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Project: Vogue Union | Diogo Miranda, o criador de sonhos

24 Jun 2020
By Rui Matos

De jovem promessa a um dos nomes mais bem estabelecidos, Diogo Miranda conquistou a Moda portuguesa e o coração das mulheres.

De jovem promessa a um dos nomes mais bem estabelecidos, Diogo Miranda conquistou a Moda portuguesa e o coração das mulheres.

Diogo Miranda, Paris 2018 © Getty Images
Diogo Miranda, Paris 2018 © Getty Images

Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que visitei os bastidores de um desfile de Diogo Miranda. Esperava um grande alvoroço e um designer hipernervoso. O que encontrei foi totalmente o oposto. Um designer calmo, disponível e sempre com um sorriso na cara - uma característica muito própria, não me lembro de alguma vez o ter visto sem este sorriso. Estávamos em março de 2019 e Diogo, num look total preto, dava os últimos toques de styling nos coordenados que ia apresentar daí a poucas horas. A coleção de que lhe falamos é a do outono/inverno 2019, inspirada no filme Indochine, com Catherine Deneuve no papel principal, coordenados com uma grande influência no estilo náutico. Os ombros volumosos, as plumas - que nos disse terem sido colocadas uma a uma - e os seus trench coats até hoje não me saem da memória. “Penso que os cocktail dresses e os trench coats são as peças que melhor caracterizam o meu ADN,” conta-nos Diogo, via email. “Também por uma questão de negócio, porque é isso que o público procura, mas também me dá muito prazer desenvolver, de coleção para coleção, a evolução das formas e a história das mesmas, sem nunca esquecer o meu ADN.” O criador português, que debaixo do braço já leva 13 anos de carreira, não só continua a estética que imaginou para a sua marca como também se vai reinventando, sem nunca perder o norte.

A primavera/verão 2020 de Diogo Miranda está a chegar às lojas, uma coleção “inspirada no filme I am Love, de Luca Guadagnino, onde a protagonista, Tilda Swinton, vive um amor proibido, cheio de romance e experiências encantadoras,” conta-nos Diogo. E os coordenados que apresentou, em outubro passado, espelham na perfeição essa longa-metragem: o romantismo, uma constante nas criações de Diogo, e a sofisticação de Emma Recchi, a personagem principal, sentem-se em cada peça. Já as propostas para o outono/inverno deste ano tiveram que ser apresentadas de forma diferente, uma vez que o Portugal Fashion, onde costuma mostrar as suas coleções, foi cancelado devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus. O lookbook que entretanto apresentou, em exclusivo com a Vogue Portugal, mostra uma coleção bastante “sofisticada, feminina, sedutora e que faz qualquer mulher viajar no tempo,” afirma.

Diogo estudou durante três anos Moda na Cenatex, no último ano foi estagiar para um atelier de Couture em Sevilha, mas havia muitos folhos e demasiados acabamentos para aquilo que queria fazer. Depois passou pelo grupo Inditex, uma passagem que lhe deu conhecimento sobre a indústria, só que o estímulo não era suficiente. Entretanto entrou para a plataforma de jovens criadores (hoje Bloom) do Portugal Fashion e apresentou una coleção inspirada no Espaço, com a assinatura que sempre cria: mais desportiva, oversized, cintura marcada e um trench coat em lamé cor de prata com tiras pretas nas costas, a peça que abriu este desfile. Desde 2007 que as suas coleções são apresentadas no Portugal Fashion, um desfile sempre lotado. Anos mais tarde, em 2015, voou até Paris e estreou-se na Semana de Moda parisiense, onde depressa atraiu a atenção dos media internacionais, nomeadamente do The New York Times e da Harper’s Bazaar.  

As suas peças correram mundo chegando mesmo a personalidades como a it girl brasileira Helena Bordon, a atriz indiana Sonam Kapoor e a modelo e produtora Caroline de Maigret, que se sentou na primeira fila do desfile da primavera/verão de 2019, apresentado na Université Paris Descartes. Em Portugal o cenário não é diferente. Poucas são as red carpets nacionais que uma criação de Diogo não pisa. Joana Ribeiro, Maria João Bastos, Jessica Athayde, Anabela Moreira, Raquel Strada e Luisa Beirão integram o grupo português das Miranda Girls. "O Diogo transformou-se num amigo, já há bastante tempo,” confidencia-nos Sónia Balacó, atriz e poeta, que além de ser uma Miranda Girl é também musa e amiga do designer. “As suas criações falam da sua sensibilidade e do seu amor pela arte, que sinto irmão do meu. E quando as visto sinto que é como se tivessem sido feitas para mim e prolongassem fisicamente o meu espírito, a minha essência,” acrescenta Balacó.

Joana Ribeiro, Sónia Balacó, Caroline de Maigret e Soraia Chaves todas em Diogo Miranda.
Joana Ribeiro, Sónia Balacó, Caroline de Maigret e Soraia Chaves todas em Diogo Miranda.

"A Moda (...) é também muito dura e exigente, porque tens que estar sempre a provar ao público o quanto mereces aquele ‘lugar’."

“Trabalhar Moda em Portugal e no mundo é muito duro e exigente (…) Estás, constantemente, a ser julgado pelos demais, pelo que fazes, pelo que não fazes, pelo que devias ter feito,” conta-nos Diogo. Esta indústria não é um mar de rosas, está longe de o ser, e, se olharmos para o retângulo que é Portugal, a Moda está ainda a dar os primeiros passos. É preciso uma espinha dorsal forte. É preciso gostar mesmo. O pensamento de desistir e explorar outra área é inevitável. “Acho que acontece em todos os trabalhos, quando tens momentos menos bons, apetece sempre largar tudo e dedicar-te a outra área, porque achas que vai ser sempre mais fácil”, atira Diogo. “A Moda, independentemente de ser um negócio, é também muito dura e exigente, porque tens que estar sempre a provar ao público o quanto mereces aquele ‘lugar’, além disso é uma área em que trabalhas com amor e gosto, e nem sempre tens amor e gosto para o fazer.” O trabalho recompensa e o criador sabe disso. Por cá, foi pioneiro no shopping online, conquistando assim o coração de muitas mulheres por este mundo fora. As coleções de Diogo voam do seu atelier/loja, situado em Felgueiras, no edifício mais antigo da pequena cidade nortenha, para o mundo onde já fez paragens em feiras e showrooms em Berlim, Londres, Nova Iorque e Paris.

"Tudo é possível, até o Homem fazer acontecer."

Se Diogo pudesse voltar atrás, ousaria refazer alguma das suas coleções? “É uma pergunta difícil, porque nunca estou totalmente satisfeito quando finalizo uma coleção, sou extremamente perfecionista e acho sempre que conseguia melhorar, fazer mais e melhor. Se fosse fazer um throwback às coleções, em todas elas ia querer mudar algo.” E já que estamos numa de perguntas difíceis aproveitamos para saber qual é a pergunta que não fazem a Diogo, mas que ele gostaria que fizessem: “Que celebridade gostaria de vestir que nunca vestiu? Cate Blanchett.” Num momento tão delicado como aquele que estamos a viver, união é a palavra-chave e se Diogo pudesse fazer uma colaboração com algum designer português, Luís Buchinho, Nicole e Daniela Barros foram os três nomes que nos indicou. E à pergunta: “A união nesta indústria é possível ou é uma utopia?”, o criador responde-nos: “Claro que é possível tudo é possível, até o Homem fazer acontecer.”

Diogo prima pela sofisticação, as suas peças são como obras de arte que se completam no corpo feminino, a mulher é o centro do seu universo e as suas inspirações fazem-nos viajar. O designer é de sorriso fácil, só não lhe perguntem a idade, é a pior pergunta que lhe podem fazer numa entrevista. Disclaimer: nós não perguntámos nada, só quisemos mesmo saber qual era a pior pergunta que lhe podiam fazer. 

Rui Matos By Rui Matos

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