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Estará a crise do plástico a afetar a nossa fertilidade?

26 May 2021
By Emily Chan

A professora Shanna Swan passou as últimas duas décadas a analisar a forma como os químicos nos plásticos, nomeadamente os ftalatos, estão a ter impacto na contagem de espermatozóides (e sim, ela descobriu que podem mesmo levar a pénis mais pequenos). Eis o que precisa de saber.

A professora Shanna Swan passou as últimas duas décadas a analisar a forma como os químicos nos plásticos, nomeadamente os ftalatos, estão a ter impacto na contagem de espermatozóides (e sim, ela descobriu que podem mesmo levar a pénis mais pequenos). Eis o que precisa de saber.

Fotografia de EyeEm
Fotografia de EyeEm

Todos sabemos que a crise do plástico está a causar diversos problemas no nosso planeta, com uma chocante produção de 300 mil milhões de toneladas de plástico todos os anos, que acabam nos nossos lagos, rios e oceanos. Mas e o impacto do plástico na nossa saúde, especificamente, na nossa fertilidade?

A Dra. Shanna Swan, professora de medicina ambiental e saúde pública no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, e autora do livro Countdown (Simon & Schuster, 2021), passou as últimas duas décadas a investigar a ligação entre a utilização de produtos químicos nos nossos plásticos e a nossa saúde reprodutiva. A conclusão? A contagem de esperma nos homens ocidentais diminuiu para metade nos últimos 40 anos, com a Dra. Swan a avisar que a maioria dos casais poderá, até 2045, ter de utilizar a reprodução assistida, como a fertelização in vitro (FIV), em parte devido a determinados químicos encontrados nos plásticos. 

"Espero que as pessoas levem esta crise na nossa saúde, e na saúde do nosso ambiente, muito mais a sério", diz Swan à Vogue, via Zoom, a partir de Nova Iorque. "É urgente, temos de o fazer, caso contrário vamos ter um número crescente de casais incapazes de conceber, excepto através da reprodução assistida".

Como é que os químicos encontrados nos plásticos podem afetar a fertilidade ?

A Dra. Swan começou a investigar uma classe de químicos chamados ftalatos, que são adicionados ao plástico para os tornar macios e flexíveis, e após uma série de estudos em ratos, foram encontrados os químicos que afetam a fertilidade masculina se as mães forem expostas a ftalatos durante a gravidez. 

"Os ftalatos são particularmente arriscados porque têm a capacidade de baixar a produção de testosterona, e qualquer coisa que possa baixar a testosterona vai interferir com a saúde reprodutiva", explica a Swan. "Quando os [ratos machos] nasceram, tiveram muitas alterações nos seus órgãos genitais, o que tem sido apelidado de síndrome do ftalato - isto continua a prever problemas de fertilidade e contagem de esperma". 

Os resultados levaram Swan a concluir que as mudanças na fertilidade masculina poderiam ser causadas nos humanos, se as mães fossem expostas a ftalatos durante a gravidez. Descobriu que os químicos podem levar a tamanhos de pénis mais pequenos, o que pode afetar a sua fertilidade mais tarde na vida. "A medida que resume tudo isto é a distância anogenital (AGD) - a distância do ânus aos órgãos genitais", diz a cientista, com a exposição a ftalatos ligada a AGDs mais curtos. "Quanto mais longa a AGD, maior a contagem de esperma".

Mas não é só a fertilidade masculina que pode ser afetada pelos químicos encontrados nos plásticos. Pensa-se que o bisfenol A (BPA), que é utilizado para endurecer o plástico e que era comum encontrar-se em garrafas de bebidas plásticas, também afeta a fertilidade das mulheres. "Estudos indicam que as mulheres inférteis têm níveis de BPA mais elevados [...] do que as mulheres férteis", explica Jodi Flaws, professora de biociências comparativas na Universidade de Illinois, nos EUA. "Estudos realizados em mulheres submetidas a tratamentos de FIV também mostram que [...] o aumento dos níveis de BPA pode diminuir a taxa de sucesso dos tratamentos de FIV".

Fotografia de Jarren Vink / Art Partner
Fotografia de Jarren Vink / Art Partner

O que podemos fazer para evitar estes produtos químicos?

Uma das principais formas de estarmos expostos a ftalatos é através dos nossos alimentos, especificamente a embalagem em que estão envolvidos - por isso é uma boa ideia evitar aquecer os alimentos em recipientes de plástico sempre que possível. "Uma maneira fácil de ficar exposto é pegar num saco de plástico macio e colocá-lo no microondas", afirma a Dra. Swan. "Tem sido demonstrado muito claramente que os ftalatos deixam esse recipiente e vão diretamente para o alimento quando este é aquecido no micro-ondas". 

Produtos de beleza, tais como sprays de cabelo, vernizes e perfumes, também podem conter ftalatos, que ajudam a manter o cheiro e a cor, bem como na absorção. Existem, no entanto, recursos para o ajudar a evitar estes produtos químicos (incluindo a procura de rótulos sem ftalatos e sem BPA) e uma maior regulamentação em torno da utilização de ftalatos na União Europeia.

Em última análise, a Dra. Swan diz que precisamos corrigir a raiz do problema - a dependência destes químicos - para enfrentar tanto as crises ambientais como a crise na saúde. "Se mantivermos o ambiente limpo em gerações sucessivas, podemos dar a volta a isto e recuperar a fertilidade", conclui a cientista. "Assim, a minha esperança é que, falando sobre isto e exigindo uma maior legislação, possamos fazer mudanças que façam esta curva começar a subir de novo". 

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