Opinião  

Este país não é para velhos

10 Jul 2024
By Joana Nobre

Benedetta Barzini fotografada por Branislav Simoncik para o editorial La Giovinezza, da edição The Time Issue, de dezembro 2021 da Vogue Portugal.

A ciência da longevidade veio mudar o paradigma da cosmética antienvelhecimento com uma nova abordagem capaz de tornar a pele biologicamente mais jovem, refletindo o atual shift cultural que valoriza viver melhor em vez de viver mais. Esta nova geração de cosméticos rejuvenesce de dentro para fora e garante uma transformação mais profunda e duradoura. Na nova era da longevidade aplicada à cosmética, ciência, inovação e autocuidado convergem para nos manter com a melhor aparência, em qualquer idade.

Imaginemos um mundo onde o relógio do envelhecimento pudesse girar para trás; uma realidade onde os anos passados afinassem os nossos traços em vez de marcar as linhas do tempo. Essa fantasia – vividamente descrita por F. Scott Fitzgerald, em 1922, no seu livro The Curious Case of Benjamin Button, mais tarde adaptado ao cinema – conta a história fascinante de um homem que envelhece de forma reversa, e capta o nosso desejo coletivo pela eterna juventude. Embora não possamos reverter o tempo, como Benjamin Button, os avanços modernos na beleza e no bem-estar dão-nos ferramentas para envelhecer graciosamente e, talvez, um pouco mais devagar. Portugal é o país que envelhece mais depressa na União Europeia e é o quarto mais envelhecido no mundo. Apesar de estarmos social, económica e culturalmente mal preparados para lidar com esta realidade demográfica, se este país ainda não é para velhos, mais cedo ou mais tarde, terá de ser. Com os avanços feitos, quanto mais vivermos, mais viveremos, e a ciência da longevidade prevê que as crianças de hoje possam auspiciar viver até aos 120 anos. Filosoficamente, podemos concordar que envelhecer é um privilégio que nem todos têm, mas os investigadores na área da longevidade afirmam que é tempo de classificar o envelhecimento biológico como uma doença à qual nem a pele consegue escapar. Posto isto, haverá cura para o envelhecimento? No âmbito da cosmética, esta não será a questão correta a fazer; encontrar as respostas para manter a pele biologicamente jovem é o que realmente importa.

Gostamos de dizer que somos como o vinho do Porto: quanto mais velhos, melhores. Contudo, para a saúde da pele, ser português não nos traz forçosamente uma vantagem. Cerca de 80% das alterações cutâneas que associamos à idade são, na verdade, causadas pelo sol. Neste país à beira-mar plantado, fugir do sol é uma tarefa difícil e culturalmente incompreendida. Associando os muitos mitos perpetuados em relação ao bronzeado saudável, à síntese da vitamina D ou, até, à melhoria de algumas patologias de pele como a acne ou a psoríase, atrasa-se a literacia científica e a pele torna-se território fértil para hiperpigmentações, rugas ou flacidez. Spoiler alert: o protetor solar não é negociável. Iconicamente pálida, a rainha Elizabeth I de Inglaterra usava a sua mask of youth para camuflar as imperfeições que tinha no rosto e conseguir, assim, projetar uma imagem forte de saúde e poder. A ciência valida isso mesmo: uma pele mais regular, homogénea e lumino- sa, faz-nos parecer mais saudáveis e atraentes, impacta a nossa autoimagem e a forma como os outros se relacionam connosco, moldando os graus de tolerância, valorização e, até, instinto protetor. Infelizmente, o oposto também se verifica. Os cientistas defendem que se olhe para o rosto como o monitor da saúde e do bem-estar porque nele conseguimos ler os sinais de envelhecimento sistémico e cognitivo. A atratividade facial é avaliada de forma rápida e automática, e pode ser processada mesmo sem consciência: ativa-se uma rede neuronal amplamente distribuída que envolve circuitos de perceção, decisão e recompensa. Fisiologica- mente, a importância do cuidado da pele também se faz sentir. Basta aparentar cinco anos a menos face à idade cronológica, para beneficiarmos a saúde física, por exemplo, na redução da osteoporose, da perda auditiva e das cataratas. Os cosméticos têm aqui um papel crucial: num estudo disruptivo publicado em 2022 no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, provou-se que a aplicação de um simples emoliente corporal adiou a progressão da disfunção cognitiva em pessoas com idade superior a 65 anos.

"Como é bela a juventude, que no entanto foge!”, disse Lorenzo de’ Medici (1449-1492), político italiano. Desde as civilizações antigas até às sociedades modernas, o desejo de preservar e recuperar a beleza da juventude tem sido uma obsessão constante. Inúmeros métodos, produtos e rituais são utilizados na tentativa de desafiar a inevitável marcha do tempo, e esta vontade evoluiu para uma indústria multimilionária, com os cosméticos antienvelhecimento na vanguarda. Embora o foco desses produtos tenha sido, tradicionalmente, a correção dos sintomas do envelhecimento, os avanços recentes aproximaram-nos da compreensão das suas causas profundas e do verdadeiro potencial de rejuvenescimento. Anti-ageing é um termo perene na cosmética, mas existe uma vontade profunda de alterar o wording para algo mais inclusivo e moderno que reflita o que realmente acontece: pre-ageing, slow ageing, healthy ageing... são opções cada vez mais comunicadas. A cosmética da longevidade melhora a perceção da idade: não é meramente a inovação que adia um declínio, mas antes a que otimiza a nossa vida. Na cosmética, este novo racional garante uma abordagem muito positiva no desenvolvimento dos produtos, dando origem a novos ingredientes ou novas vias de atuação. Focada na compreensão dos mecanismos que levam ao envelhecimento e ao seu aparecimento, debruça-se sobre os processos químicos da pele, no interior das células. O que está subjacente ao envelhecimento é a informação que se vai perdendo nas células e não apenas a acumulação de danos. Uma mudança de paradigma na forma de pensar o envelhecimento.

Inflammaging, glicação, senescência celular, telómeros, epigenoma, proteoma, são buzzwords na cosmética da longevidade; e produtos com ingredientes como os péptidos, pré e pós-bióticos, e antioxidantes que tenham como alvos o microbiota, as mitocôndrias, as sirtuinas ou a proteína FOXO, devem fazer parte da nossa lista de compras. Num país marcadamente envelhecido, que ingredientes deverão ser considerados o nosso PPR por contribuírem para a longevidade saudável da pele? Os exossomas, por exemplo, são a mais recente inovação na cosmética. São vesículas muito pequenas produzidas por células vegetais, com papel relevante na comunicação celular, que transportam várias “cargas”, como proteínas, lípidos e outras moléculas que podem ajudar a promover a cicatrização, a hidratação e a síntese de colagénio.

Podem, ainda, reduzir a inflamação e proteger a pele dos fatores ambientais. Além disso, atuam sinergicamente com outros ingredientes – ácido hialurónico, péptidos ou antioxidantes – melhorando a sua performance. São, claramente, ingredientes a manter debaixo de olho e a acompanhar, não só para o rejuvenescimento da pele, como também do cabelo. Também a niacinamida, o canivete suíço dos ingredientes, porque efetivamente dá para quase tudo! Multifuncional e ubíquo nos cosméticos, é um precursor de importantes cofatores energéticos envolvidos em várias reações enzimáticas na pele, daí ter o potencial para influenciar muitos processos cutâneos. Reputado agente antimanchas, antioxidante e anti-inflamatório, não fica atrás na ação de reforço da barreira cutânea devido ao seu contributo para o aumento da síntese de ceramidas e proteínas. Outro aliado: os péptidos, cadeias curtas de aminoácidos que mimetizam proteínas necessárias para diversos processos que asseguram que a pele funciona no seu melhor. Começaram a ser usados na cosmética no início dos anos 2000, sendo famosos o Matrixyl 3000 (palmitoyl tetrapeptide-7 + palmitoyl tripeptide-1) e a Argireline (acetyl hexapeptide-8). Depois de um período longe dos holofotes, voltam em 2024 num revivalismo sem precedentes, explicado pelo seu imenso potencial e excelente perfil de tolerância.

Existem imensos péptidos muito relevantes para a cosmética. São ingredientes estáveis e fáceis de combinar com outros igualmente poderosos. Obtidos por processos tecnológicos cada vez mais inovadores, estas moléculas sinalizadoras penetram na pele para proporcionarem inúmeros benefícios que vão da ação anti-inflamatória à síntese de fibras de colagénio. Não esquecer ainda o ácido hialurónico: a esponja de que a pele precisa... e muito mais. É um polissacarídeo natural vital que a pele produz e acumula na epiderme e na derme, e que é capaz de reter até cerca de mil vezes o seu peso em água, hidratando-a e preenchendo-a. Apesar de se defender globalmente que o seu teor na pele diminui com o envelhecimento, algumas pistas atuais apontam antes para uma alteração da sua estrutura, que condicionará a sua performance. Como resultado: pele menos hidratada e preenchida, com mais rugas e, até, desprotegida, uma vez que também atua como prebiótico. A sua presença nos cosméticos, em diversos pesos moleculares, contraria tudo isto e é mesmo muito importante. Finalmente, os retinoides: os cavalos de corrida do envelhecimento. Neste termo cabem o retinal, o retinol, e os ésteres de retinol, por ordem decrescente de potência. Obviamente que a concentração vai afetar o seu desempenho, mas o lugar no pódio reflete a facilidade de se converterem, já dentro da pele, em ácido retinoico: a forma que a nossa pele sabe usar em proveito próprio. São ingredientes antioxidantes transformadores que relançam a renovação celular, melhoram a firmeza e, também, a hidratação. Sozinhos ou combinados, a longevidade da pele vai além dos ingredientes cosméticos. A nossa aparência é um reflexo da qualidade do nosso estilo de vida, da nossa saúde emocional e nutricional, e até do ar que respiramos. A ciência valida que rotinas cosméticas completas – com limpeza, tónico, sérum, creme, protetor solar – conferem à pele melhores resultados em termos de hidratação, luminosidade e proteção contra o envelhecimento. Consistência é uma palavra necessária porque a transformação real da pele implica tempo. Tal como no exercício físico, a pele precisa de ser estimulada metódica e regularmente. É muito importante fazer todos os dias os passos do ritual que escolhermos para a nossa pele, sendo que o melhor ritual é aquele que pudermos cumprir. No “Elixir Da Eterna Juventude, Envelhecer é uma arte”, mas acrescente-se uma ciência... ou várias.

Joana Nobre By Joana Nobre

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