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As oito magníficas: Indya Moore

24 Jul 2019
By Mónica Bozinoski

São mulheres, músicas, atrizes, modelos, ativistas. São agentes de mudança determinadas a moldar o nosso futuro. Para melhor. Este é o perfil de Indya Moore.

São mulheres, músicas, atrizes, modelos, ativistas. São agentes de mudança determinadas a moldar o nosso futuro. Para melhor. Este é o perfil de Indya Moore.

A primeira vez que pomos os olhos em Indya Moore é uma primeira vez mágica. O rosto angelical. O sorriso capaz de mover montanhas. Os caracóis gloriosos. Se fosse só por isso – pelo rosto angelical, pelo sorriso capaz de mover montanhas, pelos caracóis gloriosos – Indya Moore não estaria aqui. E é isso mesmo – aquilo que está para além do rosto angelical, do sorriso capaz de mover montanhas, dos caracóis gloriosos – que torna a atriz de 24 anos e protagonista da série Pose tão mágica. 

Natural do Bronx, Indya Moore soube que tinha nascido para ser Indya Moore desde sempre. “Infância”, disse sobre o momento em que percebeu que não se identificava como um homem, numa entrevista ao The Cut. “Eu sabia que era a coisa mais distante de um homem. Sempre soube.” Apesar da certeza, os pais – uma jovem mãe natural de Porto Rico e um pai católico e imigrante da República Dominicana – tentaram discipliná-la a partir do momento em que começou a mostrar padrões de comportamento considerados femininos. Queriam que Indya fosse o rapaz que era, e que agisse como tal. Queriam que Indya cumprisse as expectativas que são depositadas no género masculino. Queriam que Indya aceitasse que tinha nascido assim, e que era assim que Indya ia ser. 

Aos 14 anos, a atriz cortou o fio que a ligava à família e saiu de casa. Os pais não a conseguiam aceitar, e a sua comunidade também não. Aos 14 anos, a atriz viu-se colocada num sistema de adoção que a levou de família de acolhimento em família de acolhimento. Aos 14 anos, a atriz viu-se sozinha, numa sociedade que a oprimia, que não a reconhecia, que era incapaz de sentir empatia, que a ameaçava, intimidava, agredia e discriminava.

Apesar de tudo, Indya Moore sobreviveu – aos 15 anos, depois de ter abandonado o ensino secundário e ter sido descoberta no Instagram, começou a fazer alguns trabalhos como modelo. Aquilo que se seguiu foi uma prova de que o destino funciona de formas demasiado misteriosas. Depois de um encontro com o bailarino José Gutiérrez Xtravaganza, o coreógrafo do icónico videoclipe Vogue de Madonna, Indya tornou-se membro da House of Xtravaganza, uma das casas mais lendárias da cena ballroom. Da House of Xtravaganza, integrou o elenco de Saturday Church, um musical coming of age onde contracenou com a atriz e cantora - e transgénero - Mj Rodriguez. Deste filme indie, voou diretamente para uma audição para a série Pose de Ryan Murphy – e nunca mais desceu à terra.

Voltou a contracenar com Mj Rodriguez, agora no papel de Angel, uma trabalhadora sexual que procura amor e aceitação, numa série que acompanha a cena ballroom dos anos 80 em Nova Iorque, as dificuldades e conquistas da comunidade LGBTQ e a crise da epidemia da SIDA, com o maior elenco de pessoas transgénero e representantes da comunidade LGBTQ alguma vez visto no pequeno ecrã. Nós dissemos que o destino funcionava de formas demasiado misteriosas. “Todas as pessoas que viram Pose e que não são transgénero ou que não têm qualquer ligação à comunidade LGBTQ tiveram a oportunidade de criar relações de empatia com as personagens que, de outro modo, nunca teriam criado”, defendeu em entrevista à edição americana da GQ. “E isso é essencial para ajudar a combater a homofobia e a transfobia.” 

Hoje, e identificando-se como uma pessoa não-binária (apesar de preferir o uso dos termos they, them ou they, Indya reconhece que, numa sociedade binária e cisgénero, as pessoas ainda não estão totalmente preparadas para isso), o combate à homofobia e à transfobia está na raiz da voz ativista de Indya Moore – uma voz ativista que Indya Moore tem vindo a descobrir e a cultivar cada vez mais, partilhando histórias reais que nos mostram que ainda há um longo caminho para percorrer, educando os seus seguidores sobre questões de género e identidade, usando a sua influência para dignificar causas e ser um veículo de aceitação e cicatrização para aqueles que mais precisam dela.

“Tens de aceitar as consequências e o sacrifício”, confessou à Teen Vogue sobre os riscos de ser tão vocal nas redes sociais.“Eu digo coisas que deixam as pessoas desconfortáveis e aborrecidas, porque elas não querem que eu utilize a minha plataforma para dizer a verdade. Elas não querem que eu utilize a minha plataforma para beneficiar as pessoas que elas marginalizaram. Elas só querem que eu seja bonita. Mas eu não sou essa pessoa. Mesmo antes de Pose, eu já estava envolvida em ações de ativismo e lutava pela minha comunidade. Isso não me impediu de entrar nesta indústria, mas as pessoas vão ter sempre medo daquilo que eu possa dizer.” Consequências e riscos à parte, a voz de Indya Moore é uma voz que não será silenciada – e agora sabe  o porquê de Indya estar aqui, e o porquê de Indya ser tão mais do que o rosto angelical, o sorriso capaz de mover montanhas e os caracóis gloriosos. 

Este é um dos oito perfis de 'As oito magníficas', há mais para ler na edição de julho de 2019 da Vogue Portugal. 

Mónica Bozinoski By Mónica Bozinoski

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