Se esteve atenta à passadeira vermelha de Cannes, deve tê-la visto por lá. Mas reduzir Mina Andala a co-protagonista de Jude Law no mais recente filme Firebrand é confirmar que precisa de ler este artigo sobre a atriz portuguesa consagrada.
Se esteve atenta à passadeira vermelha de Cannes, deve tê-la visto por lá. Mas reduzir Mina Andala a co-protagonista de Jude Law no mais recente filme Firebrand é confirmar que precisa de ler este artigo sobre a atriz portuguesa consagrada.
Por exemplo, é preciso saber-se que Teatro e Mina, e Mina e Teatro, confundem-se: Andala parece ter nascido em cima de um palco e para ele sempre gravitou. Não foi à toa que se licenciou na área, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, na especialidade de Formação de Atores e Encenadores. O Chapitô deu-lhe o estágio, o trabalho árduo deu-lhe uma bagagem que vai muito além da educação académica, abunda acima de tudo em (boa e renomada) experiência: de Pessoa a Shakespeare, um rol de textos já foi interpretado por Mina, e, depois de singrar nos holofotes, quis também experimentar os bastidores, escrevendo e encenando as peças Pobre Idade e O Beijo da Morte.
Na verdade, não há razão nenhuma para olhar para Mina Andala e associá-la apenas à sua mais recente película. Um CV pleno em projetos de qualidade que não se esgota no Teatro já a tornou uma cara conhecida do grande público e cada novo papel que angaria ratifica mais e mais o seu justificado estrelato: a Televisão e o Cinema têm confirmado que a paixão da atriz nascida em Lisboa é a representação, seja qual for o outlet em que tenha de expressá-lo, colecionando títulos aplaudidos como Laços de Sangue (2011) e A Única Mulher (2015), no pequeno ecrã, e A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos EUA (2004) e Peregrinação (2017), ambos de João Botelho, ou Yvonne Kane (2015), de Margarida Cardoso, no grande ecrã. Pelo caminho, não é de estranhar que já tenha sido distinguida com um Prémio Áquila, galardões da Televisão e Cinema Português, como Melhor Atriz Secundária pelo seu papel em A Única Mulher.
Mas o reconhecimento a par e passo ganha cariz internacional, tal como é a sua carreira, cuja sede agora é Londres, onde mora. A participação em diversas séries estrangeiras como Unforgotten (2015), Foundation (2021) The Confessions of Frannie Langton (2022), The Chelsea Detective (2022) e Casualty (2022) culmina agora com a estreia, em Cannes, em maio passado, de Firebrand (2023), um filme de Karim Aïnouz com nomes como Jude Law e Alicia Vikander. Mina Andala é Jalida neste drama histórico filmado no Reino Unido e o enredo centra-se em Katherine Parr, sexta e última esposa do rei Henrique VIII, e sobre o fim do reinado do rei e as batalhas de vontade, género e crença que se refletem no seu casamento.
A Vogue falou com Mina Andala - e a atriz respondeu com uma honestidade tal que lê-la é como se conseguisse ouvi-la - um pouco sobre tudo: a longa metragem, o amor pela profissão, a indústria cinematográfica em Portugal e no mundo... Mas acima de tudo, quis sublinhar um passado recheado, um presente bem estabelecido e um futuro com ainda mais para conquistar - como uma longa-metragem da sua autoria que vai começar a rodar em 2024.
Comecemos pelo fim: fale-nos um pouco de Firebrand e sobre o seu papel. Como é que surgiu?
Firebrand passa-se na corte dos Tudor, Henrique VIII (Jude Law) mais precisamente, e foca-se no seu casamento com Katherine Parr (Alicia Vikander). A minha personagem chama-se Jalida, entrou na Côrte inglesa, vinda da Côrte espanhola, como aia da primeira mulher de Henrique, Catarina de Aragão. Após a dissolução deste primeiro casamento, permaneceu na Côrte, como aia da Princesa Maria (Patsy Ferran), a filha mais velha de Henrique VIII. É uma sobrevivente, assistiu à ascensão e queda de todas aquelas Rainhas. É uma mulher de silêncios, sábia, experiente, sabe qual é o seu lugar e está muito por dentro dos jogos de bastidores da Côrte. Dadas as características da personagem e do seu percurso (baseada numa figura histórica que foi capturada pelos portugueses em Cabo Verde, foi levada para a Côrte portuguesa, depois vendida a um senhor espanhol e em Espanha acaba por ir trabalhar para a Côrte onde se torna aia da irmã do rei), a Nina Gold (Game of Thrones) que foi quem fez o casting para o filme, estava à procura de alguém com ascendência cabo-verdiana, que soubesse falar espanhol, português e inglês. O percurso da personagem é muito parecido com o meu, já que também vivi em Espanha antes de me decidir por Londres. Sondaram a Patrícia Vasconcelos em Portugal, ela deu o meu nome e a equipa da Nina Gold entrou em contacto com a minha agência. Primeiramente, fiz duas self-tapes e depois fui chamada para um casting presencial com o Karim Aïnouz, o realizador.
Esta não é a sua primeira experiência internacional, nem a primeira a contracenar com nomes reconhecidos da Sétima Arte. Já tem no CV Carnival Row, com Orlando Bloom e Cara Delevingne, por exemplo. É outro campeonato, participar em projetos internacionais ou nem por isso? O que é o melhor de participar em filmes desta magnitude? E o pior?
É o mesmo campeonato, mas com meios e recursos financeiros infinitos! Ainda no outro dia comentava com uma colega portuguesa, e dizia-lhe que a entrega, o esforço, o tempo de espera, a ética profissional exigida é a mesma (saber textos, chegar a horas e dar-se com os colegas), a diferença é que tens um trailer só para ti, dependendo da magnitude da produção e da tua incidência na estória, tens uma make-up artist e cabeleireira só para ti e cachets completamente diferentes dos cobrados em Portugal... existe uma entidade chamada Equity, da qual faço parte, que zela para que as Produtoras paguem (a elenco e crew) salários justos e que as condições de trabalho em todos os sets respeitem o standard mandatório por lei e que são praticadas pelo mercado em geral. O Carnival Row foi gravado em Praga e financeiramente era de uma magnitude estratosférica para uma série, com grandes estrelas no elenco, como a Cara e o Orlando, que são pessoas incríveis, com uma capacidade de trabalho extraordinária, porque apesar de gravares muito menos cenas por dia, o ritmo é de uma novela, são longas horas por dia. Apesar de tudo, todos termos stand-ins para ensaios de luz e marcação, só me chamavam quando era mesmo para gravar, mas isso não achei graça, eu gosto de ensaiar... tinha pick ups no hotel às 5h30 da manhã para ir para estúdio, isto depois de ter voado de Londres para Praga na noite anterior... Ou, por exemplo, também acabei de gravar a temporada 24 do Midsommer Murders com o Neil Dundgeon, um colega excepcional (uma série britânica de detectives, crime e mistério) e com certeza que não tinham um budget de milhões, mas a eficiência da estrutura produtiva era a mesma que o Carnival, ou melhor... mas também já fazem aquilo há 24 anos!
Falar em Mina Andala a propósito de Firebrand é demasiado redutor para aquilo que é a carreira, a arte, o talento e a versatilidade de Mina Andala. A Mina já fez (muito) Teatro, Televisão e Cinema. É uma atriz que não consegue ficar parada?
Com certeza, aliás o principal motivo que me levou a emigrar para Londres foi a falta de trabalho em Portugal... não sei lidar muito bem com isso. Fico muito triste, amarga. É fatal para um ator ficar muito tempo sem trabalhar. Podemos sempre fazer workshops e cursos, mas não é a mesma coisa. Suponho que seja o mesmo para os cantores, recordo-me da grande Maria Callas que parou por algum tempo, ficou sem cantar, sem ter aulas de voz e depois quando voltou, já não era a mesma, tão triste... a representação exige o exercitar permanente de certos músculos e isto não é opcional. Eu tento nunca dizer que não a um pedido de self-tape, para mim é trabalho, um exercício de acting, uma oportunidade, não remunerada, de estar à frente de uma câmara e manter a intimidade com a objetiva que é essencial na nossa profissão. É quase como um laboratório semanal onde podes testar os teus reflexos, o teu sentido estético, a tua intuição e sensibilidade enquanto criador e artista. O ator é um artesão, quando perdemos a paixão e o interesse pelos saberes e pelas técnicas do nosso mister, acabou-se, a cortina fecha-se e não damos conta.
"O principal motivo que me levou a emigrar para Londres foi a falta de trabalho em Portugal... não sei lidar muito bem com isso. Fico muito triste, amarga. É fatal para um ator ficar muito tempo sem trabalhar. Podemos sempre fazer workshops e cursos, mas não é a mesma coisa."
Destes três palcos para a representação (Teatro, Televisão e Cinema), tem algum preferido? Porquê?
Não tenho nenhuma preferência, trabalho é trabalho, mas o Teatro foi o meu primeiro amor. Em '96, quando entrei no Conservatório, nunca me passou pela cabeça poder fazer Televisão ou Cinema. Eu queria mesmo só fazer Teatro. Escrever, representar, fazer luzes, sonoplastia, cenários, encenar... o que fosse preciso.
Um projeto no seu CV que a tenha marcado de forma especial e porquê?
Definitivamente O Programa da Maria, foi o meu primeiro trabalho e logo com quem foi, a minha querida Maria Rueff. Lembro-me do casting como se fosse hoje. Era uma miúda, saí de lá a pensar que teria algumas participações em algumas rábulas, só mesmo quando fizemos prova de guarda-roupa e maquilhagem é que me apercebi que a Maria não estava a brincar, ela escolheu-me para fazer parte do elenco principal do seu primeiro programa a solo. Achei aquilo extraordinário, ali começou a minha admiração por ela que se estende até hoje... é uma mulher corajosa, de princípios, eloquentíssima, sábia e douta, apesar de tão jovem na altura... éramos todos, à semelhança da própria Maria, a nossa "patroa", jovens, muito puros, loucos e super talentosos! O núcleo duro do início, a Maria, o Nuno Lopes, Sofia de Portugal, Pedro Tochas, Rui Luis Brás, Sabri Lucas são e serão sempre meus irmãos, conheceram-me menina e eu a eles. Eu era tão ingénua, eles educaram-me, de certa forma, pelo menos para o meio artístico. Há uns dias estive com o Tochas ao telefone, depois de 23 anos sem nos falarmos, estivemos à vontade quase 3 horas ao telefone a falar como se falássemos todos os dias... foi tão bom.
Ganhou um Prémio Áquila em 2015, de Melhor Atriz Secundária. Os prémios são importantes, nem que seja como incentivo? Ou é um lado da indústria no qual nem pensa?
Os prémios têm a importância que têm, mas se perguntar a qualquer colega, ninguém pensa nisso quando aceita um trabalho... é tudo tão subjectivo! O Prémio Áquila que recebi, para mim, foi importante, porque achei que acima de tudo premiava a forma extraordinária como a Maria João Mira e a sua equipa criaram e desenvolveram a personagem da Neuza na telenovela A Única Mulher. Logo pela sinopse percebi que a personagem assentava-me que nem uma luva e quando conheci a Ana Sofia Martins (e descobrimos que éramos do mesmo bairro) foi amor à primeira vista e tomei-a imediatamente como uma filha do meu coração. Nunca fingi nada, nunca foi preciso. A Mara e a Neuza eram uma dupla lendária! Marineuza, chamávamos-lhe.
É (ainda) difícil ser-se atriz em Portugal? Porquê?
É dificil ser-se português, ponto final! À excepção de uma pequena minoria de privilegiados, o resto dos tugas tem de fazer-se à vida. Se fores artista, no meu caso atriz, estás tramada! Digo isto, não de um lugar de tristeza ou rancor em relação ao nosso país, mas de um lugar de Insistência, Teimosia e Resistência, como lhe queiras chamar. Tal como os meus colegas, eu não desisto! A minha relação com Portugal foi sempre, até há alguns anos, de Amor e Ódio. Queria tanto poder estar e viver no meu país, com um ordenado decente e um trabalho não-precário e desvalorizado! Antes de deixar o nosso país tive de admitir que infelizmente não nasci num país rico que proporciona infinitas opções profissionais, mas que Portugal não me devia nada, pelo contrário tinha-me dado tudo para ir lá fora lutar pelos meus sonhos: a língua inglesa e um Passaporte europeu. Sou grande fã do Cristiano Ronaldo, ainda mais desde que sou emigrante. Quando vim para o Reino Unido, ele jogava no Manchester. Ele sempre foi um grande exemplo para mim, digo isto de coração. Ele é descaradamente Tuga, com T maiúsculo: estás numa terra que não é a tua, falas uma língua que não dominas, mas não há desculpas para não se conquistar aquilo que se quer. O nosso país é pequeno, mas somos grandes. Um ator inglês provavelmente não se safa em Portugal, tendo que servir às mesas entre ir a castings como fiz no inicio, aprender a dominar uma nova língua... os atores ingleses ficam boquiabertos quando lhes digo que não sou bilingue, que fui melhorando o inglês, todos eles dizem que seriam incapazes de começar do zero como atores num outro país.
"Quando conheci a Ana Sofia Martins (e descobrimos que éramos do mesmo bairro) foi amor à primeira vista e tomei-a imediatamente como uma filha do meu coração. Nunca fingi nada, nunca foi preciso. A Mara e a Neuza eram uma dupla lendária! Marineuza, chamávamos-lhe."
Mas a internacionalização sempre foi um objetivo ou aconteceu simplesmente de forma orgânica?
Como disse, sair de Portugal não foi uma escolha, foi uma necessidade. O que me trouxe para Londres, como diria a Elza Soares, "foi a Fome"! Adoro o nosso país, não há melhor sítio para estar que em Portugal! A internacionalização aconteceu por acaso, porque no primeiro ano do Passaporte, a conselho do Manuel Wiborg, eu resolvi participar, e em boa hora, a Patrícia Vasconcelos trouxe a Portugal vários Casting diretors, entre os quais as britânicas Leo Davis e Lissy Holm que foram anjos que me deram a mão, oportunidades e representação no Reino Unido. Hoje em dia, não quero parar, quero muito trabalhar em África e no Brasil, e sei que isso vai acontecer brevemente.
Hoje em dia é mais fácil a internacionalização, com recursos como a self-tape? Ou, por outro lado, também gerou mais concorrência?
Não há concorrência entre atores... isso não se aplica na nossa profissão. Há a pessoa certa para o papel certo. Eu costumo sempre dizer que o que é nosso ninguém nos tira. A self-tape veio democratizar um pouco mais este meio. Geralmente, as agências de castings estão localizadas nas capitais, Lisboa ou em Londres... com o recurso às self-tapes atores de todo o país podem concorrer a papéis sem gastar fortunas em deslocações semanais e até nem precisam de estar no país. Neste momento, moro em Hertfordshire, a 40 minutos do centro de Londres, prefiro self-tapes a castings presenciais, tenho poupado uma pequena fortuna em transportes. Foi algo que o Covid trouxe de bom...
E as redes sociais, vieram ajudar a arte da representação, porque permitem maior visibilidade, ou dificultar, uma vez que geram mais ruído?
Eu não sou muito dada a redes sociais, nunca tive um telemóvel de jeito e sou imprestável para aprender a mexer nessas plataformas de forma eficiente. Sou muito parola e preguiçosa. Tudo é bom, depende da forma como usamos essas ferramentas. Eu antes demonizava as redes sociais, confesso... aqui em Londres, tinha amigos obcecados com isso... politizados do dia para a noite, com crises de ansiedade por não terem a visibilidade que desejavam, de repente vinham com umas teorias da conspiração que não lembram ao Diabo, a decidirem serem Influencers por achar que a Licenciatura não lhes vai dar dinheiro.... era demais. Por insistência dos meus amigos agora tenho Instagram, mas se fores ver, as fotos e os vídeos não são "à la Instagram Standard", no inicio tinha vergonha, porque há colegas com perfis espetaculares, agora apercebo-me que não é para tanto, é apenas para mostrar o meu trabalho, e que aquilo não é o meu trabalho, não tenho de ser craque a tirar fotos e a fazer reels. Não gosto de filtros, post superficiais, febre de likes e de seguidores... somos atores, não precisamos disso, ou não deveríamos, sei que agora às vezes é importante para te darem trabalho, acho isso perverso... mas gosto do contato com as pessoas e de saber como vão os meus colegas e dos projetos que integram. Estou em Londres e sigo a Ana Bola, a Zezé Motta e a Leonor Silveira, não é fantástico? Assim vale a pena ter redes sociais!
O que falta em Portugal para que a cultura da representação cresça?
Vontade por parte de Produtores, Realizadores, Argumentistas, o Público quer, viu-se com o sucesso estrondoso d' A Única Mulher e das audiências das plataformas de streaming em Portugal. O nosso país é e sempre foi multicultural, isso é uma mais-valia e precisa de ser mostrado nos nossos palcos e ecrãs.
Corrija-me se estiver errada, mas há muito que não faz Teatro: é uma escolha ou um acaso? Gostava de regressar aos palcos? Se sim, como atriz ou como encenadora?
Antes do Covid, fiz duas peças. Fiz a peça Fenda, da autoria e encenação do Rodrigo Francisco para a Companhia de Teatro de Almada, em 2019, uma peça encabeçada pela grande Maria João Abreu, penso que a sua última. Adorei a experiência e o grupo de trabalho. Além de diretor, o Rodrigo é um encenador e dramaturgo extraordinário. Tão novo e tão genial. A Maria João ajudou-me tanto, era tão boa colega. Aprendi imenso, quero muito voltar a trabalhar no Teatro, em Portugal. Em Londres, também no final de 2019, fiz uma peça da autoria da atriz Zawe Ashton, For All The Women Who Taught They Were Mad encenada pela grande Jo McInnes. Foi uma peça muito desgastante, física e mentalmente. Foi a minha primeira peça em Londres, protagonista, 90 minutos sem sair de palco. A peça explora as diversas facetas e experiências de uma mulher negra no seu local de trabalho, A depressão, a maternidade, as doenças mentais, as relações amorosas. Não sei se fazia bem, mas nunca trabalhei tanto na minha vida! Estava a fazer o Carnival Row ao mesmo tempo, cheguei a sair de um ensaio em Londres, ir para Praga gravar e no dia seguinte meter-me no avião, regressar a Londres e ir diretamente para os ensaios, sem passar por casa. Acabou a peça e comecei logo a gravar Unforgotten. Foi desgastante, mas valeu a pena. Neste momento quero muito escrever! Escrevi uma longa-metragem que o ICA apoiou e em 2024 vai ser rodada em São Tomé e Príncipe, o Bando à Parte vai produzir e o Ângelo Torres vai realizar.
A sua paixão pela representação é palpável pela versatilidade e sucessiva multiplicidade de projetos. O que é que a atrai mais na representação?
A verdade. Neste mundo louco, de Ilusões, do Parecer, de Filtros, do colocar de Máscaras... a representação, os palcos, são o último reservatório de verdade existente à face da Terra. A maior preocupação do ator é essa, a Verdade.
Se pudesse escolher um realizador, qualquer um, com o qual gostasse de trabalhar e que ainda não o tivesse feito, quem seria?
Em Portugal são alguns, mas se tenho de dizer nomes: a Rita Nunes, era para termos trabalhado juntas este ano, mas por uma questão de datas não aconteceu. Era uma daquelas personagens que em Portugal ainda pouca gente pensa em chamar uma atriz negra para fazer... mas ela viu a minha a self-tape e escolheu-me, sou-lhe grata porque ao menos deu-me a oportunidade de mostrar que sabia como interpretar aquela personagem! Fazer Cinema em Portugal é complicado para pessoas como eu ...é chato estarmos sempre com o mesmo queixume, isto é difícil para todos, até eu já não me posso ouvir às vezes, mas o Ângelo Torres tem razão quando diz que somos "atores sazonais", ainda só nos chamam porque precisam de alguém preto, não nos chamam quando precisam de atores. Assim fica difícil, se nem somos chamados para fazer casting, não temos hipóteses. Ainda há poucos dias fiz uma self-tape aqui para o Reino Unido, para uma personagem que no texto é um cientista caucasiano, mas que a diretora de casting resolveu ignorar essa premissa e pedir tapes a homens e mulheres de qualquer background com o seu próprio sotaque... às vezes os diretores de Casting têm uma visão bem mais abrangente e interessante de um guião que muitos realizadores e argumentistas. Pessoas são pessoas!
"É dificil ser-se português, ponto final! À excepção de uma pequena minoria de privilegiados, o resto dos tugas tem de fazer-se à vida. Se fores artista, no meu caso atriz, estás tramada! Digo isto, não de um lugar de tristeza ou rancor em relação ao nosso país, mas de um lugar de Insistência, Teimosia e Resistência, como lhe queiras chamar."
Que próximos projetos tem entre mãos?
Pagos, nenhum, mas trabalho não me falta. Tenho duas self-tapes para entregar segunda-feira [ri-se]... estou em pós produção de duas curtas em que participei como atriz e produtora, esta segunda-feira também tenho uma leitura de guião para uma grande produção de uma longa metragem com casting da Nina Gold. Mais para o final do ano, tenho um longa com o António Ferreira, em Portugal. Fiz casting há duas semanas em Portugal antes de ir para Cannes e fiquei super entusiasmada, adorei trocar ideias com o António, ele é um porreiro, super descontraído, pelo vistos ele gostou do que fiz, eu também gostei do texto dele e não vejo a hora de trabalharmos juntos.
Independentemente do que respondeu sobre a importância dos prémios, diga-nos: a quem agradeceria no seu discurso de aceitação de um Óscar?
Aos meus pais, à Maria Rueff, uma moçambicana de coração gigante que me deu a mão, minha professora e exemplo como atriz e como pessoa para a vida, ao Ivan Coletti, a primeira pessoa a reparar no meu trabalho dentro da antiga NBP (eu nunca me esqueço), e aos meus colegas do Conservatório, eu tinha 18 anos quando entrei, a minha turma era excecional, eles eram tão bons atores/artistas, eram rebeldes, loucos, interessantíssimos, o impacto que tiveram em mim foi tal, que até hoje só quero chegar-lhes aos calcanhares.
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