Desde sempre que o conceito de luxo acarreta uma carga demasiado material e ligada a poder económico, mas na sua génese mais profunda o verdadeiro luxo é muito mais livre, independente, livre e democrático do que a definição limitada que habitualmente se associa à palavra.
Desde sempre que o conceito de luxo acarreta uma carga demasiado material e ligada a poder económico, mas na sua génese mais profunda o verdadeiro luxo é muito mais livre, independente, livre e democrático do que a definição limitada que habitualmente se associa à palavra.
Permitirmo-nos ser humanos é um luxo, ser quem realmente somos é um luxo. A vida não pode ser só sobre utilidade – tem que ser também sobre emoção, imaginação, tem que ser sobre coisas para o próprio bem, sobre o que nos alimenta em todos os sentidos, de modo a que esta nossa jornada faça sentido e não seja simplesmente algo que transformamos numa forma tensa e ansiosa de passagem de dias, semanas, meses… O tempo é o derradeiro luxo e o que fazemos com ele o verdadeiro significado que damos à nossa vida.
O tempo de lazer e o prazer do tempo para nós próprios são parte essencial da construção desse sentido que procuramos na vida. Podemos, e devemos, ser gratos pelos prazeres que da vida experienciamos, assim os saibamos reconhecer. Somos uma civilização que, de forma geral, vive um desapontamento crónico, porque a pressa e a ansiedade não permitem sequer o reconhecimento do prazer, muito menos do prazer da espera, que só com a devida calma pode ser realmente vivido. Vive-se uma cultura de fetichismo da produtividade e cumprimento de objetivos, em que quase nos esquecemos da noção de “lazer” e de como é fundamental para o espírito humano. E, no entanto, as grandes realizações humanas – das criações artísticas às ideias filosóficas passando pelas grandes descobertas tecnológicas – tiveram origem no lazer, nos momentos de completo abandono à contemplação, à reflexão, ao tempo, que no fundo qualquer ser humano precisa para si e consigo próprio a sentir o universo. “De todas as pessoas, só as que estão num tempo de lazer têm tempo para filosofar, e só essas estão realmente vivas”, escreveu Séneca na sua meditação Da Brevidade da Vida. Mais de dois mil anos depois, a verdade é que, cada vez mais, nos esquecemos de cruzar o luxo do tempo com a devida gratidão que torna possível o seu verdadeiro propósito de contemplação. Uma visão moderna e distorcida que torna o conceito de luxo em algo puramente instagramável e sem significado. Para mim, o vazio é o oposto do luxo, tanto na essência como na forma. E se nas suas materializações o luxo pode ser visto e sentido das mais diversas formas, para esta edição criámos um projeto especial em que desafiámos vários talentos, nacionais e internacionais, na área da Moda, da Beleza e da Fotografia. Dos quatro cantos do mundo, fotógrafos, stylists, make up artists, hairstylists e um ilustrador, realizaram para a Vogue Portugal magníficas histórias visuais, sob o tema: A Nova Linguagem do Luxo. O resultado foi partilhado em primeira mão, numa edição Vogue limitada a mil exemplares, criada especialmente para a audiência e para os speakers da Condé Nast International Luxury Conference, que acaba de ter lugar em Lisboa, conduzida pela brilhante Suzy Menkes, international Vogue editor.
Nesta edição de maio, distribuída ao nível nacional e também no Brasil, em Paris, Londres e Milão, o mesmo projeto é partilhado parcialmente e poderá ser visto na íntegra em Vogue.pt. Basta seguir os QR Codes em cada história. Toda a equipa e os criativos envolvidos nesta edição e no projeto especial entregaram o seu talento e perspetivas muito pessoais, que são por si só o luxo da diversidade na criatividade e linguagem do luxo. Esperamos que a receba com o mesmo amor com que foi feita para si.
Se tem esta edição nas suas mãos, permita-se o tempo e o conforto de viajar em primeira classe ao longo destas páginas, sentir a sensualidade do toque do papel e do virar de cada página numa experiência imersiva ao mundo, tão material quanto imaterial, do luxo e do lazer.
Lazer não é um privilégio daqueles que se podem dar ao luxo de gastar tempo, mas sim a virtude daqueles que dão a tudo o que fazem o tempo que merece.