A tecnologia é mais acessível que nunca, mas na África subsaariana, as mulheres constituem apenas 30% dos profissionais da indústria tecnológica - conhecemos seis mulheres que trabalham para alterar essa estatística.
A tecnologia é mais acessível que nunca, mas na África subsaariana, as mulheres constituem apenas 30% dos profissionais da indústria tecnológica - conhecemos seis mulheres que trabalham para alterar essa estatística.
Nos últimos cinco anos, o panorama tecnológico da África Ocidental tem testemunhado um boom, com um aumento dramático de inovadores e empreendedores de tecnologia - também conhecidos como tech-preneurs- utilizam a tecnologia para fornecer soluções simples e acessíveis aos problemas quotidianos. De serviços de pagamento a aplicações que ajudam as pessoas a aumentar as suas poupanças e, que facilitam a participação dos africanos na luta global pela moeda criptográfica, o panorama tecnológico da África Ocidental está mais vivo que nunca. Por todo o continente, os centros tecnológicos têm surgido em lugares como o Egipto, Quénia e África do Sul, com a Nigéria - o país mais populoso de África - a liderar a lista.
Os tech-preneurs da África Ocidental têm-se concentrado em assegurar que o aumento do número de utilizadores de telemóveis na área se traduz também num maior número de africanos ocidentais com acesso a soluções bancárias digitais fáceis e inclusivas. Enquanto as empresas de tecnologia abordam muitas questões - desde tornar os dados sobre África acessíveis e fornecer serviços de saúde até à revolução na industria da Moda africana - as empresas de tecnologia financeira estão entre as maiores da Nigéria.
À medida que esta indústria atinge novas metas, a inclusão e participação das mulheres não está exatamente onde deveria estar. Apenas 10% das startups da África Ocidental que angariaram um milhão na última década tiveram pelo menos uma co-fundadora feminina. Na África subsariana, as mulheres constituem apenas 30% dos profissionais da indústria tecnológica. Apesar de muitos empresários afirmarem que a sua missão é "fornecer soluções inclusivas e acessíveis para os problemas do dia a dia", não é possível fazê-lo verdadeiramente quando a maioria das aplicações e serviços são criados por homens e, a participação das mulheres na sua criação é tão escassa.
Conhecemos seis mulheres nigerianas que estão a dar que falar na tecnologia global e a redefini-la de dentro para fora.
1. Odunayo Eweniyi
©Manny Jefferson
Em 2016, a partilha de uma imagem sobre uma caixa de madeira usada para poupar dinheiro inspirou Eweniyi e os seus co-fundadores a criar o PiggyBank, agora conhecido como PiggyVest. Hoje, ela é a CMO desta aplicação de poupança e investimento, assim como co-fundadora da Coligação Feminista e do First Check África, uma comunidade para mulheres africanas na tecnologia.
Sobre entrar na área de tecnologia:
"Em 2014, fundei a Push CV para ligar empregadores verificados a candidatos pré-selecionados. Passámos dois anos a angariar fundos de risco e a trabalhar em vários outros produtos que tinham falhado anteriormente. Nessa altura, também trabalhei como diretora na Techpoint, escritora e fundadora da Zikoko!, e depois como redatora da Konbini, pelo que a minha jornada tecnológica é muito intercalada com o jornalismo e a escrita".
Sobre a entrada de mais mulheres na indústria tecnológica:
"A falta de mulheres na tecnologia [não pode ser explicada] com diferenças biológicas inatas. Na realidade, deve-se a uma combinação de preconceitos sistémicos, é sobre homens que financiam homens e, uma cultura de trabalho que exclui as mulheres. Quando são dadas oportunidades, as mulheres destacam-se".
Sobre o trabalho que Eweniyi está a fazer com o First Check África:
"As pessoas dizem muitas vezes que não há muitas mulheres, em particular mulheres negras ou africanas, na tecnologia. No entanto, o co-fundador do First Check África, Eloho Omame, e eu queremos encontrar mulheres antes que elas se sintam desencorajadas pelo processo de angariação de fundos, e dar-lhes dinheiro para construírem um produto viável para que assim, possam continuar a angariar fundos para a fase inicial".
2. Yewande Akomolafe-Kalu
Com uma licenciatura em psicologia, pela Universidade da Cidade de Birmingham, e experiência de trabalho nas indústrias da Moda e do entretenimento, hoje, Akomolafe-Kalu é a chefe dos contadores de histórias e branding da Flutterwave, uma das maiores empresas de África.
Sobre o estado atual da indústria tecnológica na Nigéria:
"É seguro dizer que o estado da indústria tecnológica nigeriana está num estado avançado e inovador; vamos cada vez mais além para fornecer soluções às pessoas a fim que possam utilizá-las e tornar as suas vidas mais fáceis".
Sobre a sua jornada na indústria tecnológica:
"Duas pessoas acreditaram em mim quando nem eu mesma tinha fé em mim: a primeira foi uma amiga que me recomendou para um papel que ela não podia assumir, e a segunda foi [Olugbenga Agboola] a CEO da Flutterwave, a quem ela me apresentou. Antes disso, tinha trabalhado no entretenimento, na indústria da Moda, numa agência de marketing digital e numa start-up de comércio eletrónico".
Sobre a entrada de mais mulheres nigerianas na tecnologia:
"Um dos principais obstáculos é o facto de que as raparigas não veem a tecnologia como uma opção. Precisamos desmistificar a indústria tecnológica, para que as pessoas saibam que se trata de todo um ecossistema. Precisamos de ser intencionais na contratação de mais mulheres e torná-las mais visíveis; apresentar opções; mostrar-lhes que os empregos na área tecnológica estão ao nosso alcance e que são exequíveis".
3. Damilola Odufuwa
Como co-fundadora da Coligação Feminista, Odufuwa defende a igualdade de género na sociedade nigeriana, com ênfase na educação, liberdade financeira e representação em cargos públicos. Estes valores guiam o seu papel de relações públicas na Binance, uma das maiores empresas mundiais de divisas criptográficas.
Sobre a entrada na tecnologia:
"Após completar o meu mestrado em finanças internacionais e desenvolvimento económico na Universidade de Kent, trabalhei durante anos na área da comunicação. Estagiei na Universal Music e MTV Viacom antes de me formar para diretora da Zikoko! e Konbini, depois assumi um cargo de produtora social para a CNN África. Não tencionava trabalhar em tecnologia, mas assim que me apercebi do impacto que a criptografia e a tecnologia da blockchain podem ter nos direitos e liberdade das mulheres, comprei logo essa hipotese".
Sobre conseguir que mais mulheres entrassem na tecnologia:
"Há muita desinformação sobre que tipos de papéis estão disponíveis na tecnologia - quebrá-los irá encorajar mais mulheres a entrar na indústria. Todos os dias interagimos com a tecnologia de várias formas e todas elas apresentam oportunidades de fazer a diferença. Não tem de ser uma questão de codificação".
4. Eloho Omame
Co-fundadora do First Check África, Omame é licenciada pela London School of Economics e tem um MBA da London Business School.
Sobre a entrada na tecnologia:
"O meu primeiro grande trabalho foi na Lagos Innovates, um portefólio de programas de apoio ao Lagos State Employment Trust Fund, que depois construíram. Depois disso, lancei uma organização de apoio ao empreendedorismo chamada Endeavor antes de lançar o First Check África com a Odunayo Eweniyi, em janeiro".
Sobre a entrada das mulheres na tecnologia:
"Ter mais mulheres em papéis de liderança irá atrair mais mulheres para o topo - a representação é importante. Do lado do investimento, gostaria de ver mais empresas de capital de risco a admitir que têm questões culturais que podem ser desmotivantes ou difíceis de navegar para as mulheres. Coisas tais como políticas de local de trabalho, de entretenimento e a formação de preconceitos de género, deveriam estar em cima da mesa para reavaliação".
Sobre o trabalho que o First Check África está a fazer:
First Check África é construído com a missão de promover a igualdade, o capital e a liderança para uma geração de mulheres, em África, através da tecnologia e do empreendedorismo. Nós queremos acabar com as preocupantes disparidades de género no poder, riqueza e realização profissional em todo o continente. A longo prazo, esperamos que a First Check África seja uma plataforma através da qual as mulheres consigam crescer ajudando outras mulheres em África a fazer o mesmo".
5. Oluwaseun Runsew
Runsewe, começou a sua carreira como analista antes de se juntar ao Paystack como líder empresarial. Agora, vice-presidente da SoftCom, está empenhada em tornar os serviços financeiros acessíveis a todos, especialmente para mães solteiras, como a própria.
Sobre entrar na tecnologia:
"Trabalhei como analista para a empresa de consultoria Big Four KPMG, aconselhando agentes dos serviços financeiros sobre estratégia e planeamento de negócios. Também coordenei um projeto à escala africana para mover a agulha na banca, controlar os pagamentos e gestão do risco financeiro. Depois, em 2016, recebi uma introdução por e-mail ao CEO da PayStack - um projeto que ajuda as empresas em África a serem pagas por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo - e juntei-me como líder empresarial à medida que entrava em novos setores e empurrava as fronteiras da economia digital da Nigéria".
Sobre o trabalho que está a fazer agora:
"Agora, estou a trabalhar num banco digital para mães - tornei-me mãe solteira um mês depois de fazer 25 anos e com menos de 15 dólares a meu nome, por isso tive de descobrir como ganhar e gerir dinheiro para o futuro do meu filho, enquanto, trabalhava na Fintech durante os últimos cinco anos. A minha missão é colocar as mesmas ferramentas e conhecimentos que serviram para mim nas mãos do maior número possível de mães - especialmente mães solteiras".
6. Adia Sowho
©Manny Jefferson
CEO da Thrive Agric e diretora não executiva da Hover Developer Services, Sowho construiu uma reputação sobre ser uma solucionadora de problemas dentro dos negócios, tecnologia e espaço de comunicação social da Nigéria. Com uma carreira que abrange o desenvolvimento de conteúdos móveis, tecnologia e serviços financeiros, hoje, está concentrada em mudar a cultura tecnológica na Nigéria e inspirar mais mulheres jovens a entrar na indústria.
Sobre a indústria tecnológica da Nigéria:
"Há duas Nigérias: a Nigéria de que se ouve falar [no ciclo de notícias] com as suas questões de corrupção, e [a menos divulgada] a revigorante indústria tecnológica, com os jovens a apresentarem novas formas de resolver problemas que já são antigos. As duas realidades esbarram uma na outra de vez em quando levando à explosão, porém, acredito que a jovem Nigéria irá prevalecer".
Sobre conseguir que mais mulheres se dediquem à tecnologia:
"[Neste momento] a estrutura da indústria é mais recetiva à energia masculina do que à energia feminina; precisamos de criar uma indústria mais inclusiva. Se uma empresa procura um promotor, um homem pode simplesmente atirar o seu chapéu para o ringue, enquanto uma mulher tem de considerar coisas como a distância do seu escritório de casa e se será capaz de terminar o trabalho a tempo de chegar a casa antes do anoitecer".