A diretora criativa holandesa explica os paralelismos entre a Alta-Costura e o paraquedismo, assim como as suas esperanças para a Moda num mundo pós-pandemia.
A diretora criativa holandesa explica os paralelismos entre a Alta-Costura e o paraquedismo, assim como as suas esperanças para a Moda num mundo pós-pandemia.
©Domitille Kiger usa a coleção de outono/inverno 2021 de van Harpen. Fotografia de King Axle
©Domitille Kiger usa a coleção de outono/inverno 2021 de van Harpen. Fotografia de King Axle
“Ela está ligada com a natureza, arte e inovação”, diz Iris van Herpen, sobre a mulher para quem faz a sua coleção. “Mas ela também vê o valor do material e da construção.” E todas essas imagens de marca são mais claras do que nunca nesta estação, enquanto a designer apresenta uma coleção que desafia a gravidade, Earthrise, juntamente com um filme que acompanha a coleção que é, honestamente, mind-blowing.
Fundada em 2007, a maison da designer holandesa de 37 anos, tem sido reconhecida pelas suas inovações que quebram limites na Alta-Costura (a sua hipnotizante coleção outono/inverno 2019, onde vestidos esculturais se moviam com o vento), e têm sido usados por personalidades como Beyoncé, Lady Gaga e Naomi Campbell. Ao unir o artesanal com tecnologias multidisciplinares, van Herpen explora técnicas elaboradas como a impressão 3D, corte a laser, e fabricações digitais em formas nunca antes vistas. “Eu tenho uma paixão pelo artesanato”, comenta Iris. “Tem havido uma incrível evolução do artesanato ao longo dos séculos e tem um lugar importante no nosso futuro.”
Ao trabalhar em colaboração com Domitille Kiger, campeã de paraquedismo, van Herpen coloca a arte do desporto radical na vanguarda de uma coleção com uma construção meticulosa de tecidos inovadores. E o filme? Um espetáculo luminoso que tem o clímax na performance de Kiger, com um salto de paraquedismo coreografado, a usar uma criação de van Herpen. “Ninguém veria os paralelismos entre a Alta-Costura e o paraquedismo, mas a ligação é forte”, diz a designer, ao descrever como o tecido e o seu movimento é vital para o desporto. “Eu queria dedicar isto em parte a Domitille e à maneira incrível como vive."
A Vogue conversou com a designer via Zoom, a partir do seu atelier em Amesterdão, para discutir o novo filme da coleção, os cruzamentos com o paraquedismo e a Alta-Costura, bem como as suas esperanças para a Moda num mundo pós-pandemia.
Qual é a memória mais antiga de Moda que tem e o que é que há no artesanato da Alta-Costura que a fez querer praticá-lo?
A minha avó era colecionadora de peças, tanto modernas como históricas, que guardava no sótão. Quando era miúda, eu ia lá e transformava-me em diferentes mundos e sentia o poder da roupa. Também comecei a trabalhar com as mãos desde muito nova porque a minha mãe fazia roupas.Sinto-me atraída tanto pela arte como pela Moda. Há uma belíssima conexão entre a história e o futuro da Moda, que é aquilo que eu tento trazer com o meu trabalho.”
Como aconteceu a colaboração com a Domitille Kiger? O que há no paraquedismo que a interessa?
Eu fiz o meu primeiro salto de paraquedas quando tinha 17 e foi uma experiência que nunca me deixou, por isso segui o trabalho de campeões de paraquedismo como a Domitille. Dediquei a minha vida à moldagem de tecido e ao drapeamento, e com a Domitille, a vida dela depende no tecido desdobrar-se da forma correta. Eu falei com ela quando veio ao meu atelier e falámos sobre as semelhanças de ir além dos limites impostos nos nossos respetivos trabalhos. Foi uma combinação tão bonita. Algumas pessoas chamam ao paraquedismo um desporto, eu também o vejo como expressão artística.
©Salto de paraquedismo de Domitille Kiger, a usar a coleção de outono/inverno 2021 de Iris Van Herpen. Fotografia de Norin
©Salto de paraquedismo de Domitille Kiger, a usar a coleção de outono/inverno 2021 de Iris Van Herpen. Fotografia de Norin
De onde vieram as referências do espaço e da Terra?
Eu comecei com uma fotografia, tirada em 1968, [tirada pelo astronauta do Apollo 8 William Anders] da perspetiva de um astronauta a olhar para a Terra a partir da lua. Como a Terra, há muitos verdes e azuis na coleção. Os arquivos da NASA inspiraram-me imenso, também.
Tem um dom natural para combinar o artesanato, tecnologia e sustentabilidade - de onde vem isso?
Não há nenhum progresso específico, mas a minha forma de pensar é muito interdisciplinar, por isso gosto de trabalhar com pessoas com diferentes antecedentes, desde arquitetos, a cientistas e biólogos. O artesanato pode ajudar a ver a Moda de formas diferentes e grande parte disso é, sem dúvida, a sustentabilidade. É um caminho lento e longo mas eu acredito que investir nesse caminho ajuda-nos a dar pequenos passos em direção a um futuro melhor. Na estação passada, começámos a colaborar com Parley for the Oceans [a campanha de proteção de oceanos], que envolveu usar plásticos recuperados do oceano e transformá-los num extraordinário e super delicado e tecido fino. Esta estação, vamos integrar o tecido em várias peças e em alguns looks completos, também.
Quais foram alguns dos detalhes mais difíceis de criar para esta estação?
A principal técnica é delicadamente feita de milhares de esferas de diferentes tamanhos e graduação de cores, que criam uma ilusão ótica de movimento e profundidade, e cada círculo é cortado à mão e tem um pequeno contorno de um milímetro que também é cortado e colocado separadamente. Outro foi em colaboração com o artista Rogan Brown, cujas esculturas de papel envolvem camadas de corte fino à faca, normalmente baseados em ilustrações científicas da natureza. Traduzimos a sua técnica delicada em peças suaves de roupa. Estes foram os aspetos mais desafiantes e que mais demoraram, de tudo aquilo que fizemos.
©Preparação do vestido da coleção de outono/inverno 2021 de Iris Van Herpen para o salto de Domitille. Fotografia de Norin
©Preparação do vestido da coleção de outono/inverno 2021 de Iris Van Herpen para o salto de Domitille. Fotografia de Norin
Como vai ser o filme, e que colaboradores foram essenciais para dar vida a este projeto?
Queremos criar este sentimento de levitação. Foi gravado em França, com o paraquedismo de Domitille, e no topo das Dolomitas, em Itália. O filme foi realizado por Masha Vasyukova, cujo trabalho eu admiro e tenho vindo a seguir, ela fez parte de todo o processo desde o desenvolvimento da coleção. Também, [a modelo e intérprete nepalesa] Tsunaina tem tido um grande papel no filme, a cantar para nós.”
O que é que espera para o futuro da Moda num mundo pós-pandemia?
O momento físico de partilhar novas criações é essencial na Moda e isso não vai deixar de existir. Mas agora, há mais espaço para os designers expressarem uma coleção, tanto digitalmente como fisicamente. É libertador e espero que continuemos a ter esta liberdade de expressão.