A sorte anda de mãos dadas com a confiança e com tudo o que também depende de nós – o foco no que mais queremos, trabalho (árduo), coragem para ousar e arriscar… Chavões como “A sorte favorece os audazes” ou “A sorte dá muito trabalho”, têm um fundamento real.
“Remember that sometimes not getting what you want is a wonderful stroke of luck." - Dalai Lama XIV
© An Le
Numa perspetiva macrocósmica, somos todos incrivelmente sortudos, simplesmente por existirmos. Descendemos de uma linha ininterrupta de vencedores, que remonta a milhões de gerações, e esses vencedores foram, em cada geração, os mais sortudos de todos os sortudos, entre milhões. Portanto, por mais azarados que possamos ser nalguma ocasião, a nossa presença no planeta atesta o papel que a sorte desempenhou no passado de cada um de nós. Já numa perspetiva micro, também é inegável que somos fruto da junção do óvulo com o espermatozóide que conseguiu chegar mais depressa à meta, o único vencedor entre centenas de milhões.
© Élio Nogueira
De alguma forma, todos acreditamos na sorte, até mesmo os mais céticos. Que atire a primeira pedra quem nunca teve algum comportamento supersticioso, como não passar debaixo de umas escadas, desviar-se de um gato preto ou simplesmente bater na madeira para afastar a má sorte. Se realmente existe algum tipo de explicação metafísica por trás da sorte, ou se é um fenómeno inteiramente psicológico, há uma verdade universal – todos gostamos de nos sentir sortudos. A sorte anda de mãos dadas com a confiança e com tudo o que também depende de nós – o foco no que mais queremos, trabalho (árduo), coragem para ousar e arriscar… Chavões como “A sorte favorece os audazes” ou “A sorte dá muito trabalho”, têm um fundamento real.
© Ricardo Abrahao
A sorte sorri-nos das formas mais inimagináveis, por vezes até se mascara de azar, como uma espécie de charada cujo significado só conseguimos compreender mais tarde, como tão bem ilustra esta antiga fábula chinesa:
Certo dia, o filho de um agricultor deixou o único cavalo que tinham escapar. Ao saber da história, os vizinhos foram à casa do senhor, muito preocupados. “Que desgraça, ficar sem o animal que o ajudava no campo. Que má sorte!” Sem pestanejar, o agricultor respondeu: “Talvez.”
No dia seguinte, o cavalo regressou, juntamente com outros sete cavalos que o tinham seguido, e o agricultor passou a ser o homem mais rico da aldeia. Então, todos os habitantes fizeram questão de lhe dar os parabéns. “Que sorte, é um milagre!”, disseram. “Talvez”, respondeu o agricultor.
No dia seguinte, o filho dele partiu uma perna enquanto tentava domar um dos cavalos selvagens. Entretanto, o inverno aproximava-se e o agricultor não podia tomar conta dos campos sozinho. “É terrível o que lhe aconteceu! Que má sorte”, disseram os vizinhos. “Talvez”, respondeu novamente o agricultor.
Uns dias depois, o exército chegou à aldeia para recrutar jovens saudáveis para lutar numa guerra impossível de ganhar, e o filho do agricultor não foi levado devido à perna partida. “Que sorte, os nossos filhos partiram para a guerra e o seu não!”, disseram os vizinhos. Mais uma vez, o agricultor respondeu: “talvez”.
Tudo o que acontece, por pior que seja ou pareça, pode acabar por ser positivo. Como diz o velho ditado, há males que vêm por bem. E mesmo nos piores momentos, em que nos sentimos abandonados pela sorte, ainda existimos, nós e essa resiliência invisível, inerente a qualquer ser humano, capaz de mudar e ultrapassar a má sorte. A fé num amanhã melhor é provavelmente o mais poderoso dos talismãs.
Esta edição que tem nas mãos é um amuleto, acredite ou não... Porque como dizia Tennesse Williams, “Luck is believing you are lucky.”
Boa Sorte.
Originalmente publicado na edição The Good Luck Issue da Vogue Portugal, de março 2023.For the english version, click here.
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