Jenny Beavan, vencedora de dois Óscares, falou com a Vogue sobre os looks mais elaborados do filme, desde um vestido brilhante inspirado no Tree Dress, de Charles James, até à saia dramática decorada com 5.060 pétalas cosidas à mão.
Jenny Beavan, vencedora de dois Óscares, falou com a Vogue sobre os looks mais elaborados do filme, desde um vestido brilhante inspirado no Tree Dress, de Charles James, até à saia dramática decorada com 5.060 pétalas cosidas à mão.
© Disney
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Não há costume designer tão cool como Jenny Beavan. A septuagenária britânica protagonizou manchetes globais em 2016 quando ganhou o Óscar de Melhor Figurino pelo seu sensacional trabalho no pesadelo distópico de George Miller, Mad Max: Fury Road (2015) e foi até ao pódio com uns jeans e um casaco motorcycle decorado com um crânio flamejante. Alguns dos presentes na audiência pareciam perplexos e os aplausos foram silenciosos, mas Beavan não ficou minimamente perturbada. Não foi o seu primeiro Óscar - ela já tinha levado para casa uma estatueta pelo filme, A Room with a View (1985) e foi nomeada outras oito vezes pelos filmes: The Bostonians (1984), Maurice (1987), Howards End (1992), The Remains of the Day (1993), Sense and Sensibility (1995), Anna and the King (1999), Gosford Park (2001) e The King's Speech (2010). A sua formidável carreira através do palco e do ecrã estende-se agora por mais de cinco décadas.
Mas, apesar da vasta experiência, o mais recente projeto foi desafiador: Cruella, de Craig Gillespie, conta a história da supervilã amante de pelo, Cruella de Vil, interpretada pela risonha, Emma Stone. Situado no meio da revolução punk-rock, em Londres, nos anos 70, a história segue a aspirante a designer Estella (Emma Stone) que chama a atenção da Baroness von Hellman (Emma Thompson). O seu encontro desencadeia um rol de acontecimentos que vê a jovem Estella transformar-se na implacável Cruella, trocando as suas roupas por calças de motocross lantejoulas, casacos militares extravagantes e saias salientes salpicadas de pétalas costuradas à mão. A Moda, para ela, torna-se uma arma - usada para ofuscar Baroness e desafiar as normas.
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Antes do lançamento do filme, a 28 de Maio, Beavan fala-nos através das referências do seu moodboard e partilha as suas memórias da Londres dos anos 70 e revela o look inesperado que se tornou o seu preferido.
Desenhar os figurinos para o filme Cruella é um grande projeto. Como se envolveu no projeto?
"[Foi] através da [produtora] Kristin Burr, com quem eu tinha trabalhado antes num outro filme da Disney, Christopher Robin [2018]. Tinha ouvido falar de Cruella e sabia que a Emma Stone estava envolvida, mas nunca me ocorreu que me iriam convidar para participar. Penso que o que aconteceu foi que eles tiveram uma súbita janela de oportunidade com a agenda de Emma e assim o fizeram numa altura em que não havia muitas pessoas disponíveis, e eu estava. Kristin mandou-me uma mensagem a perguntar o que eu estava a fazer na altura. Depois, encontrei-me com o [realizador] Craig Gillespie em Londres, quando li o guião pela primeira vez pensei: “Oh meu Deus, isto é enorme''. Tinha algumas equipas maravilhosas em Londres e uma delas estava disponível e pronta para isso, e aceitamos".
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O filme é ambientado em Londres, nos anos 70. Que referências tinha no seu moodboard?
"Eu estava lá! Eu gostava mais de teatro do que de Moda na altura - desenho de cenários, pintura de cenas. Mas, lembro-me das coisas que usava, apesar de não serem assim tão excitantes. Não podia pagar a Vivienne Westwood e até a Biba estava um pouco fora da minha gama de preços. Assim, depois de ler o guião, fiz uma lista do que cada personagem precisava e depois comecei a imprimir imagens. Em termos de referências, tivemos Westwood, a cantora alemã Nina Hagen, a marca Bodymap e Alexander McQueen".
É verdade que procurou roupas vintage de Londres, Nova Iorque e Los Angeles para a atriz Emma Stone experimentar?
"Então, Cruella tem 47 looks no filme e na sua história, ela teria, definitivamente, usado lojas vintage, especialmente antes de ter muito dinheiro. Fomos a casas de fantasias, que tinham bons stocks de roupa dos anos 70, mas algo interessante foi termos ido ao Portobello Road Market, em Londres. Depois, fomos até Los Angeles para experimentar as roupas na Emma Stone. Eu tinha ido a uma enorme feira vintage chamada A Current Affair quando fui a Los Angeles e descobri que estava em Brooklyn, por isso interrompemos a viagem e fomos até lá. Depois demos outro salto a LA e, nessa altura, já tínhamos 10 malas de material para Emma. Resolvemos a questão, começamos a experimentar as roupas, aprendemos o que iria ou não iria funcionar, e fotografamos tudo".
Como é Emma Stone enquanto colaboradora?
"Tinha falado com ela e trocado uns emails antes de nos conhecermos pessoalmente, ela era muito receptiva ao que trazia e aberta a tudo. Ela adorava experimentar as roupas. Fizemos tudo na sua cozinha. Acho que foram cerca de seis horas a testar tudo. Tive uma oportunidade antes de ela vir para o Reino Unido [para filmar] e foi útil porque encontrámos a base de todos os looks da Cruella. Não creio que tenhamos usado uma peça atual pois já sabíamos qual era a ideia"
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Quais eram as coisas a que se voltava sempre quando se fazia a estética da Cruella?
"As cores para Cruella eram claras: preto e branco ou cinzento, e vermelho para os momentos de assinatura. [A personagem de Emma Thompson] A Baroness von Hellman tinha muito castanho e dourado".
Vemos um desses momentos de assinatura no trailer, quando Cruella incendeia a sua capa branca para revelar um vestido vermelho por baixo. Como é que surgiu esse look?
"Isso estava no guião e queria ver se isso era possível. Existem fios de fogo e tecidos que se incendeiam sem matar um ator, mas o nosso foi um efeito visual. O vestido por baixo é feito de um dos vestidos antigos da Baroness e isso faz parte da história. Cruella vê-o numa loja vintage e transformou-o neste vestido extraordinário que foi desconstruído e reconstruído. Foi inspirado no vestido Tree de Charles James. O figurinista Ian Wallace, que é um génio, decidiu que esse era o caminho a seguir. Era tudo um pouco rebuscado, mas podia quase acreditar que havia tecido suficiente no vestido original para fazer esta nova versão. Também concebemos o vestido original e certificamo-nos de que tinha uma estola para que houvesse tecido suficiente".
Outro aspeto incrível no filme é o olhar de Cruella quando está em cima de um carro com uma longa saia cor-de-rosa e um casaco com miniaturas de cavalos e carruagens nos ombros. Como é que esse coordenado foi criado?
"Esse casaco era uma obra de arte. Encontrei um casaco que poderia ter funcionado, mas decidimos refazê-lo. Depois, o objetivo da saia de feltro foi que tinha que combinar com o carro da Baroness. Tinha de ser enorme e leve o suficiente para que ela a pudesse usar, mas também pesada o suficiente para que a pudesse pôr à volta [do carro]. Isso foi um verdadeiro desafio porque, no início, era demasiado pesado. No final, foi feito por Kirsten Fletcher, que é uma incrível costureira, e eu tinha muitos estudantes a coser pétalas à mão na minha sala de trabalho. Aparentemente, existem 5.060 pétalas no total".
© Laurie Sparham/Disney
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Os looks da Baroness von Hellman são tão diferentes dos de Cruella. O que a inspirou?
"É bastante influenciado na Dior e ela é ligeiramente antiquada - um pouco anos 50 e 60. Ela é uma boa designer, embora tenha ultrapassado o seu prazo de validade, pelo que Cruella pode entrar com esta nova e mais divertida abordagem à Moda. Sentimos que a Baroness tinha um verdadeiro sentido de estilo e isso levou a cabo o seu trabalho. Eu trabalhei com uma designer fantástica, Jane Law, que tem uma sala de trabalho em Worthing, na costa sul da Inglaterra. Costumava ir lá com um carro absolutamente recheado de tecido, despejar tudo no chão dela e depois íamos com os nossos manequins e drapeávamos ao mesmo tempo que tínhamos ideias. Depois encontrámo-nos com Emma [Thompson] e pedimos-lhe que experimentasse tudo".
Qual é o seu figurino preferido do filme?
"Há um pequeno chihuahua que tem uma fantasia de rato. Acho que é esse!”
Cruella estreará nas salas de cinema e na plataforma de streaming Disney+ a partir de 28 de Maio de 2021.
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