O consumo. Esse pecado diabólico. Mas necessário.
O consumo. Esse pecado diabólico. Mas necessário.
1950, Chicago, EUA ©Getty Images
1950, Chicago, EUA ©Getty Images
O consumo é tão universal como o ar que respiramos. A nossa sede por ter mais é o que as marcas tentam explorar para obter lucro, naquela que é uma sociedade de "mercado livre". E é por isso que nos tornámos tão desconectados em relação à origem dos produtos que consumimos, chegando mesmo ao ponto das nossas decisões destruírem a vida de outros e do planeta. Isto se tivermos uma atitude de mindless consumption, por outras palavras, consumir apenas para nosso próprio benefício. E é aqui que entra o chamado mindful consumption, onde consumimos para nós, mas também para os outros e para o planeta – tomando consciência do nosso comportamento e das suas consequências e sendo mais ponderados.
A cada decisão de compra, criamos um sinal de mudança sistémica para o nosso futuro e apercebemo-nos do poder que temos enquanto consumidores. De facto, é notória a mudança de mindset em relação ao consumo. São cada vez mais as pessoas que se consciencializaram dos seus padrões de consumo e do respetivo impacto na sociedade e na natureza e começaram a considerar o que - e se - comprar e pensar mais sobre o valor real que obtêm dos seus gastos. Em vez de acumular vários produtos e serviços, alguns consumidores procuram agora um modo de vida sustentável e autossuficiente, acreditando que essa abordagem oferece uma felicidade verdadeira.
Mas consumir tem aspetos positivos. Consumir impulsiona o comércio e o crescimento económico, que por sua vez significa mais emprego. Mais emprego significa que as pessoas são capazes de ter uma melhor qualidade de vida e podem adquirir aquilo que precisam e querem. E quando isso acontece, voltamos ao início, isto é, mais consumo. Talvez alguém mais idealista possa considerar que temos que estar 100% dedicados e fazer absolutamente tudo o que está ao nosso alcance, se a nossa missão é realmente salvar o planeta. Reduzir o consumo de plástico para zero. Só comprar produtos sustentáveis. Erradicar o desperdício. Nunca comprar nada produzido em condições não ideais de trabalho. A lista é infinita.
"Enquanto sociedade vivemos demasiado obcecados com resultados instantâneos, em todos os campos da nossa vida."
Será de facto razoável viver assim? Nelson Mandela acreditava que podemos começar a mudar o mundo para melhor diariamente, independentemente da grandiosidade da ação a que nos propomos cumprir. Pessoalmente, estou inserida no espetro do realista e prático e considero impossível uma dedicação a 100%. A voz da razão, neste caso a voz de Mandela, relembra-nos que é ok dar passos pequenos. Por vezes conseguimos não comprar algo que na realidade não precisamos. Outras vezes tentamos proactivamente reduzir o nosso consumo de plástico. E outras vezes apoiamos, com o nosso dinheiro, marcas cujo ethos nos identificamos, onde toda a gente importa e ganha desde o produtor ao consumidor.
O que é que todas estas pequenas coisas têm em comum? São escolhas. E são passos pequenos. Será que o mundo vai mudar do dia para a noite? Não. Será que vai mudar num ano? Improvável. Mas são escolhas para viver a vida de uma maneira mais significativa, que valorize o nosso planeta e ajude as pessoas que vivem nele. É aceitável não ‘chegar a todo o lado’ porque é simplesmente demasiado. Em vez disso, é muito fácil ‘chegar a algum lado’, escolhendo áreas com as quais nos identificamos e desafiando-nos a operar mudanças na nossa própria vida, nessas áreas em específico. Pequenas mudanças que, eventualmente, terão um grande impacto. Ênfase no eventualmente. Enquanto sociedade vivemos demasiado obcecados com resultados instantâneos, em todos os campos da nossa vida. Infelizmente temos que abandonar essa ideia peregrina. No que à filosofia do mindful consumption diz respeito, é provável que não vejamos resultados imediatamente nem tão pouco enquanto estivermos vivos. Porém, assim como vimos os impactos negativos do nosso consumo nas últimas décadas, é evidente que as mudanças que fizermos agora resultarão em impactos positivos no futuro.
As coisas descontrolam-se quando consumimos sem pensar em quem produz e no que acontece às coisas quando já não nos são úteis. O mais importante a lembrar é que existe um ciclo de vida para todos os produtos que compramos. E houve alguém que os produziu antes de os comprarmos. Para além disso, geralmente, há um custo ambiental a ser pago depois de nos livrarmos deles. Consumir não é um pecado, não é um ato diabólico, mas tem o potencial de correr muito mal quando valorizamos a quantidade em favor da qualidade. E qualidade não se aplica apenas aos bens e serviços que compramos, mas também à vida daqueles que fabricam esses bens e serviços. Resumindo e concluindo, o tema que abrange todas estas premissas é consciência. Quando estamos cientes das mudanças que podemos fazer para melhorar as condições do planeta, fica mais fácil fazer essas mudanças, grandes ou pequenas. Quando reconhecemos o impacto das nossas compras, praticando o mindful consumption, podemos pensar mais criticamente sobre se vale a pena ou não. Essa consciência está fundamentada na ideia de que exercemos muito poder e influência simplesmente pela maneira como escolhemos gastar o nosso dinheiro.
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