Talvez a atração pelo azul, a cor preferida por quase metade da população mundial, nasça do fascínio pelo mistério, pela impossibilidade de possuirmos verdadeiramente o azul, da inevitabilidade de termos de o seguir até onde ele nos leva, do desejo profundo de mergulharmos num azul sem fim que, num extremo oposto, emana a calma que todos buscamos.
“If I don´t have red, I use blue” - Picasso.
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© Ricardo Abrahão | Vogue Portugal Blue issue
© Ricardo Abrahão | Vogue Portugal Blue issue
Talvez a atração pelo azul, a cor preferida por quase metade da população mundial, nasça do fascínio pelo mistério, pela impossibilidade de possuirmos verdadeiramente o azul, da inevitabilidade de termos de o seguir até onde ele nos leva, do desejo profundo de mergulharmos num azul sem fim que, num extremo oposto, emana a calma que todos buscamos. Talvez pela mesma razão porque somos mais arrebatados por uma tragédia do que por uma comédia ou sentimos um enorme prazer na tristeza de certas canções e histórias, como quando nos deixamos embalar ao som dos Blues.
No seu magnífico ensaio sobre a cor azul, Rebecca Solnit celebrou-a como a cor de uma emoção, a cor da solidão e do desejo. "O azul da distância vem com o tempo, com a descoberta da melancolia, da perda, da textura da saudade, da complexidade do terreno que percorremos e com os anos de viagem. Se a tristeza e a beleza estão interligadas, então talvez a maturidade traga consigo não a abstração, mas um sentido estético que esbate as perdas que o tempo traz e encontra beleza e clarividência no longínquo.”
Talvez não haja melhor demonstração da loucura dos comportamentos humanos do que uma imagem distante do nosso minúsculo mundo visto do Espaço. The Pale Blue Dot, como lhe chamou Carl Sagan, na carta de amor à sua mulher, Annie Druyan, enviada para o espaço a 14 de Fevereiro de 1990 com a Voyager 1. “Ver a Terra como ela realmente é, pequena, azul e bela naquele silêncio eterno onde ela flutua”, escreveu o poeta Archibald MacLeish depois da lendária fotografia Earthrise da Apollo 8 ter sido revelada ao mundo em 1968, “é vermo-nos como pilotos juntos na Terra, irmãos naquela beleza brilhante no frio eterno..." A sua perspetiva de distância sem precedentes parecia, paradoxalmente, aproximar-nos, terráqueos, de desejar a conexão uns com os outros com mais força do que nunca.
Mas talvez nos devêssemos lembrar mais vezes da nossa gigantesca pequenez na escala imensurável de um Universo onde os nossos umbigos, os nossos problemas, as nossas guerras são simplesmente ridículas e insignificantes. Naquele ponto azul, visto do espaço, está tudo o que conhecemos como vida, como lar. E vermo-nos de fora faz-nos perspectivar sempre tudo de forma diferente. A nossa presunção imaginada, a ilusão de que temos alguma posição privilegiada no universo, é desafiada por esta imagem de um pequeno ponto azul. O nosso planeta é uma partícula solitária na grande escuridão cósmica envolvente. Na nossa obscuridade – em toda essa vastidão – não há indício de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. Obras de ficção que descreviam futuros distópicos onde a humanidade tinha de procurar outros planetas para habitar, começam a parecer menos ficção; cabe-nos a nós, e a todas as indústrias, incluindo a da Moda, preservar e respeitar o nosso lar. Mais respeito e mais amor entre nós é tudo o que precisamos na casa que partilhamos e a que, ainda, chamamos Planeta Azul. Blue should be the warmest color.
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© NASA
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Earthrise24 de Dezembro de 1968, os astronautas da Apollo 8 registaram uma imagem que capturava a primeira visão humana do Planeta Terra, a foto icónica do nosso planeta azul sobre o horizonte lunar.
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