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Livro de História: Victoria’s Secret

22 Nov 2016
By Irina Chitas

Era uma vez um lugar mágico onde todas as supermodelos ganham asas. Este podia ser o início de um livro de fantasia utópica, mas é só a história da Victoria’s Secret.

Era uma vez um lugar mágico onde todas as supermodelos ganham asas. Este podia ser o início de um livro de fantasia utópica, mas é só a história da Victoria’s Secret.

No início dos anos 80, Leslie Wexner – um empreendedor visionário – procurava novas marcas nas quais investir. Numa viagem a São Francisco, entrou numa pequena loja decorada como um bordel vitoriano (incluindo os sofás de veludo vermelho), cujas paredes se forravam a lingerie extremamente sexy. “Nunca tinha visto nada assim nos Estados Unidos”, disse Wexner à Newsweek, em 2010. 

A génese da marca de roupa interior feminina mais mediática do mundo está descrita num dos filmes mais importantes da última década: “Um MBA de Stanford chamado Roy Raymond quer comprar lingerie para a mulher mas tem demasiada vergonha para fazê-lo numa superfície comercial. Teve a ideia de criar um local de luxo que não o faça sentir pervertido. Contrai um empréstimo de 40 mil dólares, pede mais 40 mil aos sogros, abre uma loja, chama-lhe Victoria’s Secret. Ganha 500 mil dólares no primeiro ano. Começa um catálogo, abre mais três lojas, e cinco anos depois vende a empresa a Leslie Wexner e à Limited por 4 milhões de dólares. Final feliz, certo? Só que dois anos depois, a empresa vale 500 milhões de dólares e Roy Raymond atira-se da Golden Gate Bridge. O pobre homem só queria comprar à mulher um par de thigh-highs”. O discurso de Sean Parker (Justin Timberlake) a Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) na película “A Rede Social” pode parecer trágica, mas o relato é real.

Raymond queria, de facto, em meados dos anos 70, comprar lingerie para a mulher. A empregada da loja fê-lo, de facto, sentir-se um pervertido. E fundou, de facto, a Victoria’s Secret: uma loja na qual os homens se sentissem confortáveis. Tapetes orientais, madeira escura e drapeados em seda forravam o boudoir, apelidado de Victoria como uma referência à sensualidade contida da era Vitoriana. Os segredos de Victoria são os que se escondem por debaixo da roupa. Victoria’s Secret nascia em 1977, rompendo com a era em que a roupa interior se queria básica, resistente, imutável. Eram peças práticas, não bonitas; que serviam para conter, não realçar. O sexy era reservado para a lua-de-mel ou noites especiais (como aniversários), e o prazer era tão escondido como estas peças de vestuário.

Em 1982, com um catálogo que chegava a todo o país e vendas de mais de 4 milhões de dólares, a Victoria’s Secret estava, no entanto, a chegar à falência. Foi então que – ironia do destino – um “anjo” sob a forma de Leslie Wexner reconheceu o problema: Raymond criou todo um negócio que apelava aos homens, mas não às mulheres. Wexner comprou a empresa por um milhão de dólares, e alterou o seu modelo de negócio para lojas de lingerie acessível, onde as mulheres se sentissem absolutamente confortáveis: padrões florais, música clássica e garrafas de perfume substituíam os boudoirs; os catálogos transformaram-se em páginas que poderiam ter saído da Vogue; novos produtos foram criados. Em 1995, a Victoria’s Secret tinha 670 lojas nos Estados Unidos, e encenava o seu primeiro desfile, recheado de supermodelos.

Desde então, a passerelle deixou de ser sobre lingerie, e passou a ser um dos espetáculos mais aguardados do ano. As modelos deixam de ser manequins para ser performers, desfilando de asas às costas por entre cenários megalómanos e cantores extasiados e, este ano, Bella Hadid junta-se à fórmula perfeita. É oásis da beleza, o cúmulo da perfeição, uma referência à era em que as supermodelos agraciavam a Terra, o programa de horário nobre que já foi humilde testemunha da força de Naomi Campbell, Heidi Klum, Tyra Banks, Stephanie Seymour, Laetitia Casta, Doutzen Kroes, Gisele Bündchen, Alessandra Ambrosio, Karlie Kloss e, agora, Sharam Diniz e Sara Sampaio – o nossos anjos que ascenderam ao céu das top models.

Irina Chitas By Irina Chitas

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