por forças rebeldes, que usam as pedras preciosas para a compra de armas num ciclo mortífero dado pelo nome de “diamantes de sangue”.
Vania contrariou o processo ao trabalhar apenas com fornecedores eticamente responsáveis, especialmente com a companhia de minas Gemfields. “Temos uma responsabilidade moral enquanto seres humanos, especialmente na Europa, para defender a mudança de comportamento dos mineiros: trabalho seguro, pagamento justo”, diz Vania. “Acredito que estas joias magnificas não devem começar no chão das lojas mas ao invés no início de todo o processo, nas minas. Essa é a minha verdadeira paixão.”
“Pessoalmente extraio pedras preciosas de forma ética”, explica Vania. “Faço perguntas que me deixem confortável e feliz para comprar. A essência é que a pedra é muito colorida, arrojada e diferente. Mas não tem que parecer Africana ou ética – tem que apelar à mulher moderna, de Barém a Nova Iorque, da Califórnia a Londres ou Paris. Mas a influência vem sempre de alguma forma ou de algum padrão ou paisagem que vi em África. Quando fiz uma coleção única com a Gemfields, tinha um mood board perfeito: a savana, a floresta, e o rio que corre por elas. Mas mantém a contemporaneidade”.
Quando digo a Vania que depois da Condé Nast International Luxury Conference, que acontece para a semana em Lisboa, iremos ter um seminário na África do Sul em 2019, pergunto-lhe se, deliberadamente, escolhe uma pedra preciosa de África ou uma que tenha sido extraída noutro ponto do globo.
“Estas belíssimas esmeraldas, com este tom de verde intenso que vê aqui são todas pedras preciosas da Zâmbia – e são tão bonitas quanto as esmeraldas vindas da Colômbia”, explica Vania, provando que, apesar do seu crescimento a nível internacional, quer colocar África sempre em primeiro lugar.
Vania Leles estará presente em conversa com Suzy Menkes na edição anual da Condé Nast International Luxury Conference em Lisboa, de 18 a 19 de abril. Para garantir o seu lugar, visite o site oficial da Conferência, em www.cniluxury.com/2018.
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