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Em Wicked, o figurinista Paul Tazewell faz magia

06 Dec 2024
By Marley Marius

Cortesia de Giles Keyte/Universal Pictures

Wicked estreou ontem, dia 5 de dezembro, em Portugal. Com o passar do tempo, o musical tornou-se uma história repleta de figuras verdadeiramente surpreendentes – e não me refiro apenas a Idina Menzel, Kristin Chenoweth, Shoshana Bean e Annaleigh Ashford.

Vinte e um anos: é há quanto tempo a peça está em exibição no Gershwin Theatre, em Nova Iorque. 1,66 mil milhões de dólares: é o valor arrecadado na Broadway, até ao momento da escrita deste artigo. Vinte e cinco: é o número de atores que já interpretaram Elphaba, a tempo inteiro, nesta produção (houve 22 Glindas). Se adicionarmos as 238 mudanças de roupa, 226 pares de sapatos e 84 perucas por performance, os olhos começam a lacrimejar um pouco. É exagerado – mas, pensando bem, “exagerado” é exatamente o objetivo de Wicked. É um grande espetáculo sobre os poderes do bem e do mal, com um bode que fala, macacos voadores e um triângulo amoroso.

A equipa encarregue de transformar Wicked numa extravagância cinematográfica-musical em duas partes, protagonizada por Cynthia Erivo e Ariana Grande, abraçou de forma clara a sua grandeza. Para o figurinista Paul Tazewell (vencedor de um Tony por Hamilton e nomeado para um Oscar por West Side Story de Steven Spielberg), o projeto tinha três referências principais: Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, o romance de Gregory Maguire, de 1995, que explora o mundo de O Maravilhoso Feiticeiro de Oz, de L. Frank Baum, e que inspirou o enredo original de Wicked; O Feiticeiro de Oz, a adaptação cinematográfica clássica de 1939 de Victor Fleming do livro de Baum; e o próprio espetáculo da Broadway, com a sua épica banda sonora de Stephen Schwartz, o livro de Winnie Holzman (que também escreveu o argumento do novo filme) e uma legião de fãs devotos. “Era importante conquistar esse público”, diz Tazewell, “e não redefinir completamente a essência de Wicked”.

Ariana Grande como Glinda, no célebre “vestido bolha” de Wicked
Cortesia Universal Pictures

Tal como Susan Hilferty, que desenhou o guarda-roupa da produção teatral vencedora de um Tony, Tazewell fez da terra e do ar os seus pilares enquanto construía os visuais das duas personagens centrais de Wicked: Elphaba, de pele verde, interpretada no ecrã por Erivo, e Glinda, de cabelo louro e feminino, interpretada por Grande. Outros personagens importantes incluem a sábia e astuta Madame Morrible de Michelle Yeoh, diretora da Universidade Shiz, onde Elphaba e Glinda se conhecem; o arrojado Fiyero de Jonathan Bailey, o seu interesse amoroso em comum; e o charlatão Feiticeiro de Oz de Jeff Goldblum.

“Eu já conhecia o Paul há muito tempo porque ele desenhou os figurinos de Harriet” – o drama de 2019 sobre Harriet Tubman, protagonizado por Erivo – “e [nós] partilhávamos um entendimento profundo sobre permitir que um personagem se expresse através das roupas que usa”, diz Erivo. Quando a atriz teve uma ideia para os óculos de Elphaba, para o seu pijama ou para o seu calçado – “Eu disse ao [Paul], ‘Adorava que o salto da minha bota ficasse mais alto à medida que avançamos na história” – ele honrou-a. Erivo e Tazewell concordaram que “nenhuma peça de roupa é frívola”, diz a atriz. “Tudo tem uma utilidade, e tudo tem significado”.

“Podemos olhar para qualquer sapato, qualquer botão – podemos tocar em qualquer um deles, e eles contam a nossa história”, acrescenta o realizador Jon M. Chu, ele próprio um fã de longa data de Wicked, tendo visto pela primeira vez o musical durante a sua antestreia em São Francisco.

Cynthia Erivo e Ariana Grande em Wicked, com guarda-roupa da autoria de Tazewell, nos cinemas a partir de 5 de dezembro.
Cortesa Giles Keyte/Universal Pictures

Enquanto Elphaba, uma lutadora que arrisca a sua segurança para proteger os animais de Oz, é vestida à base de tecidos envernizados, plissados e silhuetas sóbrias e restritivas (como o seu vestido de luto vitoriano, no início da história), Glinda, a Bruxa Boa, eternamente popular e constantemente animada, representa “tudo o que é leve e efervescente”, explica Tazewell. O seu conceito para o “vestido bolha” etéreo – talvez o visual mais célebre do musical – foi inspirado em elementos tangíveis (como borboletas) e abstratos (como a espiral de Fibonacci).

“Paul Tazewell é o ser humano mais brilhante à face do planeta, desde as suas silhuetas à história das cores e à atenção que está por detrás de cada look”, afirma Grande. Nos dias de produção mais movimentados, Tazewell comandava uma oficina com mais de 100 pessoas, entre alfaiates e costureiras de alta costura, tecelões e bordadores, tricotadores, modistas, sapateiros, armeiros e joalheiros, aliados a especialistas em impressão 3D e manipulação a laser. Foi, em todos os sentidos, um esforço conjunto – embora impulsionado por um espírito de deslumbramento.

Ao falar sobre o mundo visual de Oz, concebido por Tazewell e pelo designer de produção Nathan Crowley, Chu questionava: “Estaremos a criar algo encantador?” recorda Tazewell. “À medida que avançávamos na nossa criação de Oz, tornou-se claro que o encanto devia estar presente em todas as facetas do que criámos.” Aliás, este impulso relembra uma frase do Feiticeiro no final do primeiro ato, quando Elphaba e Glinda se escondem por detrás da cortina do seu esconderijo na Cidade das Esmeraldas: “Eu sei, é um bocado exagerado”, diz ele com um encolher de ombros bem-humorado. “Mas as pessoas esperam este tipo de coisas!”

Traduzido do original, disponível aqui.

Marley Marius By Marley Marius

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