Todos os dias são lançadas marcas novas com conceitos e abordagens diferenciadoras que prometem revolucionar a indústria. Mas a verdadeira revolução está em comprar em segunda mão. A Vogue dá-lhe o guia completo para aquela que é a arte do preloved.
Todos os dias são lançadas marcas novas com conceitos e abordagens diferenciadoras que prometem revolucionar a indústria. Mas a verdadeira revolução está em comprar em segunda mão. A Vogue dá-lhe o guia completo para aquela que é a arte do preloved.
© Getty Images
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Sustentabilidade. Ainda não podemos deixar esta palavra de lado e provavelmente nunca poderemos. Fala-se de armário-cápsula, compras ponderadas, comprar localmente, minimalismo mas nada disso é suficiente para responder ao consumo desenfreado a que a nossa sociedade está habituada. A partir do momento em que estamos a produzir algo novo, mesmo que seja produzido localmente, a partir de tecidos sustentáveis, usando métodos que respeitem o ambiente e as pessoas que nele habitam, fabricar algo do zero tem um impacto severo no nosso planeta.
Comprar, comprar, comprar. Tendências, saldos, novidades são termos usados repetidamente pelas grandes cadeias para nos oferecer Moda rápida e acessível. Plataformas como o YouTube e o Instagram estão cheias de vídeos e fotografias das chamadas criadoras de conteúdos - que nos impingem mais e mais coisas novas, com referências na descrição e que esgotam em minutos. Os hauls de saldos, os hauls de inverno (e primavera e verão) e hauls-sem-motivo-nenhum são um veneno - gratuito para nós e caríssimo para o planeta.
A geração Y ou millenials, a geração da internet é pouco paciente. Não sabe esperar, é obcecada com o imediatismo. A última Moda, entregue em casa com next day delivery, free shipping e free returns. É necessário parar. E refletir. Esta consciencialização passa também por seguirmos pessoas que nos inspirem a pensar de outra forma, a procurar roupa (e quem diz roupa diz acessórios, sapatos e decoração) em lojas como a Humana, feiras de rua ou plataformas como o OLX, Depop, Etsy e tantas outras cujo core business é o preloved. Peças que já foram estrelas noutros armários, noutras vidas e que vêm ganhar uma nova junto de si.
Tudo isto para construir o tão cobiçado estilo pessoal e para que o que vestimos seja realmente uma forma de comunicar e não apenas um conjunto de referências. Comprar em segunda mão significa pôr o cérebro a trabalhar, as ideias e a criatividade a fluir. Significa também compromisso (porque não é possível trocar) e paciência.
Qual é a chave disto tudo? Saber filtrar. Filtrar quem seguimos, filtrar aquilo que compramos (mesmo que seja em segunda mão). Entrar numa loja como a Humana pode ser overwhelming, porque não existe curadoria, não há lookbooks nem modelos na montra com os coordenados preparados para irem diretamente para o seu carrinho de compras e, por isso, o cliente tem que aprender a fazer isso sozinho. Mas assim que compreendemos a dinâmica torna-se tudo mais fácil e, sobretudo, mais divertido. Raramente vai encontrar exatamente o que está à procura, por vezes não vai encontrar absolutamente nada e, nas melhores thrift trips, vai encontrar uma peça tão boa que poderá celebrá-la durante muito tempo. De consciência tranquila.
Abaixo, cinco dicas essenciais de como comprar em segunda mão:
1- Estabeleça um plano de ação, foque a sua atenção nos detalhes e experimente
© Imaxtree
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Comece pelos acessórios e sapatos pois são mais fáceis de explorar. Quando estiver a andar pelos charriots de roupa, procure elementos que lhe chamem a atenção - uma gola estilo vitoriano, um bordado, um padrão que goste, uma manga abalonada ou um corte de calça que já sabe que a favorece. Quando encontrar uma peça que apresente algum detalhe interessante, pegue no cabide e inspecione qualidade, possíveis defeitos e tamanho. Se a peça passar nesta primeira inspeção, experimente! Uma peça no cabide é muito diferente de vestida. O seu corpo vai dar-lhe a prova dos nove.
2- Exercite a sua imaginação e transforme a sua costureira na sua melhor amiga
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Quando experimentar uma peça, tente fazer o exercício de imaginar o seu potencial e ver para além dos pequenos defeitos que podem ser facilmente resolvidos pela sua nova melhor amiga (a sua costureira, sim). Pode não gostar de enchumaços nos ombros (uma tendência dos anos 80 muito em voga nesta estação), mas estes são fáceis de retirar. Botões feios podem ser substituídos numa retrosaria, onde há escolhas infindáveis. Calças de ganga levam facilmente um tratamento do it yourself com um corte na bainha, conferindo-lhe um ar mais atual e cropped.
Saias-lápis em lã axadrezadas ou lisas são um item que se encontra muito em segunda mão, mas normalmente são compridas demais o que pode conferir um peso que não queremos. Peça à sua costureira para fazer uma bainha e transformá-las numa minissaia. O mesmo método pode ser aplicado a calças (que passam a ser calções). Fatos de saia ou calção e blazer são um staple em qualquer closet.
3- Leia sempre as etiquetas internas
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Os tecidos das nossas roupas podem ser feitos com fibras naturais ou sintéticas. Dê preferência a tecidos naturais e, por isso, de maior qualidade como linho, algodão, seda e lã. Esqueça tudo o que for poliéster, acrílico, poliamida e viscose. Os tecidos naturais são mais confortáveis, flexíveis, resistentes e duram no tempo. Além de serem práticos, do toque ser agradável e de deixarem a pele respirar, dificilmente perdem a forma. Embora os tecidos sintéticos sequem rápido e sejam mais fáceis na hora de passar a ferro, não absorvem a transpiração e por isso deixam maus odores.
4- Visite sempre a secção masculina
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Blazers (e sobretudos), calças de fato e até camisolas em lã ficam com um ar mais cool se tiverem um corte masculino e naturalmente oversized. Procure tamanhos de calça de homem pequenos como o 38, 40 ou 42 e coloque um cinto de forma a criar a cintura paper bag.
5- Não se deixe levar pela palavra vintage
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Nem sempre tudo o que os vendedores apelidam de vintage é na realidade vintage. O facto de se ter tornado uma palavra trendy levou a que se aumentasse os preços de tudo aquilo que tem uma aparência revivalista. Para uma peça ser vintage tem que ter no mínimo 20 anos. Apesar disso, podemos encontrar o novo vintage (algo dos anos 90, por exemplo, ou início dos anos 2000) e vintage mais antigo (anos 30, 40, 50…). Quanto mais nova for a peça, mais difícil é identificar se é vintage ou não, porque a sua construção vai-se aproximar de uma peça contemporânea. Uma boa dica é analisar as etiquetas e os logos, assim como os fechos. Fechos de plástico só começaram a ser usados no final dos anos 60.
Este artigo faz parte da rubrica Preloved by Vogue, onde vamos explorar todos os caminhos do mundo da segunda mão.