Entrevistas  

Gracie Abrams em Lisboa: "Foi libertador ser um pouco mais 'barulhenta' nesta fase da minha vida"

13 Feb 2025
By Beatriz Fradoca

Michael Loccisano/Getty Images for iHeartRadio

No dia do seu primeiro concerto em Lisboa, Gracie Abrams abriu a porta do seu universo criativo à Vogue Portugal. Entre bastidores, conversámos sobre os rituais que antecedem cada espetáculo, a paixão que move a sua escrita e os pequenos detalhes que tornam esta tour especial.

Desde pequena, Gracie Abrams encontrou nas palavras um refúgio, e na música, a forma de as fazer chegar aos outros. As suas canções são diários abertos, relatos íntimos de emoções cruas que, em palco, ganham uma nova dimensão.  No dia 11 de fevereiro, em Lisboa, viveu o maior concerto a solo da sua carreira— um momento que marcou não só a The Secret of Us Tour, mas também a sua crescente ligação com o público. A Vogue Portugal conversou com a artista antes do espetáculo sobre o seu processo criativo, a relação com os fãs e os sonhos que ainda quer concretizar.

Estás a fazer a tua primeira tour europeia, como te sentes?

Estou muito entusiasmada. Tem sido uma viagem incrível e, apesar de não estarmos cá há muito tempo, é tudo tão especial, especialmente porque este é o maior espetáculo que já fiz a solo.

Quais são os teus três essenciais antes de subir ao palco?

Muita água e mel, adoro comer colheres cheias de mel antes de atuar. Também diria proteína, qualquer tipo de proteína, para manter a energia ao longo do concerto.

Há alguma peça de Moda que trazes sempre contigo, seja em palco ou no dia a dia?

Os laços têm sido uma peça essencial nesta digressão. Sinto que estão a ser incorporados de novo no guarda-roupa de praticamente todos os meus looks para esta tour.

Vimos muitas pessoas lá fora a usá-los, por isso são realmente uma peça-chave.

Sim, tornou-se um símbolo de comunidade. Por isso, gosto de os usar também.

Emma McIntyre/Getty Images for The Recording Academy

Tens algum look que te faz sentir melhor em palco?

No último ano, tenho usado muitos vestidos, o que antes não era comum para mim. Mas, honestamente, sinto-me mais livre em algo fluído. É um sonho poder movimentar-me pelo palco sem restrições. No entanto, qualquer tecido que fique bonito sob as luzes do palco deixa-me entusiasmada.

Este mês, o tema da Vogue Portugal é "Paixão", e a tua música incorpora isso - tanto nas letras como na forma como cantas. Como é que te relacionas com esse sentimento no teu processo criativo?

A minha escrita nasce desse sentimento. Escrevo desde muito pequena porque sempre senti uma necessidade de me expressar através da música, de uma forma que não me sentia tão à vontade a fazer em conversa. Acho que essa paixão está presente em tudo o que faço. E, para ser sincera, os fãs alimentam ainda mais esse sentimento, porque são incrivelmente apaixonados nos concertos. Isso inspira-me a viver e a criar com a mesma intensidade.

"The Secret of Us" parece uma versão mais extrovertida de ti. Como encaras essa mudança - de introvertida para extrovertida - tanto a nível pessoal como artístico?

Acredito que, quanto mais me conheço, mais confiante me sinto para expressar os meus sentimentos de forma direta. Este álbum reflete muito essa evolução. Grande parte da sua identidade foi moldada pelas minhas experiências, mas também pelo facto de ter escrito muitas destas canções com o meu grande amigo [Aaron Dessner]. Quando estamos com pessoas em quem confiamos, tendemos a ser mais abertos e expressivos, e isso traduziu-se na sonoridade deste projeto.

É uma versão mais autêntica de ti?

Exatamente. Mais aberta. Sinto que este álbum foi um passo emocionante numa direção inesperada para mim. Foi libertador ser um pouco mais "barulhenta" nesta fase da minha vida.

Estás a fazer um "scrapbook" da tour. O que é que tens guardado até agora? Tens algum favorito?

Muitas cartas, muitas Polaroids dos concertos. Tenho colecionado todos os pequenos pedaços de papel que encontro. Mas estou particularmente entusiasmada com as Polaroids que tiro durante o concerto. Temos um "B stage" pela primeira vez, onde recriámos o meu quarto de infância - o mesmo onde fiz os meus primeiros espetáculos via Zoom, durante a pandemia.

Foste tu que tiveste essa ideia?

Sim. Gravei o videoclipe de I Miss You, I'm Sorry nesse quarto, e foi lá que escrevi muitas das minhas primeiras canções. Esse espaço foi o ponto de encontro inicial entre mim e os meus fãs. Agora que tenho a sorte de atuar em salas cada vez maiores, senti que fazia sentido trazer esse elemento de volta.

Como uma zona de conforto.

Exatamente. Por isso, tiro Polaroids de cada "parede" do público, de cada lado do palco. Até agora, essas são as minhas páginas favoritas do scrapbook.

Escrever num diário parece algo instintivo para ti. Estás sempre a pensar nisso ou surge naturalmente?

Faço questão de escrever o máximo possível. Pode ser apenas um relato comum do meu dia ou páginas e páginas de pensamentos reprimidos. Varia imenso, mas é sem dúvida a minha posse mais preciosa. Se alguém alguma vez o lesse, acho que enlouquecia.

Esses sentimentos acabam por se transformar em canções ou é um processo independente?

Andam de mãos dadas. Há sempre uma entrada de diário por trás de cada música que escrevo. Nem sempre começam por lá, mas escrever sobre tudo faz-me sentir melhor.

Como sabes quando uma canção está realmente terminada?

Depende. Algumas escrevo de uma só vez, em dez minutos. Outras, reescrevo e ajusto durante semanas. Mas, no final, é quando sinto que atingi um ponto de encerramento emocional, e aí sei que está pronta.

O que é que os teus fãs ficariam surpreendidos por saber sobre ti?

Espero que fiquem surpreendidos com o quanto os amo. Espero que sintam isso. Estar em tour, ver os seus rostos, sentir a energia na sala... faz o meu dia, sempre. Faz-me sentir a pessoa mais sortuda do mundo.

Tens um refrão favorito para ouvir os fãs gritarem?

That's So True tem sido incrível, porque há uma paixão genuína nas vozes deles. Essa música, em particular, foi escrita num momento de alguma frustração – não estava exatamente feliz quando a compus. Quer dizer, fiquei muito entusiasmada no dia em que a terminámos, mas o sentimento por trás dela tem um certo tom de ressentimento. Por isso, ouvi-los a gritá-la comigo torna tudo ainda mais intenso. Além disso, em todas as músicas onde há harmonias ou camadas vocais que não consigo reproduzir sozinha ao vivo, eles preenchem sempre esses espaços. É incrível sentir essa troca constante.

É a tua primeira vez em Portugal. Sabemos que adoras batatas fritas com sal e vinagre, mas já provaste algum prato típico português?

Ontem fui a um restaurante de barbecue coreano, o que não é exatamente português... Sei que não conta! Mas, até agora, o mais próximo que tive da gastronomia local foi puré de batata ao jantar. Isso conta?

Se abríssemos a tua mala de tour agora, qual seria o objeto mais inesperado?

Para ser honesta, esta foi provavelmente a tour em que fiz a mala mais aborrecida de sempre. Acho que foram precisos quatro anos de digressões para perceber que acabo sempre a usar as mesmas duas coisas: ou estou de sweatpants ou de jeans.

Pode ser a tua coisa favorita...

Bem, tenho uns pesos de mão! [risos] Mas, na verdade, acho que o mais invulgar que trouxe foi um nebulizador, que basicamente funciona como um vaporizador para a voz. Talvez isso seja um pouco fora do normal.

Se pudesses trocar de guarda-roupa com qualquer artista, quem escolherias?

Stevie Nicks. Os looks dela são icónicos: mágicos, boémios e misteriosos. Também adoro o estilo de Florence Welch [Florence and the machine] - aquele ar étereo e romântico.

Uma vez disseste que a Taylor Swift era a tua colaboração de sonho. Agora que isso aconteceu, quem é o próximo na tua lista?

Acho que diria... a Taylor outra vez. Mas Bon Iver é, sem dúvida, um favorito intemporal. Ainda assim, tenho a sorte de trabalhar frequentemente com o Aaron Dessner, que sempre foi um sonho para mim. Agora, ele é praticamente família. Por isso, enquanto puder continuar a criar com o Aaron, sinto que os meus sonhos se realizam vezes sem conta.

Taylor Swift e Gracie Abrams na Eras Tour
Gareth Cattermole/TAS24/Getty Images for TAS Rights Management

Imagem de homepage retiradaEmma McIntyre/TAS24/Getty Images para TAS Rights Management
Beatriz Fradoca By Beatriz Fradoca
All articles

Relacionados


Entrevistas  

"Uma experiência sensorial única”: Stacia Lang, figurinista de Prince, recorda os bastidores do guarda-roupa do ícone

11 Nov 2024

Curiosidades  

A Met Gala 2025 já tem dress code - e é pessoal

04 Feb 2025

Lifestyle  

Quem é Jack Antonoff, o produtor por detrás de Taylor Swift e Lana Del Rey?

12 Apr 2024

Curiosidades  

Os 6 álbuns de vingança mais famosos da história da música

16 May 2024