Para o primeiro desfile de pronto-a-vestir na Kenzo, o o designer português está a criar roupas para se "viver" - e ainda, fomentar uma discussão em torno da sustentabilidade e do espírito jovem.
Para o primeiro desfile de pronto-a-vestir na Kenzo, o o designer português está a criar roupas para se "viver" - e ainda, fomentar uma discussão em torno da sustentabilidade e do espírito jovem.
© Saskia Lawaks
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No dia 26 de Fevereiro, 50 anos depois da sua criação, a Kenzo iniciou uma nova era com a estreia do diretor criativo Felipe Oliveira Baptista na Paris Fashion Week. Desde que Knezõ Takada vendeu a sua marca homónima à LVMH em 1993, Gilles Rosier, Antonio Marras e, mais recentemente, a dupla Carol Lim e Humberto Leon, da Opening Ceremony, continuaram o legado da marca.
A chegada de Baptista à Kenzo é marcada por uma coleção alimentada em torno de ideias que temos relativamente à nossa existência peripatética - pense em djellabas, casacos almofadados que lembram sacos de cama e chapéus do deserto - enquanto desenhava no arquivo colorido de cortes fluidos e de impressões estampadas da Kenzo. "É muito interessante ter um diálogo com uma casa de Moda como a Kenzo, devido ao seu legado, e depois combiná-lo com a minha visão do mundo e dos tempos em que vivemos", diz o designer português, que recebeu dois prémios ANDAM pela sua marca homónima, que encerrou para se concentrar na Lacoste, onde foi diretor criativo durante oito anos, até 2018.
Durante o tempo que lá passou, Felipe Oliveira Baptista, agora com 44 anos, ficou conhecido pelas suas coleções-cápsulas inovadoras e designs funcionais, que pretende manter - traços que aprendemos quando nos encontramos com o criador nos estúdios da Kenzo.
Qual foi o ponto de partida para a coleção de estreia?Eu chamei [a coleção] Going Places e é baseada na ideia de roupas que são fáceis de usar e de nos fazer viver nelas. Do Japão a Paris, sempre houve um aspeto muito universal no trabalho da Kenzo.
Como acha que a estética da Kenzo complementa a sua?Sempre gostei [que os designs da Kenzo] têm uma ideia de Moda muito forte, mas são ao mesmo tempo vestíveis - têm espaço para movimento e liberdade. Muitas das roupas [desta estação] têm múltiplas funções e podem ser adaptadas: casacos totalmente reversíveis, que quase se abrem para se tornarem num saco de cama e saias com fechos que mudam o flare do look. Os estampados são uma colaboração com [o falecido artista português] Júlio Pomar. Ele fez pinturas incríveis de tigres e do sol, e o facto da Kenzo sempre se ter sentido muito otimista em relação a mim, fez com que eu quisesse um [emblema] de tigre na marca. Eu retirei um print de rosas do arquivo, e criei um tema de camuflagem a partir de um print de cavalos.”
© Saskia Lawaks
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Porque é que quer criar roupa que possa ser "vivida"?É uma coisa de segurança. Quero ser positivo em tempos tão inseguros. Hoje, estamos sempre a viajar, movemo-nos muito e precisamos de roupas que se adaptem às nossas necessidades. Também se sustenta nas ideias em torno da sustentabilidade - precisamos de encontrar novamente na Moda a sensação de intemporalidade que existia no início da Kenzo.
No desfile da Lacoste, em 2018, apresentou a coleção Endangered Species com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), deixando pela primeira vez na sua história de 85 anos o logótipo de crocodilo da marca, substituindo-o por temas de espécies em perigo de extinção. Tem alguma campanha de sustentabilidade planeada para a Kenzo?Uma das coisas mais excitantes de ser designer de Moda é [a oportunidade] de mudar a mentalidade das pessoas; criar coisas que sejam mais amigáveis, impulsionar a inovação e encontrar soluções para os problemas. Temos duas coleções-cápsula a chegar no final deste ano que são completamente orgânicas, desde a aquisição das fibras até à peça de vestuário finalizada.
Entre deixar a Lacoste e chegar à Kenzo, conseguiu tirar algum tempo para se reencontrar?Viajei para o Brasil, Argélia e Japão. O meu pai era piloto de avião, então viajo bastante desde muito jovem. Acho realmente inspirador olhar para diferentes realidades e maneiras de fazer as coisas. Levei cerca de seis meses para [expor as minhas] intenções e propostas para a Kenzo, para que elas ficassem claras. É importante refletir e ter tempo para ficar a conhecer a equipa.
As coisas que observou nessas viagens mais recentes resultaram, em parte, numa fonte de inspiração para a coleção outono/inverno 2020?As proporções e o comprimento do vestuário que vi na Argélia influenciaram, definitivamente, os homens desta colecção, mas eu queria manter todas as referências muito leves.
© Saskia Lawaks
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Teve a sua própria marca, assim como título de designer em marcas de Moda estabelecidas. O que o estimula mais a nível criativo?Quando estás a desenhar para ti mesmo, cada estação tem que vir do coração e podes ser mais rápido nas tuas decisões. Desenhando para uma marca, com este legado, há mais distância e acaba por ser um pouco mais leve. De certa forma, acho mais fácil trabalhar dentro de uma estrutura [pré-estabelecida] e com [mais] recursos. Tenho gerido equipas de 40 a 50 pessoas há mais de 10 anos.
Como pretende comunicar os seus projetos na Kenzo?Eu quero trabalhar com pessoas que sejam criativas e que façam coisas interessantes. Quer tenham 17 ou 70 anos, eu gosto da ideia de espíritos jovens. Há algo de muito jovem na Kenzo. Eu convidei [o produtor britânico e rapper] Tricky para um evento. Quando eu morava em Londres, nos anos 90, eu ouvia muito a música dele e cheguei a usar uma das suas faixas para um desfile, há cerca de 10 anos.
Costuma ouvir música durante o seu processo de criação?O tempo todo. Eu acho isso muito inspirador. O que eu gosto de ouvir varia - gosto de eletrónica, adoro hip-hop e soul - até usamos algumas faixas de artistas como Frank Ocean e Rosalía retiradas do [drama da HBO] Euphoria, para o desfile.
Todas as propostas para o outono/inverno 2020 de Kenzo.
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