Moda   Project Union  

Project: Vogue Union | Marta Gonçalves, o futuro é agora

26 Jul 2020
By Rui Matos

Pensar e viver a Moda. É possível. Marta Gonçalves na Hibu fá-lo de uma forma justa, correta e consciente. Tudo aquilo que pedimos quando Moda é assunto em 2020.

Pensar e viver a Moda. É possível. Marta Gonçalves na Hibu fá-lo de uma forma justa, correta e consciente. Tudo aquilo que pedimos quando Moda é assunto em 2020.

Marta Gonçalves © Rui Palma
Marta Gonçalves © Rui Palma

Em outubro de 2019, depois de um hiatus de três anos, a Hibu regressou às passerelles, na plataforma LAB da ModaLisboa. O comeback ocorreu num híbrido de performance e desfile, com direito a trocas de roupa entre modelos no meio da passerelle. Marta Gonçalves, fundadora e diretora criativa, apostou numa coleção composta pelos básicos que devem integrar qualquer guarda-roupa, seja ele de uma mulher ou de um homem. O género não é um assunto para Gonçalves, que explora a temática desde os primórdios da Hibu. Apesar deste regresso ter acontecido no mês em que as coleções para o verão são reveladas ao público, Gonçalves apresenta-nos uma coleção sem estação, Cru-L, como é denominada. “Uma coleção de básicos, non-seasonal, influenciada pela apropriação estética do workwear com o objetivo de apresentar durabilidade, utilidade e conforto de uma forma contemporânea”, pode ler-se no descritivo sobre esta coleção. O off-white, o preto, o azul Klein e o verde preencheram esta apresentação que, spoiler alert, saltou para a rua tão depressa que em março passado, durante a Semana de Moda lisboeta, o difícil era não nos esbarrarmos com peças Hibu no street style.

Os aplausos e os elogios voltaram a repetir-se em março deste ano, quando apresentou o outono/inverno de 2020. Uma continuação da estética que iniciou com a coleção passada. “Continuei a utilizar o mesmo tipo de materiais, como por exemplo o denim, mas adaptando-o à estação e introduzindo também outros materiais mais invernosos,” explica-nos Marta. “As coleções [primavera/verão 2020 e outono/inverno 2020] foram muito influenciadas pela apropriação estética do workwear, com o objetivo de criar peças duráveis e confortáveis de uma forma contemporânea que podem ser combinadas de uma forma versátil. São coleções esteticamente mais limpas e diretas em relação às anteriores, mantendo os cortes não convencionais, detalhes e as silhuetas oversized.” O universo Hibu é tão pertinente hoje como será daqui a dez ou vinte anos. As peças que Marta apresenta são os essenciais que não vamos querer despir, até porque a sustentabilidade está também intrínseca nos valores da designer e essa é uma temática em ascensão. “Uma vez que o mundo da Moda é responsável por um impacto negativo significativo no meio ambiente, acho que as marcas no geral estão a tomar consciência de que é preciso fazer a diferença, mesmo que seja aos poucos. Nesta coleção [outono/inverno 2020] trabalhámos com tecidos orgânicos e upcycling, assim como muitos materiais de deadstock,” conta-nos Gonçalves.

"Sempre acreditei que a marca que construí tinha força para resultar."

Vestido e chapéu ambos Hibu. Vogue Portugal 'White Project'. Fotografia de Branislav Simoncik. Realização de Cláudia Barros. Novembro de 2017.
Vestido e chapéu ambos Hibu. Vogue Portugal 'White Project'. Fotografia de Branislav Simoncik. Realização de Cláudia Barros. Novembro de 2017.

Recuemos agora para 2012, ano em que Marta Gonçalves terminou o curso de Design de Moda e Têxtil. A vontade de se lançar para o mercado de trabalho era tão grande que pouco depois de ter o canudo na mão fundou a Hibu e participou no concurso Sangue Novo da ModaLisboa. Bastou uma apresentação para chamar a atenção da indústria. Depois de uma estreia em Lisboa, a Hibu foi convidada para fazer parte do grupo de jovens designers da plataforma Bloom do Portugal Fashion. Por lá ficou durante três anos, somando seis estações consecutivas. Era no norte que apresentava as suas propostas, que à época eram já um indicativo daquilo que viria a ser o futuro da marca, mas eram apenas protótipos. No programa Armário da RTP1, Marta confessou que lhe faltava o lado de produção e de rua. Por isso, em 2017, decidiu fazer uma pausa: “Queria repensar toda a estrutura da marca e como trabalhar de outras formas com uma estratégia mais sustentável e global para a marca,” afirma a designer.

Estes três anos em que a Hibu esteve fora das passerelles serviram para que Marta tivesse a oportunidade de conhecer melhor a indústria e procurar, por exemplo, fábricas que pudessem confecionar as suas criações, podendo preencher a vontade que tinha em ver as suas roupas na rua. “Por mais que seja um percurso difícil e demorado e que tenha passado por situações em que parece que tudo vai correr mal, sempre acreditei que a marca que construí tinha força para resultar,” é desta maneira que a designer nos responde quando lhe perguntamos se algum dia pensou em desistir ou mudar de área. “Interesso-me bastante por diferentes áreas e por isso mesmo é que pretendo que a Hibu seja uma marca mais abrangente, que envolve várias pessoas criativas e áreas, possibilitando juntar pessoas de meios diferentes e trabalhar de uma forma mais multidisciplinar e permitindo-me trabalhar em projectos novos e ter novos desafios.”

Yakiv veste trench-coat em algodão, Burberry, e macacão em denim, Hibu. Fotografia de Ricardo Santos. Styling de Larissa Marinho. Vogue Portugal, março 2020.
Yakiv veste trench-coat em algodão, Burberry, e macacão em denim, Hibu. Fotografia de Ricardo Santos. Styling de Larissa Marinho. Vogue Portugal, março 2020.

"São necessárias mais plataformas e formas de apoio aos designers e marcas portuguesas."

Durante o período de quarentena, a Hibu lançou Being Home, uma rubrica no Instagram da marca com vários criativos. O objetivo era promover essas mentes criativas e perceber como é estavam a encarar a tão famosa “nova realidade.” O projeto contou com Maria João Fialho, um das criadoras da loja Les Filles, Nuno Alexandre, artista visual, Leonor Bettencourt Loureiro, realizadora, Maria Rita, fotógrafa, entre outros. A colaboração e a união na indústria é algo que Marta vê com bons olhos e acredita ser possível, mas: “Acho que são necessárias mais plataformas e formas de apoio aos designers e marcas portuguesas, criando também pontes com a indústria que temos.” E colaborar com outro designer português? Tentamos perceber que nomes Marta Gonçalves escolheria. “Não consigo nomear ninguém,” começa por nos dizer. “Respeito o trabalho de todos os meus colegas e acredito que por mais diferenças que existam pode sempre haver possibilidades para colaboração, no entanto acho que tem de haver um sentido mútuo de objetivos para esse tipo de convergência.” 

À esquerda: primavera/verão 2020. À direita: outono/inverno 2020. © Gonçalo Silva | ModaLisboa
À esquerda: primavera/verão 2020. À direita: outono/inverno 2020. © Gonçalo Silva | ModaLisboa

Regressar ao passado e refazer uma coleção? Marta responde prontamente com um redondo não. “Acredito em todas as peças idealizadas e produzidas até hoje e acho que sem esse processo e desenvolvimento a Hibu não tinha chegado ao que é hoje.” A designer não é o do tipo de diretora criativa que idealiza mood boards e desenha roupa no papel, Marta põe a mão na massa. “Dou muito valor ao processo de idealização/construção de uma peça que requer um trabalho de experimentação essencial para chegar ao resultado final,” começa por explicar. “Nesse processo não deixa de ser importante para mim haver, na maior parte das peças, um envolvimento de técnicas mais manuais e tradicionais, fazendo a ligação do streetwear high hand com essas técnicas, como podemos ver por exemplo nas sweatshirts tie-dye da coleção CRU-L, onde após a peça ser produzida foi feito o tie-dye manualmente, o que faz com que o resultado final de cada peça seja único e diferente. Outro exemplo é o colete em malha, da coleção do outono/inverno 2020, que foi produzido manualmente através de uma técnica antiga chamada jacquard duplo.” 

Marta Gonçalves não tem pressa, aliás acredita que “devagar se vai longe” e por isso o slogan que escolheria para a Hibu seria “a slow gun”. Não lhe perguntem quem é o seu designer preferido, quem é que consegue escolher um entre os milhares que existem por aí? Exatamente, ninguém. Façam-lhe antes perguntas que a façam “questionar coisas e abrir novas perspectivas e possibilidades”. Numa indústria que avança à velocidade da luz, que muda de direções dia sim, dia não, a Hibu é aquela amiga com quem podemos contar sempre que precisarmos de estar confortáveis e ágeis para qualquer situação do dia. Seja com tie-dye (que na verdade é to die for) ou um jumpsuit utilitário, não há nada que não consigamos fazer com Hibu vestido.

 

Hibu está à venda na loja online da marca, na Les Filles, em Lisboa, e na The Feeting Room do Porto e de Lisboa.

Rui Matos By Rui Matos

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