Um relatório do governo iraniano diz que metade do país quer deixar de usar os tradicionais lenços na cabeça.
Um relatório do governo iraniano diz que metade do país quer deixar de usar os tradicionais lenços na cabeça.
© Getty Images
O Presidente Rouhani divulgou um estudo que mostra a mudança drástica na opinião da população no que à obrigatoriedade do uso do hijab diz respeito - 49% dos iranianos acreditam que a utilização da peça deve ser uma escolha privada e não uma lei. O estudo, publicado este domingo, mostra um crescimento na oposição à regra e surge apenas dias depois da polícia confirmar que dezenas de mulheres foram detidas na sequência de protestos contra o uso do lenço para cobrir a cabeça.
Comparando dados recolhidos em 2006, 2007, 2010 e 2014, o trabalho mostra que em 2006, 34% da população do Irão achava que o governo não devia ditar o que as mulheres usam, número que aumentou para 49% em 2014, confirmando um declínio acentuado no apoio à restrição legal sobre o vestuário das mulheres, que foi uma das maiores alterações trazidas pela Revolução Islâmica de 1979. É possível que os dados de 2017 se revelassem com valores ainda maiores, asseguram as mulheres locais.
No estudo, e em paralelo, o número de apoiantes sobre o uso do chador (vestuário que cobre todo o corpo feminino, deixando apenas a face à vista) desceu de 54% para 35%, entre 2006 e 2015, bem como os defensores de sanção policial sobre as mulheres que não usem hijab, que baixaram de metade para 39%.
Já há 40 anos, desde a Revolução, que as mulheres iranianas têm têntado refutar a norma do uso obrigatório do lenço e a sua luta ganhou novo fôlego bo final do ano passado, depois de uma mulher de 31 anos, que ficou conhecida como a "rapariga da Rua Enghelab", subiu a uma caixa nesta rua (cujo nome significa Revolução) em Teerão, com a cabeça a descoberto, acenando com o seu lenço branco preso num pau. Vida Movahed, como se chama, tem sido considerada uma heroína e pioneira nesta luta contra a obrigatoriedade do hijab. Movahed, mãe de uma criança de 19 meses, foi detida ao longo de várias semanas, antes de ser libertada sob custódia a 26 de janeiro.
Narges Hosseini é outra ativista iraniana que foi presa a 30 de janeiro por ter seguido o exemplo de Mohaved em solidariedade com a conterrânea, mais uma história que despertou a atenção internacional e desencadeou outra série de protestos.
Além dos protestos públicos, há mulheres a partilhar fotos de si próprias em público com as cabeças a descoberto - um pedaço de história que está a ser colecionada no website My Stealthy Freedom. Pode ser o primeiro passo para um salto gigante no que aos direitos das mulheres no Irão diz respeito.