Costumamos ligar o conceito de underground ao ilícito, ao escondido, ao fora da norma, mas é no nosso próprio submundo que nos sentimos confortáveis, que nos sentimos verdadeiramente nós e em casa.
“If you shut up the truth and bury it underground, it will but grow." - Émile Zola
Fotografia de Paul Hyde
Under your skin
O que vestimos, o que nos cobre, acaba por ser a primeira pele que mostramos aos outros. Usamos a Moda como um prolongamento da nossa personalidade, damos a conhecer um pouco de nós nos primeiros instantes de um encontro. Mas a nossa verdadeira pele está por baixo, o nosso underground, quem realmente somos. Conheço pessoas, sobretudo no meio da Moda, que mudam em função da sua camada exterior. O que vestem não é um prolongamento do que são, mas do que supostamente sentem ser pela forma como os outros os veem.
Quando isto acontece, com o tempo, o nosso verdadeiro eu vai-se esbatendo e, sem nos apercebermos, deixamos de ser quem somos. Mas também não nos tornamos na persona que vestimos. Deixamos apenas de ser nós, deixamo-nos enganar pela imagem que transmitimos e tornamo-nos vazios. O nosso “vestido” passa a ser a nossa aura, a nossa segurança. Mas o nosso brilho tem de vir de dentro e não da label que nos veste. Como dizia Coco Chanel, é a mulher quem faz o vestido e nunca o vestido que faz a mulher. A Moda deve tornar-nos mais fortes e seguros, sem nunca desvirtuar a nossa real essência.
Costumamos ligar o conceito de underground ao ilícito, ao escondido, ao fora da norma, mas é no nosso próprio submundo que nos sentimos confortáveis, que nos sentimos verdadeiramente nós e em casa. Nesta edição, descemos às profundezas de diversos universos underground, explorando tantos dos mundos alternativos, os que habitam em cada um de nós e nos movimentos anti-mainstream, e percebemos que a fronteira entre os dois pode ser uma linha muito ténue. E como a história nos tem vindo a provar, se os movimentos contracultura tendem a ser absorvidos pela cultura vigente ao ponto de se tornarem mainstream sabemos que é no submundo que germinam as sementes de qualquer mudança e do crescimento.
Se calarmos a verdade e a enterrarmos debaixo da terra, ela não fará mais do que crescer. E este é o poder de qualquer movimento underground, tão válido em cada um de nós como em qualquer sociedade.
Originalmente publicado na edição Underground da Vogue Portugal, de outubro 2021. Todos os créditos na revista em print.For the english version, click here.
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