Dilone fotografada por Mario Kroes e com Styling de Sina Braetz para o The New Beginnings Issue da Vogue Portugal, publicado em setembro de 2021
Sempre pensei que meditar era apenas sentar-se quieto, estar absorvido em si próprio, desligado do mundo exterior. Mas a verdade é que poucas pessoas conseguem fazer isso sem uma preparação minuciosa. Contudo, a meditação, no verdadeiro sentido da palavra, não precisa de ser difícil – se aprender a fazê-la. E vai desenvolver o hábito de o fazer. Tal como eu.
Ouço muitas vezes dizer que sou como uma jet-setter. Os meus vizinhos abanam a cabeça ao ver como consigo gerir toda a minha vida. O meu segredo pessoal é bastante simples: depois de fases muito exigentes e agitadas, incluo momentos na minha rotina em que desacelero, desligo a cabeça e concentro-me apenas no meu eu interior. Isto tem um efeito benéfico. É por isso que, duas vezes por dia, dedico cerca de dez minutos à meditação. Tudo começou durante a pandemia de COVID-19, quando ninguém sabia o que ia acontecer e os meios de comunicação social estavam a lançar uma avalanche de informações negativas – por isso, experimentei a meditação online de um instrutor de yoga que acompanho. Ele guiava-me com a sua voz e eu consegui “desligar” e fechar-me internamente. Resultou! De repente, os problemas diminuíram e tudo ficou mais colorido.
Esta grande descoberta aconteceu no outono passado, quando um amigo me recomendou o Banho de Gong com a Jitka Dahlhausen, graças ao qual agora encaro a meditação de uma forma completamente diferente. Na altura, não fazia a menor ideia do que se tratava, mas de alguma forma senti-me atraída. Entrei numa sala dominada por dois grandes gongos, com taças de metal e vários instrumentos à volta. Todo o procedimento começou com uma meditação introdutória guiada adequada a qualquer pessoa, devido à música e ao método simples – chama-se Kirtan Kriya. Depois, deitei-me e deixei-me afetar pelas vibrações dos gongos e os outros sons. Estas frequências atuam sobre o sistema nervoso e harmonizam o corpo. Funciona de forma diferente com cada pessoa – por vezes, os estímulos podem levar-nos numa viagem profunda e tocar em memórias antigas, incluindo assuntos desagradáveis, mas eu absorvi os sons do gongo como uma esponja. O meu cérebro e os meus pensamentos ficaram completamente estagnados – as vibrações dos gongos tomaram conta de todas as minhas células. Os minutos passaram como água e senti-me renascida e energizada depois do “banho” (que ressoou durante dias). Imediatamente percebi que era exatamente assim que eu queria trabalhar comigo mesma!
“A meditação é adequada para toda a gente. É um convite para um espaço sem pensamentos e ao silêncio interior. É muito eficaz para libertar a tensão e acalmar a mente. Mas esta pode ser uma tarefa difícil para muitos. Existem muitas técnicas de meditação e pode levar algum tempo a encontrar a que melhor se adequa a si”, diz a já mencionada Jitka Dahlhausen, conferencista certificada pelo KRI, professora certificada de kundalini yoga e terapeuta de vibração gong. Também não tem experiência com meditação, mas gostaria de começar? O ideal é contactar um especialista e assistir a uma noite de meditação ou a um curso centrado nas práticas meditativas. Eu própria também já participei em aulas online e em transmissões de meditação ao vivo. É claro que também é possível encontrar meditação em aulas regulares de yoga, uma vez que a maioria dos professores pratica o mesmo leque de mini-técnicas. A mais importante é, sem dúvida, a respiração, e muitas pessoas não sabem como respirar corretamente. Há muitos métodos de meditação – com mantras, por exemplo, meditações com movimento, com respiração e mudras (onde são usadas diferentes posições das mãos), meditações com dança ou guiadas com palavras. “Para obter resultados de meditação de qualidade, o professor não só deve apresentar-se de forma humana e agradável, como também é importante questionar sobre a sua formação e prática, e, em alguns casos, a que fontes recorre. Trata-se de um trabalho de reflexão e consciência profundos, pelo que não é benéfico que toda a gente o faça”, salienta Dahlausen.
Yoga nidra
Trata-se de uma meditação profunda e guiada na qual o professor orienta e relaxa a sessão através de palavras. Na grande maioria das vezes, esta técnica é também designada por sono de yoga de atenção plena, em que a mente se encontra num estado entre o acordar e o dormir. A sua prática regular traz resultados surpreendentes e é adequada para todos, mesmo para os principiantes. A técnica é relativamente recente, tendo sido inventada no século passado pelo praticante de yoga dos Himalaias Swami Satyananda Saraswati, que diz ter “adormecido” enquanto recitava textos aos seus discípulos, sem nunca interromper a sua atividade – e que se lembrou dos textos ao acordar. Com base na sua experiência, criou posteriormente uma técnica para levar uma pessoa a este “sono de yoga”. Eu própria gosto de utilizar esta técnica e posso confirmar que funciona. Ao focar a minha atenção de uma forma direcionada devido às instruções – na maioria das vezes para relaxar partes individuais do corpo –, a minha mente não tem tempo para saltar entre pensamentos e consigo alcançar um descanso perfeito. O yoga nidra é bastante respeitado, principalmente nos EUA, onde foi aplicado aos veteranos militares após a guerra do Vietname; no entanto, é também popular entre gestores e executivos de sucesso e atletas (é recomendado, entre outros, por Jan Mühlfeit, o mental coach da equipa olímpica checa).
Kirtan Kriya
Psicólogos e psiquiatras (como Radkin Honzák) gostam de apostar neste método de meditação por estar cientificamente provado que a sua prática regular tem um efeito positivo na saúde neurológica, mesmo em doenças como Parkinson, esclerose múltipla ou Alzheimer. Eu própria também gosto bastante deste tipo de meditação. Pode durar mais de 11 minutos ou mais de meia hora, sendo que a sessão mais curta é suficiente para uma prática diária. E como se faz? A faixa Kirtan Kriya Meditation no YouTube é um excelente guia e ensina-nos os passos essenciais deste método: colocarmo-nos numa posição sentada confortável e pôr as mãos nos joelhos, com os dedos para cima. A fase seguinte passa por cantarmos “sa-ta-na-ma” e alternar regularmente entre as posições dos quatro dedos – na sílaba “sa”, o polegar toca no dedo indicador, na sílaba “ta”, o polegar toca no dedo médio, na sílaba “na”, o polegar toca no dedo anelar e, por fim, na sílaba “ma”, o polegar toca no dedo mindinho – enquanto isto, devemos visualizar um raio de luz vindo do topo da cabeça que sai entre as sobrancelhas (fazendo o formato de um L). A meditação está dividida em 5 fases, que se sucedem de forma rigorosa: a primeira fase inclui cantar em voz alta, a segunda passa por sussurrar, seguido da repetição mental das sílabas “sa-ta-na-ma”. Depois, é essencial voltar a sussurrar e, por fim, cantar.
E uma última coisa: como é que se mantém o hábito?
De acordo com os especialistas, são necessários 21 dias para que o corpo se habitue, no entanto, se praticarmos de forma regular, os efeitos da meditação tornam-se visíveis rapidamente. É também possível participar em desafios de meditação ou seguir grupos no Facebook e interagir com pessoas que, ao partilharem os mesmos interesses, se encorajam mutuamente e partilham as suas impressões e progressos, ou debatem as suas práticas de meditação com um especialista. No caso das pessoas mais reservadas, basta fazer uma tabela ou um diário de meditação. Quanto às minhas recomendações? Como já referi, eu própria medito duas vezes por dia. Há dias em que é fácil e mente fecha-se de forma tranquila, mas, por vezes, os pensamentos aparecem. É importante reconhecê-los, tentar travá-los e seguir a fórmula de “cabeça limpa” e continuar a meditar. A meditação não pode ser manipulada, é como construir um castelo de areia. Tem de ter uma base forte, caso contrário, desmorona-se. Só é possível alcançar o sucesso com perseverança e paciência. Contudo, ao construir esse castelo imaginário, é essencial acreditar que esse “edifício” resistirá a tudo – isto é fundamental, especialmente nos tempos que correm.
Traduzido do original, disponível aqui.