Jane Birkin e a Hermès Birkin: a carteira mais icónica da indústria da Moda foi desenhada pela primeira vez num saco para o enjoo

Após a morte da musa da Moda Jane Birkin, aos 76 anos, a 16 de julho de 2023, Luke Leitch recorda como Jane contou a história da criação da carteira Birkin da Hermès, num desfile de moda em Paris, em 2012.

Jane Birkin, "chanteuse, actrice, icon de style", foi assim que a estação de rádio nacional francesa FIP a descreveu durante uma homenagem neste domingo. Os feitos de Birkin foram vários: para além das suas muitas conquistas na música e no cinema, foi sem dúvida a maior personificação da entente cordiale cultural que alguma vez existiu.

A própria, no entanto, estava ironicamente consciente - e considerava divertida - a realidade do legado do seu nome. Como me disse no desfile de outono/inverno de 2012 da Hermès, em março: "Agora, quando vou à América para cantar, dizem-me ‘Birkin? Como a mala?’ Eu digo: 'Sim: e a mala agora vai cantar'".

Naquele dia, Birkin estava despretensiosamente sentada na L'École des Beaux-Arts, à espera de ver a coleção de Christophe Lemaire para a Casa (Lemaire fez algumas das melhores colecções de sempre da Hermès, vale a pena salientar). Para preencher o tempo, partilhou com generosidade o seu relato em primeira mão de como nasceu a carteira mais famosa, influente e desejada de todo o mundo, em 1981.

"Lembro-me perfeitamente! Tive um upgrade da Air France num voo para Londres e vi-me sentada ao lado de um homem [o visionário Jean-Louis Dumas, da Hermès]. Não sei bem que tipo de mala tinha comigo - o meu marido Jacques Doillon tinha feito marcha-atrás com o seu carro por cima da minha, esmagando-a de propósito, dois dias antes. [Dumas] achava que eu merecia mais.

"Mal sabia ele que, nessa viagem de avião, quando tudo caiu da carteira que eu tinha, o homem ao meu lado disse: 'Devia ter uma com bolsos'. Eu respondi: ‘No dia em que a Hermès fizer uma com bolsos, terei uma’. E ele disse: ‘Mas eu sou a Hermès e vou acrescentar bolsos para si’.

Perguntei-lhe: "Porque não faz uma mala de mão que seja maior do que a Kelly mas mais pequena do que a mala do Serge [Serge Gainsbourg]? E ele disse: "Bem, como é que seria? E acho que a desenhei num dos sacos para o enjoo. E disse-me: 'Eu faço-a para si'".

Birkin explicou então que quando, algum tempo depois, se dirigiu à Hermès para comprar o resultado da sua encomenda especial do voo, Dumas sugeriu-lhe que lhe oferecesse a mala em troca do seu apelido, para batizar o design.

Disse: "Senti-me muito lisonjeada! Eles transformaram-na no sucesso que conhecemos hoje". Acrescentou depois que a Hermès lhe pagava royalties anuais (30 mil libras em 2011), que eram depois transferidos para instituições de caridade escolhidas por si. Nesse dia, Jane Birkin tinha uma Birkin preta, claramente muito usada e adorada (embora tenha dito que não era a original), cujas alças estavam entrelaçadas com pulseiras de contas, uma harmónica em miniatura e até um relógio Hermès. Sobre o relógio, disse: "Não gosto de os usar, mas às vezes é preciso ter horas".