O surf como terapia é mais que um mantra dos praticantes da modalidade. É uma realidade.
"Quando me ponho em pé numa onda, em pose num rasgo da prancha de surf, sou tanto peixe quanto pássaro. Em cada ocasião de alegria e medo, sou educado nas formas complexas do mar - uma lição constante em mindfulness." É assim que Sam Bleakley introduz o seu discurso no livro Mindfulness and Surfing: Reflections for Saltwater Souls. A ideia de que o surf é terapêutico é fácilmente percetível empiricamente, mas a sua verificação tem componentes científicas - que a Vogue explora em Feeling Down? Surf's up., um artigo sobre os efeitos da prática em estados depressivos, para ler na edição Into the Blue da Vogue Portugal.
© Frederico Martins para Vogue Portugal The Madness Issue
© Frederico Martins para Vogue Portugal The Madness Issue
O surf como terapia é mais que um mantra dos praticantes da modalidade. É uma realidade. Não só por todos os argumentos que se podem listar derivados de estudos que correlacionam o mar e a prática de exercicio físico ao ar livre com a saúde mental e bem estar de uma pessoa, bem como dos testemunhos de quem sentiu na pele esses benefícios (argumentos para ler na edição em banca), mas também pela emergência um pouco por todo o mundo de projetos que fazem desta filosofia um modo de vida. Não é à toa que a ISTO existe: a International Surf Therapy Organization nasce exatamente de uma necessidade de agregar numa única morada online as iniciativas que aplicam a modalidade como uma forma terapêutica de lidar com o stress, a ansiedade, a depressão ou simplesmente como forma de manter o equilíbrio emocional. Quer isto dizer que o surf é a cura para estados depressivos? ou que um surfista não sofre de depressão? Não, longe disso. Ninguém é imune a passar por isso, nem o surf confere a quem quer que seja essa imunidade, e não é uma modalidade milagrosa. Mas, e acima de tudo em conjunto com o acompanhamento psicológico e psiquiátrico, bem como outras recomendações terapêuticas, pode contribuir para atenuar os sintomas e emoções negativas derivadas deste género de maleitas que parecem ser o flagelo do novo século.
Por exemplo, em 2015, médicos da localidade costeira de Biarritz, França, começaram a prescrever aulas de surf aos doentes que apresentavam dificuldades do foro psicológico, com resultado imediatos e positivos no diagnóstico. Mais de 20 médicos aderiram a este projeto piloto, cujo propósito residia na redução da medicação dos doentes, prescrevendo programas de 12 semanas de aulas de surf ou outras atividades aquáticas. Não foram pioneiros: em 2019, no Reino Unido, o Wave Project iniciava o projeto que recorria às aulas de surf como terapia, para 20 alunos diagnosticados com problemas de saúde mental. Foi o primeiro do género financiado pelo Serviço Nacional de Saúde, uma iniciativa que valida a existência da ISTO, cujo último propósito é incorporar a terapia de surf como uma reconhecida prescrição médica e, eventualmente, incluí-la como curso, integrando alinhamentos de formação universitários, por exemplo.
Desde então, outros do género surgiram e Portugal não é excepção: a Wave by Wave, por exemplo, começou em 2016 com o projeto Surf Salva Camp, do qual resultou o primeiro artigo científico sobre o tema, com leitura (esta e outras relevantes sobre o tema) disponível aqui. A Associação Surf Adaptado, por sua vez, "pretende criar um movimento à escala nacional e quem sabe à escala europeia que permita às pessoas com deficiência desfrutarem do mar, baseando-se num princípio simples: dar formação às escolas de surf e criar entre a comunidade surfista, um grande movimento de voluntários", explicam. A Surf.art também se baseia nesta ideia da ligação entre surf e bem-estar e aplica-a a faixas etárias mais jovens, num "projeto experimental que visa promover a melhoria do bem-estar social e o sucesso na vida de crianças e jovens, através da prática do Surf e do contacto com a natureza", descrevem-se. Numa filosofia focada nas crianças, "através do incentivo de uma prática desportiva como o Surf, pretende-se promover nestas crianças competências como a autonomia, a liberdade de expressão e a gestão de emoções e assim desenvolver a resiliência, melhorar as relações pessoais e familiares e promover a motivação para as aprendizagens escolares", diz a página do projeto parceiro da Câmara Municipal de Cascais. E ainda no âmbito do surf enquanto ferramenta para desenvolvimento de skills que nos ajudam a ultrapassar o dia a dia, surge a Associação Surf Social Wave, que através do seu programa Surf para a Empregabilidade, que já vai na sua 7ª edição (começa em novembro), pretende ajudar os seus participantes a singrar da melhor maneira no mercado de trabalho, ajudando, pelo caminho, elementos que encontram no surf um escape terapêutico.
"Estou ligado ao surf há mais de vinte anos e durante muito tempo tive uma empresa que organizou os principais campeonatos de surf nacionais e internacionais, tivemos uma escola de surf que em dez anos deu aulas a mais de 15.000 pessoas, a única revista de surf gratuita em Portugal, lançamos ainda uma modalidade desportiva, o Bodysurf, que existia, mas não como modalidade organizada (campeonato nacional), tendo também eu escrito dois livros ligado ao Surf..." António Pedro de Sá Leal é fundador da Surf Social Wave e tem mais do que credenciais para falar do srf e da sua aplicabilidade - a nível terapêutico, pessoal, profissional, social. "Em agosto de 2016 considerei que o meu percurso como empresário ligado ao surf estava no fim, no sentido em que realizei o que me tinha proposto em 1996 quando decidi dedicar a minha vida ao surf. Como empreendedor que sou comecei a olhar para o que vinha a seguir e o que queria fazer. Dos vários projectos que tinha em mente este sobressaiu em relação aos restantes. Queria acima de tudo dar de volta. O surf tem-me trazido felicidade todos os dias e o desafio era levar essa possibilidade a outras pessoas. (...) Não existia na altura e ainda não existe nenhum programa, como o da Associação Surf Social Wave que se dedique a trabalhar com adultos em situação de desemprego e foi aqui que encontrei a oportunidade de dar de volta. Investi, como faço habitualmente, o meu tempo, dedicação e amor neste projecto que vai já para a 7ª edição do Programa Cascais Surf para a Empregabilidade (que começa a 2 de novembro de 2020)", explicou à Vogue. Porque é que isto tudo é importante num artigo sobre terapia de Surf? Porque a dimensão do surf vai muito além do tempo que se passa na água. AS valências do surf ganham efeitos terapêuticos dentro de água, mas depois reverberam na sua aplicação no dia a dia real. "No fundo trabalhamos muito na lógica de mente sã e corpo são, tendo o surf como âncora".
Ainda que não seja terapia única para as maleitas da vida, o surf melhora o estado de espírito e qualquer uma destas associações pode ser o life-changing moment que procura. Se ainda tem dúvidas sobre os benefícios do surf no corpo e espírto, falamos sobre "curing blues with blue" na edição Into the Blue da Vogue Portugal.
Most popular
H&M relança peças de arquivo das suas colaborações emblemáticas com designers convidados
28 Oct 2024
O que é sexy agora? A Victoria's Secret apoia-se no seu passado para regressar às passerelles
16 Oct 2024
Relacionados
Notícias Curiosidades Eventos
A nova geração da Moda de Nova Iorque: Diotima, Willy Chavarria, Luar e Zankov levam para casa as maiores honras nos Prémios CFDA 2024
29 Oct 2024