São mulheres, músicas, atrizes, modelos, ativistas. São agentes de mudança determinadas a moldar o nosso futuro. Para melhor. Este é o perfil de Lana del Rey, cantora.
São mulheres, músicas, atrizes, modelos, ativistas. São agentes de mudança determinadas a moldar o nosso futuro. Para melhor. Este é o perfil de Lana del Rey, cantora.
Throwback to 2011 e Lana del Rey está de tronco nu, classic jeans, e cabelos longos em frente a uma ondulante bandeira dos Estados Unidos da América. O nacionalismo evidente no videoclipe de Born to Die não faria antever que a artista assumiria, oito anos depois, uma postura propositadamente afastada da clássica americana.
Tanto a estética embebida em patriotismo como a aparente apatia política da cantora se revelaram incompatíveis com a ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA. “É certamente desconfortável”, disse numa entrevista à revista Pitchfork, em 2017. “Sem dúvida que mudei toda a componente visual dos meus vídeos da tour. Não vou ter a bandeira americana a ondular enquanto canto Born to Die. Não vai acontecer”. “É um período de transição, estou super consciente disso (...) Acho que seria inapropriado estar em França com a bandeira americana. Seria esquisito para mim agora – não o era em 2013”, admitiu, revelando que a sensação de segurança durante a administração de Obama em nada se compara ao clima do tempo presente. A incapacidade de romancear a América pós-Trump levou a que os videoclipes seguintes às eleições fossem (e sejam) desprovidos de quaisquer referências culturais, um abandono da estética que sempre apropriou como sua para complementar as melodias etéreas que continuam a invadir as rádios por todo o planeta a cada novo lançamento.
Mas mais do que o conteúdo visual – ainda que esta desvinculação da imagem da bandeira possa ser entendida por muitos como um ato político – Lana seguiu claramente um rumo distinto também na utilização da sua voz, deixando o contexto político moldar a sua forma de ver o mundo. Se em tempos chegou a negar o seu interesse em temáticas como o feminismo, a artista passou não só a reconhecer a importância de falar sobre o assunto como a utilizar a sua visibilidade como uma ferramenta de apoio. “As mulheres começaram a sentir-se menos seguras com esta administração de forma instantânea. E se acabam com a Planned Parenthood? E se não tivermos acesso a contraceção? Agora, quando me fazem esse tipo de questões, sinto-me um bocadinho diferente”, disse na mesma entrevista à Pitchfork.
A concretização da importância da luta pela igualdade influenciou também a forma como a cantora lida hoje com o seu passado, nomeadamente com a sua própria obra. Em 2014, Del Rey foi acusada de glorificar a violência doméstica, numa passagem da música Ultraviolence, que integra o seu terceiro álbum com o mesmo nome. “He hit me and it felt like a kiss” foi o verso que colocou a artista no centro de uma polémica online. Hoje, a cantora não entoa as palavras que enfureceram o Twitter – e o mundo. “Não gosto. Não [penso nisso]. Canto a Ultraviolence [em concertos], mas já não canto esse trecho”, confessou em entrevista, depois de se defender dizendo que, na época, estava numa relação agressiva.
Três anos depois, pode dizer-se que o ativismo em si verdadeiramente floresceu. O reflexo está num álbum carregado de referências que o sugerem. Uma das músicas de Lust for Life, editado em 2017, é God Bless America - And All the Beautiful Women in It. “É um pequeno tributo a todas as mulheres e toda a gente que nem sempre se sente segura a andar na rua à noite. Foi nisso que pensei quando escrevi ‘Even when I’m alone I’m not lonely/I feel your arms around me.’ Não é sempre assim que me sinto quando estou a andar na rua, mas, às vezes, na minha música tento escrever sobre um sítio onde vou chegar”, descreveu à revista especializada.
Nesse mesmo álbum, encontramos outros pontos reveladores desta mudança de chip. When the World Was At War We Kept Dancing deixa a questão no ar: “Is this the end of an era? Is this the end of America?” Os que ainda poderiam questionar o ativismo da artista norte-americana poderão ter tirado as dúvidas em setembro passado, quando a cantora cancelou a sua atuação num festival em Israel. Depois de ter afirmado que o seu concerto no Meteor Festival não constituía qualquer tipo de “tomada de posição política” no conflito israelo-palestiniano, del Rey acabaria por cancelar a visita. "Para mim é importante poder atuar tanto em Israel como na Palestina e tratar todos os meus fãs da mesma forma", comunicou no Twitter. "Infelizmente, não foi possível fazê-lo em tão pouco tempo", disse, explicando que a atuação só decorreria quando o pudesse fazer também na Palestina "e noutros países da região". A decisão de acatar o apelo de ativistas para boicotar o festival viria a motivar uma série de outros músicos a fazer o mesmo, resultando num dos maiores boicotes recentes.
Para os interessados em ouvir a melancolia das melodias e a combatividade do repertório mais recente de Lana del Rey, a artista atua em Portugal a 18 de julho, no festival Super Bock Super Rock.
Este é um dos oito perfis de 'As oito magníficas', há mais para ler na edição de julho de 2019 da Vogue Portugal.