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Max Mara | Cruise 2024

12 Jun 2023
By Sara Andrade

A marca italiana ruma à Suécia para se inspirar nas raízes escandinavas - quase literalmente - e apresenta uma coleção que é Flower Power. Mas não da forma óbvia que está a pensar.

A marca italiana ruma à Suécia para se inspirar nas raízes escandinavas - quase literalmente - e apresenta uma coleção que é Flower Power. Mas não da forma óbvia que está a pensar.

Pense mais em Abba meets Girl With the Dragon Tattoo e menos um festival de prints. Há qualquer coisa de gótico e de delicado, de feminino e de masculino, de folk descontraído e de clássico sofisticado nesta pré-coleção de verão da casa Maramotti, uma seleção de contrastes para refletir a panóplia de referências suecas que serviram de base para os looks apresentados na Câmara Municipal de Estocolmo, este domingo, 11 de junho. Ian Griffiths, diretor criativo da marca, traz a Escandinávia para as suas linhas inspirando-se na sua História, nomeadamente no seu cariz progressista e vanguardista - aliás, como é apanágio do designer. Griffiths busca referências visuais, sim, mas é nas mensagens por detrás da aparência que vai buscar o seu fio condutor.

No caso da Escandinávia, lista a evolução nórdica desde os bárbaros vikings até serem pioneiros na igualdade de género, referindo personagens históricas de outros tempos para validar a ideia: a Rainha Cristina da Suécia foi um ícone feminista antes do termo sequer existir e a onda de libertação das mulheres no séc. XIX estava na vanguarda de uma corrente posteriormente global. O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), por exemplo, nunca se autodenominou feminista, o que não impediu que fosse proclamado como o inventor da “Nova Mulher” nas suas peças, que analisavam a realidade por detrás da vida familiar, convenções, costumes e moralidade da época, cego e surdo à contestação da época quanto ao conteúdo dos seus trabalhos dramáticos. Mas é mais concretamente em Selma Lagerlöf que Griffiths centra a sua inspiração - aliás, como é costume, o criador britânico busca numa figura feminina (não uma qualquer, uma que seja exemplo de conquista e empoderamento para as demais) o epicentro que une todas as restantes inspirações. A escritora, nascida em 1858 no berço de uma família abastada, desenvolveu ideias que contrariavam o status quo da sua época conservadora e nas suas obras advogava mudanças sociais e evolução, com particular enfoque no papel e sexualidade da mulher, de uma forma visionária muito além do seu tempo. Movia-se no mesmo mundo de ideias de Ibsen, do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) e do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (1813-1855), entre outros, e o seu contributo para a literatura escandinava trouxe de volta o fantástico aos livros: No fim do século XIX, a literatura sueca era dominada pelo realismo naturalista, mas Selma Lagerlöf, com fábulas que incluíam mitos locais protagonizadas por gnomos, duendes, fantasmas, ao recriar a atmosfera ficcional das lendas e folclore, provocou o regresso ao romantismo, aos contos populares de uma forma artística apurada, sublinhando a reintegração da herança folclórica na cultura escandinava. Não é ao acaso que, em 1909, se tornou a primeira mulher a ganhar um Prémio Nobel.

Este exemplo inspirador multiplica-se na coleção, misturado com um rol de referências nórdicas em geral - e suecas em particular. O Midsommar é, talvez, a mais óbvia, esse festival folk que celebra a dádiva do verão, sendo que uma das suas mais apetecíveis tradições é colecionar sete tipos de flores campestres - Septem Flowers - como símbolo de sorte. Diz que quem conseguir encontrar uma de cada deve dormir com elas debaixo da almofada para sonhar com a sua cara-metade. É aqui, onde o lado folk das obras de Selma e a sua era se encontram com os florais do Midsommar, que vive uma coleção onde se cruzam as silhuetas polidas dos 1900s com linhas mais descontraídas, hippies e estivais. É uma coleção de delicadeza, sim, mas também de brutos contrastes, onde fatos estruturados e casacos longos se contrapõem aos vestidos fluidos e românticos. Onde há flores, mas num piscar de olhos em alguns looks, deixando antes a paleta cromática mais lisa, tão apanágio da Max Mara, refletir um ADN de marca infalível: aquele onde o design das formas e o most-wanted se encontram. 

Para testemunhar este meet-cute entre qualidade e vanguarda, a Max Mara gabou-se de ter uma primeira fila repleta de personalidades reconhecíveis e renomadas, vestida em - what else? - Max Mara.

 

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