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LFW primavera/verão 2025 | A after party do 40º aniversário

20 Sep 2024
By Pedro Vasconcelos

Simone Rocha

Para a última estação da celebração de quatro décadas, a semana de Moda britânica foi tipicamente britânica, ou melhor, "proper british".

First but worst.” As palavras de Suzy Menkes são difíceis de esquecer. A icónica jornalista falava de Vivienne Westwood quando proferiu as palavras mas o seu significado pode ser aplicado ao lugar de Londres na indústria da Moda. A capital britânica sempre ocupou uma posição idiossincrática. Longe da tradição de Moda como artesanato dos franceses ou italianos, os ingleses sempre se destacaram pela sua criatividade. Conhecida como a meca da educação de Moda, Londres é a cidade em que os designers começam, eventualmente, graduando-se para Milão ou Paris. Neste sentido, ao contrário das capitais de Moda europeias continentais, a sua contraparte britânica é desprovida de titãs como Prada ou Chanel. Em vez, o apelo da cidade reside no seu papel como a introdução dos designers mais importantes do amanhã.

Por falar em designers promissores, não há como deixar de mencionar Aaron Esh. O jovem designer assume-se como um dos nomes mais importantes a observar na cidade. Este tem uma certa aura, um je ne sais quoi semelhante à icónica geração da década de 90. Não que esta vibe seja difícil de entender, Esh está a trabalhar proximamente com a Katy England. Se o nome soar familiar é porque a estilista é um nome basilar para entender a história de Alexander McQueen — Esh teve aliás o privilégio de estudar o arquivo da estilista, um dos poucos nomes a sequer ver o espólio de England. Não se admira então que o designer possua um glamour idiossincrático. Existe uma aura londrina inegável, algo que Esh revelou backstage estar ligado a uma das suas maiores fontes de inspiração: a parte leste da capital. Esta, conhecida como a casa da comunidade criativa britânica, influenciou uma série de looks que não têm outra palavra para se descrever que não "cunty". Com apenas 30 looks, Esh sumariza uma visão interessante, sexy e decadente. 

Aaron Esh SS25

No lado estético oposto encontra-se Chopova Lowena, a dupla de designers que tem revolucionado a Moda londrina. Talvez revolucionar seja uma hipérbole, satisfazemo-nos então com abalar. Desde a sua graduação na prestigiada Central Saint Martins, a dupla —que tomou a decisão incomum mas claramente inteligente de criar uma coleção em conjunto— tem-se tornado numa favorita da indústria da Moda britânica. As suas saias que penduram tartan pleated em mosquetões conquistaram o coração dos amantes de Moda — Sarah Mower comparou, com uma perspicácia quase assustadora, que estas são como a versão moderna de um casaco Chanel. Para a sua coleção primavera/verão 2025, a dupla decidiu apresentar o desfile na cave do Shoreditch Town Hall, um edifício que, se não abandonado, é pelo menos negligenciado. As notas do desfile, dadas a cada convidado assim que nos sentávamos, revelavam uma quantidade melindrosa de referências. Uniformes dos ginastas dos anos 80, a era vitoriana, os cowboys do wild west: a pluralidade de inspirações assustou-nos apenas até ao momento em que o desfile começou. Assim que a cacofonia musical despertou dos altifalantes colocados por toda a cave, lembramo-nos: Chopova Lowena floresce no caos. Desta vez o verbo é correto, florescimentos metálicos brotaram de cintos pesados e ténis desportivos. As referências estão todas lá, encaixadas de forma tão harmoniosa como complexa. Bodysuits repletos de lantejoulas justapõe-se a camisas vitorianas cobertas com casacos de cabedal pesado. Com (mais uma) colaboração com a Asics e o lançamento da sua linha de perfumes, Chopova Lowena é imparável.  

Chopova Lowena SS25

Londres não é apenas o antro da novidade, é um berço de inovação. Di Petsa, que se destacou inicialmente pela sua técnica wet-dry, em que pleats são utilizadas para replicar o efeito de material molhado, continua a expandir a sua visão. Com uma estética que apela ao divino, a designer grega estreou a sua linha masculina— e de que forma. Por volta das 10:30 da manhã, um homem que só pode ser descrito como um deus grego desceu a passerelle com uma tocha em mão. Mas ninguém se preocupava com o fogo aberto, no seu lugar, os convidados (inclusive o redator) estavam ofuscados pela tanga preciosa que deixava muito pouco para a imaginação. Esqueça-se o café, encontrámos uma forma melhor de começar o dia. Outros estilos incluíram fatos de treino que replicavam a sua técnica idiossincrática em loungewear

Di Petsa SS25

Também Karoline Vitto é de importante menção. A designer brasileira fez a sua primeira apresentação a solo após anos na incubadora Fashion East - que de momento tem talento particularmente entusiasmante, recomenda-se a pesquisa do nome de Olly Shinder — e a última estação em Milão sobre a alçada da Dolce & Gabbana. No seu primeiro desfile “sozinha”, Vitto fez o que de sabe melhor, roupas que não só complementam o corpo feminino, como o enaltecem. Para além dos seus vestidos slinky, os acessórios foram um ponto de destaque. Detalhes em metal, presentes nas ancas, tornozelos e orelhas das modelos, criaram formas tão alienígenas como orgânicas. Uma menção especial para S.S. Daley que após investimento de um Harry Styles, apresentou a sua primeira coleção feminina. E, como seria de esperar, não desapontou. Com uma inspiração histórica concreta, o desfile foi tão leve como jovem, repleto da properness britânicos que o designer domina. 

Karoline Vitto SS25

S.S. Daley SS25

Claro que, como em qualquer tanque, Londres tem os seus “peixes grandes.” Aqueles que, de certa forma, poderiam graduar-se para cidades como Milão, mas, por insistência ou tradição, recusam-se a desenraizar da cidade que os viu crescer. Pegue-se a título de exemplo Jonathan Anderson que, ainda que divida o seu tempo entre Londres e Paris— onde lidera a progressivamente popular Loewe— mantém a sua marca homónima baseada na capital britânica. Para primavera/verão 2025, JW Anderson foi um estudo complexo da meninice. Inspirado pela sua irmã (que por sinal se encontrou com os seus filhos à nossa frente para entrar no desfile), Anderson criou uma coleção jovial. Todos os elementos típicos do designer estiveram presentes, de estranhas construções a malhas campy. Mas, entre estes, encontram-se looks que se relacionavam diretamente ao tema. Vestidos peculiares combinaram decotes profundos com saias tão rígidas como horizontais que se dobravam como a pala de um chapéu. Mas, para além do propósito anunciado, Anderson teve tempo para explorações paralelas. Apesar da diversidade de silhuetas, a coleção foi composta com apenas quatro materiais — caxemira, lantejoulas, cabedal e seda. O designer que, entre as duas marcas que lidera, produz mais de oito coleções por ano, fez um comentário ativo sobre o estado da criatividade na indústria da Moda. 

JW Anderson SS25

Simone Rocha faz parte do mesmo grupo de titãs da indústria britânica— uma das poucas mulheres restantes neste clube após a saída de Sarah Burton da McQueen. Após a última estação, em que não só colaborou com Jean Paul Gaultier para uma coleção de Alta-Costura mas finalizou um tríptico de coleções focadas em tradições fúnebres, a primavera/verão 2025 foi uma lufada de ar fresco. Após três estações tão focadas num tema, esta coleção sentiu-se leve, livre de interpretações literais. Vagamente inspirada pelo bailado —no backstage os nomes de Michael Clark e Pina Bausch ressoavam frequentemente— as alusões foram por vezes nebulosas, como nas flores brilhantes bordadas em muitos dos looks, e por outras bastante diretas, como os literais tutus espalhados pela coleção. Os clássicos da marca estiveram todos presentes, desde as flores encurraladas em tecidos transparentes, às pérolas colocadas na parte de trás dos colarinhos. A seleção masculina foi particularmente iluminada, com malhas repletas de correntes cristalizadas. 

Simone Rocha SS25

Não podíamos deixar de mencionar Burberry. O gigante mais titânico da cidade, que, tal como o lugar que ocupa na nossa lista, é sempre o último no calendário oficial. Para primavera/verão 2025, Daniel Lee reconhece abertamente as dificuldades da marca que lidera. E, numa coleção que é tão britânica como é séria, o designer abdicou da excentricidade das suas três coleções prévias. Até mesmo os vestidos mais extravagantes foram escondidos atrás de parkas a la Burberry. Esta austeridade é, de alguma forma, tão britânica. Casacos estruturados têm uma aura militar— uma inclusão inteligente para uma marca tão associada a vestuário bélico. E, por falar neles, os clássicos trench coats não deixaram de marcar presença. Quer com longas penugens no seu colarinho, quer desconstruídos em vestidos, Lee focou-se no que Burberry faz melhor. Esta é a mensagem que destilamos da coleção: um retorno ao que a marca é, não o que pode ser.

Burberry SS25

E assim se chega ao final de uma semana de Moda. Claro que esta não é apenas só mais uma edição rotineira da LFW. 2025 marca o 40º aniversário da Semana de Moda de Londres, curioso que, mesmo após quatro décadas, a cidade se mantenha associada a um espírito de juventude aparentemente imortal. Sendo a primavera/verão 2025 a última estação desta celebração, foi uma semana metafórica da génese da cidade, em que as estrelas mais jovens brilharam mais claras.

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