Com metade do nosso rosto tapado pelas máscaras que usamos no dia a dia, os olhos ganharam uma nova importância na forma como nos expressamos. E os cuidados a ter com esta zona delicada também.
Com metade do nosso rosto tapado pelas máscaras que usamos no dia a dia, os olhos ganharam uma nova importância na forma como nos expressamos. E os cuidados a ter com esta zona delicada também.
Fotografia de Sebastian Hilgetag. Cabelos e maquilhagem de Julia Firefly
Fotografia de Sebastian Hilgetag. Cabelos e maquilhagem de Julia Firefly
"Eu sei que não consegues ver, mas estou a sorrir por baixo da máscara.” Nas poucas saídas pós-quarentena, independentemente do cenário e da ocasião, a história parecia repetir-se. Entre as constatações de que agora é assim e as previsões de que assim será por muito mais tempo, a estranheza de não conseguirmos ver se a outra pessoa está a sorrir tomava conta das conversas sobre esta nova normalidade que entrou nas nossas vidas sem pedir licença. Nos espaços onde nos víamos (e vemos) obrigados a manter metade do nosso rosto tapado, a sensação de que faltava sempre alguma coisa, alguma coisa essencial à nossa interação com a pessoa que estava à nossa frente, à nossa ligação com a pessoa que estava à nossa frente, era (e continua a ser) tão clara como a luz do dia.
O sorriso, como descrevia a jornalista Jacey Fortin no The New York Times, é um “pequeno mas importante lubrificante social”. Em momentos de maior ansiedade, dizia, “queremos tranquilizar vizinhos, carteiros, funcionários e outros com um sorriso casual. Mas se os sorrisos não podem ser vistos, como é que cumprimentas as pessoas? Como é que as reconfortas? Como é que flirtas com elas? Será que existem alternativas – fechar ligeiramente os olhos, inclinar a cabeça, levantar uma sobrancelha? É uma questão difícil para muitas pessoas que querem ser socialmente responsáveis ao mesmo tempo que são amigáveis.”
Por muito que pratiquemos o famoso smize de Tyra Baks em frente ao espelho, e por muito que os experts em linguagem corporal afirmem que sim, é mesmo possível perceber se alguém está a sorrir por baixo da máscara, não deixa de haver alguma verdade nas palavras escritas pela jornalista e autora Belinda Luscombe no artigo What We Lose When We Hide Our Smiles Behind A Mask, publicado no site da revista Time em maio deste ano: “Numa altura em que precisamos de mais formas de conectar do que nunca, perdemos a nossa engenhoca de comunicação favorita”.
O que ganhámos, contudo, foi a certeza absoluta de que a parte superior do nosso rosto se torna incrivelmente mais importante quando não conseguimos ver a parte inferior do mesmo – e os nossos olhos (leia-se, os nossos olhos, o contorno dos nossos olhos e a forma como cuidamos do nosso contorno de olhos) nunca estiveram tão debaixo de olho como agora.
Contorno de olhos à lupa
Para Blanca Porto, médica especialista em medicina estética e tratamentos antienvelhecimento na clínica Secret Beauty, em Lisboa, “agora é o momento do contorno de olhos” – e aquilo que os clientes pedem quando se dirigem à clínica parece confirmar isso mesmo. “Estamos a colocar mais botox”, refere a especialista à Vogue Portugal, afirmando que as pessoas têm vindo a procurar cada vez mais tratamentos para o contorno de olhos. “Porque o que estamos a mostrar agora, com as máscaras, é a testa e os olhos.” Olhos esses que, como explica Blanca Porto, precisam de toda a nossa atenção e de todo o nosso cuidado. “Em primeiro lugar, a pele é muito mais fina e tem menos glândulas sebáceas”, afirma, esclarecendo que a quantidade de colagénio e elastina é também menor na zona do contorno de olhos. “Depois temos o músculo orbicular dos olhos, que é responsável quando movimentamos, quando nos expressamos, quando rimos, e que faz uma ruga dinâmica, que se instala com mais facilidade.”
Falar sobre o contorno de olhos é, por isso, falar sobre uma zona verdadeiramente delicada e sensível, mais suscetível à desidratação, à flacidez e a acusar a fadiga, e uma das primeiras a mostrar sinais visíveis de envelhecimento – por outras palavras, e por muita discussão que possa existir na indústria sobre a necessidade de usar um cuidado específico, falar sobre o contorno de olhos é falar sobre uma zona que precisa de um tratamento à medida. O porquê de assim o ser, como atesta Blanca Porto, está no facto de o tipo de pele que temos no contorno de olhos ser “especial” e “diferente” do resto do rosto; ao contrário da zona T, por exemplo, onde a pele é normalmente mais grossa, “no contorno de olhos vamos ter uma pele fina, uma pele muito mais frágil, e é necessário ter cuidados específicos nessa zona.” Para além disso, a médica especialista recomenda que “aquilo que se faz no contorno de olhos seja também feito no contorno de lábios, porque temos outro músculo orbicular dos lábios que vai fazer aquele tipo de rugas como código de barras. São as duas zonas em que [a pele] vai vincar mais facilmente.”
Sobre as preocupações mais comuns com o contorno de olhos, Blanca Porto começa por referir que existem diferentes tipos. “Uma delas pode ser a cor das olheiras, ou a cor das pálpebras, que pode ser mais escura”, garante a especialista. “Para mim, para tratar a cor, o melhor que há é a carboxiterapia, porque vai oxigenar essa zona e o CO2 vai arrastar o pigmento que está depositado e que faz essa cor tão escura, tão pesada.”
No caso de uma olheira funda, Blanca Porto refere que “é indicado um procedimento com ácido hialurónico, mas tem de ser um ácido hialurónico específico para essa zona, se não, pode dar muitos problemas.” Para as pessoas que têm papos, a médica especialista explica que a utilização de ácido hialurónico está fora do baralho, visto que o papo ficará ainda mais inchado. “Há que fazer muito bem o diagnóstico”, defende. “Eu aqui acho que tiro mais ácido hialurónico nas olheiras do que coloco. A olheira que tem indicação fica ótima, mas se não tiver, vai causar problemas.” Para além destas preocupações, afirma, vamos ter ainda os chamados “pés de galinha, que se formam no contorno de olhos e que só se corrigem com botox”.
No que ao cuidado diário diz respeito, a médica especialista em medicina estética e tratamentos antienvelhecimento começa por explicar que, “no tratamento do contorno de olhos, a limpeza é igual ao resto da cara; sempre sem esfregar muito, tratando essa zona com muita delicadeza e cuidado, precisamente por ser uma pele mais fina.” De seguida, “na pálpebra, aplicamos o sérum primeiro e o creme depois”, recorrendo a “movimentos circulares ao redor da órbita, fazendo um pouco de drenagem linfática e pressão, tanto no ângulo interno como externo.”
E para quem acorda com as pálpebras inchadas e faz retenção de líquidos, Blanca Porto deixa a dica: “Preparar um chá de camomila muito concentrado, deixar arrefecer, embeber discos de algodão no chá e colocar no congelador. De manhã, quando acordas com a pálpebra inchada, colocas um disco em cada olho durante dois minutos e vais ver a inflamação diminuir, porque a camomila é anti-inflamatória e o frio vai fazer uma vasoconstrição. É um truque fantástico.” Para além desta ação anti-inflamatória, a médica recomenda apostar em cuidados para o contorno de olhos que sejam drenantes e aclarantes, e ter a vitamina K – uma vitamina que Blanca Porto define como sendo “muito interessante nessa zona, porque vai tirar um pouco da cor escura” – debaixo de olho.
Para lá do skincare
Apesar de salientar que “o contorno de olhos tem de ser tratado de uma forma diferenciada do resto do rosto” e de sublinhar a importância de cuidarmos muito bem desta zona e das rugas, cor e papos que rapidamente nela se formam, e que nos vão dar o infame “ar de cansada”, Blanca Porto não esconde que agora também “é o momento em que as portuguesas têm de apostar na maquilhagem de olhos.”
“O mínimo de maquilhagem de dia, nada carregada, faz toda a diferença”, assegura. “Em Espanha, quando houve a crise de 2008, a venda de lápis de lábios, no tom vermelho, disparou. Nós pintamos muito os lábios de vermelho, e precisávamos de nos sentir bem. Era um pouco de autoestima. Neste momento, caiu a venda de batom vermelho, mas subiu [a venda] de máscaras, de sombras, de maquilhagem de olhos.”
E a tendência parece ser mesmo essa: em entrevista ao The Independent, Jenni Middleton, diretora de beleza da empresa de previsão de tendências WGSN, explicava que é esperado que o crescente uso de máscaras sociais tenha um impacto prolongado no tipo de maquilhagem que compramos. “À medida que os olhos se transformam no foco do rosto, também vão começar a ser o foco do estojo de maquilhagem, com as máscaras de pestanas, os kits e lápis de sobrancelhas, as sombras de olhos e os eyeliners em alta”, disse Middleton ao jornal britânico.
Com as pesquisas por “eye shadow looks” a aumentarem no Google desde o início do lockdown e marcas como a Bobbi Brown a confirmarem um boom de 63% nas suas vendas de sombras de olhos quando comparadas com o mesmo período do ano passado (os dados foram publicados pela revista Glamour em agosto), bem como um salto de 55% nas máscaras de pestanas, 23% nos eyeliners e 55% nos produtos de sobrancelhas, não parecem restar dúvidas de que all eyes are on the eyes.
Para reparar, fortificar e hidratar o contorno de olhos: Advanced Night Repair Eye Concentrate Matrix Synchronized Recovery, € 70,70, Estée Lauder.
Para um efeito lifting e alisador do contorno de olhos: Bálsamo lifting Resveratrol Lift, € 38,60, Caudalie.
Para experienciar os benefícios da vitamina K: Reviving Eye Cream, € 109, Omorovicza, em net-a-porter.com.
Para refrescar, hidratar e reduzir a aparência das olheiras e dos papos: Waso Eye Opening Essence, € 35,95, Shiseido.
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