Numa ode à cultura carioca, a perfumaria Granado leva-nos numa viagem sensorial onde história e tradição andam de mãos dadas. Numa entrevista com Sissi Freeman, a mulher que está por detrás do sucesso da marca, a Vogue ficou a conhecer as suas inspirações e como esta posiciona a casa na vanguarda da perfumaria.
Com o poder de nos transportar para um rendez-vous com o passado ou, por outro lado, de dar a conhecer novas fronteiras, o aroma certo pode levar-nos numa verdadeira viagem sensorial. É para o emblemático Rio de Janeiro, com as suas praias paradisíacas e natureza verdejante, que a Granado, a perfumaria mais tradicional do Brasil, nos leva. Sem precisar de comprar um voo de última hora de Lisboa para o Rio, a perfumaria encontra-se no Chiado, na capital, e oferece um leque de propostas onde brilham não só os seus aromas clássicos, mas também as mais recentes adições.
Fundada em 1870 no Rio de Janeiro pelo português José Coxito Granado, e mais tarde comprada pelo inglês Christopher Freeman, a perfumaria teve as suas origens como uma farmacêutica especializada em remédios naturais criados a partir de plantas, ervas e flores nativas que o primeiro cultivava. Esta mesma tradição foi mantida ao longo dos anos, tendo como principal foco a qualidade e intemporalidade dos aromas criados. Entre as novas propostas da marca sobressaem fragrâncias como Violeta, uma colónia elegante com notas aromáticas e amadeiradas, utilizando flores atípicas como a íris e a violeta e “para quem não gosta muito de fragrâncias cítricas, esta pode ser uma colónia ideal”; ou Magnólia com tons suaves e delicados, que repousam levemente no corpo evocando uma sensação de conforto, mas sem “nada de ostentação”. A Granado tem-se afirmado no mundo da perfumaria e, unindo uma herança e estética distinta, é um dos nomes de referência no panorama atual da perfumaria. A Vogue Portugal conversou com Sissi Freeman, a empresária brasileira que hoje lidera a casa.
Sissi Freeman
A Granado tem mais de 150 anos de história e tradição. Como é que a marca tem mantido essa tradição ao longo dos anos, especialmente na criação da nova coleção Florais?
História e tradição sempre caminharam lado a lado na Granado. E a responsabilidade socioambiental sempre esteve presente ao longo da trajetória da Granado e de uma forma disruptiva. Na antiga propriedade rural do fundador da empresa, eram cultivadas flores e plantas medicinais utilizadas nos elixires comercializados pela antiga botica. A alta qualidade dos produtos comercializados era reconhecida pelo público consumidor e pela própria Família Imperial Brasileira. Em 1884, o Imperador D. Pedro II concedeu à Granado o título de “Pharmácia Oficial da Família Imperial Brasileira”. O cuidado e a atenção às matérias-primas usadas na produção dos medicamentos e dos cosméticos foram perpetuados ao longo dos anos, gerando uma reputação positiva e uma memória afetiva que se mantém até os dias atuais.
Em 1994, a empresa foi vendida para o inglês Christopher Freeman e as diretrizes ambientais continuaram cada vez mais evidentes. A Granado, em 1998, foi a primeira empresa no Brasil a utilizar glicerina vegetal nos seus sabonetes. Além disso, não há testes em animais e temos uma unidade fabril totalmente comprometida com o desenvolvimento sustentável.
A Coleção Florais traz à tona cinco colónias que foram sucesso em vendas no Brasil, pois encantam por sua delicadeza e colocam as flores em destaque como ingrediente principal em suas criações. Há um floral para cada perfil olfativo – do fresco ao mais clássico. Cada fragrância possui uma caixa exclusiva estampada e uma pintura em seu frasco de acordo com sua identidade. As artes foram inspiradas em cartões postais com ilustrações botânicas florais que remetem aos campos de flores do antigo sítio do fundador da empresa.
A Granado tem vindo a crescer no mercado português, tornando-se num nome de referência. Como está a ser esta adaptação ao país?
A adaptação está muito boa. Inaugurar uma loja em Lisboa sempre foi um desejo do presidente da empresa. Também foi uma forma de homenagear o fundador José António Coxito Granado. Ele saiu de Portugal em 1857, aos doze anos, para tentar a sorte no Brasil. Em terras brasileiras, ele trabalhou, comprou sua primeira botica em 1870 e conquistou grandes admiradores por sua dedicação ao desenvolvimento de medicamentos voltados para o bem-estar e a saúde das pessoas. Além disso, sempre esteve à frente do seu tempo, buscando melhorias para a cidade do Rio de Janeiro, que tão bem acolheu o jovem José António. Convém ressaltar uma informação curiosa sobre o fundador da Granado: ao receber os documentos da venda da empresa, o neto do Sr. Granado mostrou ao novo presidente o desejo registado em testamento de que a botica fosse levada para terras internacionais pelas mãos de um estrangeiro. E este sonho foi alcançado em 2022, 87 anos após do falecimento do fundador da empresa, a Granado foi comprada pelo inglês Christopher Freeman e, em 2013, inaugurou a primeira loja em Paris.
Um facto curioso notado entre os consumidores portugueses está na escolha das fragrâncias. Nossos florais foram muito bem recebidos, como Flora Magnífica, Époque Tropical e Gardênia. No entanto, como bons europeus, sempre há uma fragrância mais forte que atrai a atenção. Neste caso, o perfume Boemia foi o escolhido como preferido.
Qual foi a principal inspiração por detrás desta nova coleção, Florais?
Todos os anos lançamos uma fragrância floral em edição limitada para homenagear as mães. Este ano, reunimos todas numa em uma coleção e ampliamos o portfólio com outros itens, como: velas, difusores, colónias de 100ml e creme para ass mãos… Além disso, também lançámos Flora Magnífica, que é um novo floral.
As fragrâncias da coleção Florais
A coleção Florais foi criada em colaboração com perfumistas renomados. Pode contar-nos um pouco mais sobre como foi trabalhar com eles e como foi o processo de criação?
A escolha dos perfumistas é muito criteriosa. Além de pesquisar as criações renomadas desses profissionais, também buscamos essa identificação com a marca. É fundamental que eles entendam a nossa relação com o cliente, a história da empresa ao longo dos anos e a utilização de ingredientes de primeira linha e ambientalmente corretos. Apresentamos o nosso briefing e mantemos contactos frequentes com os perfumistas para que eles entendam os sentimentos de bem-estar, conforto e felicidade que desejamos transmitir em cada borrifada. Fazer parte da memória afetiva dos nossos clientes é muito importante para nós. É uma das tradições da marca e concretiza a missão do nosso negócio.
Cada fragrância da coleção Florais parece contar uma história única. Que emoção ou lembrança espera que cada perfume evoque em quem o usa?
Em cada fragrância criada há um público-alvo. Imaginamos sempre uma resposta à pergunta “Quem vai gostar?” Por isso, nossas colónias atingem os sentidos das pessoas, despertando diferentes emoções.
Apesar de ser endereçado às mulheres, Gardênia é uma fragrância compartilhável, que foi eleita por alguns como fragrância-assinatura pela sua intensidade! [...] Apesar da floralidade, tem especiarias como cardamomo, chá e âmbares, o que transmite muito conforto e prolonga a substantividade sobre a pele. A Violeta é uma colónia compartilhável e elegante para quem ama especiarias, notas aromáticas e amadeiradas, mas também flores mais incomuns na perfumaria, como a violeta e a íris. Para quem não gosta muito de fragrâncias cítricas, esta pode ser uma colónia ideal, pois tem especiarias de saída, um pouco de nota de pinheiro, junípero (zimbro) e a floralidade não romântica da íris e da violeta. [...] Rosa Damascena é um floral rosa ambarado amadeirado [...] e a sua floralidade tem leveza e não vai deixar a fragrância carregada, como muitos possam pensar sobre a rosa. Tem um lado efervescente, meio “sparkling”, que a deixa alegre. É uma fragrância feminina, mas não excessivamente delicada. Contudo, muitos homens poderão se afeiçoar a ela, principalmente aqueles que querem experimentar florais, mas não se sentem confortáveis com fragrâncias cuja embalagem é muito delicada e feminina. [...] Lírio [é um] perfume amadeirado refrescante e traz uma sensação de entusiasmo e energia. Sua saída fresca permite que ele combine com vários tipos de pessoas e ocasiões. [...] Por último, Magnólia [foi pensado para] mulheres românticas, que gostam de delicadeza, de flores leves, de roupas levemente perfumadas, de perfumação envolvente, que envelopa e conforta. Esta é uma fragrância de aconchego, que abraça. Nada de ostentação.
Sabemos que é sempre difícil escolher favoritos, mas, se pudesse escolher apenas uma fragrância da coleção, qual seria?
Gosto de todas, mas Gardênia é uma das minhas favoritas. Mesmo sendo um floral, por conta da sua personalidade e toque amadeirado, é capaz de agradar a todos!
Gardênia, uma das fragrâncias eleitas de Sissi Freeman
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