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To be continued | New Beginnings: Histórias de esperança

30 Aug 2021
By Joana Rodrigues

Às vezes o mundo deita-nos abaixo, deixa-nos sem fé e confiança. Mas o que, nas nossas vidas, pode parecer o fim, é muitas vezes apenas uma pequena adversidade. O que precisamos é de coragem e força para virar a vida ao contrário. Estes são alguns contos reais de quem nunca desistiu e ultrapassou os mais improváveis desafios. Estas são histórias de esperança.

Às vezes o mundo deita-nos abaixo, deixa-nos sem fé e confiança. Mas o que, nas nossas vidas, pode parecer o fim, é muitas vezes apenas uma pequena adversidade. O que precisamos é de coragem e força para virar a vida ao contrário. Estes são alguns contos reais de quem nunca desistiu e ultrapassou os mais improváveis desafios. Estas são histórias de esperança.

© Getty Images, Artwork by Mariana Matos
© Getty Images, Artwork by Mariana Matos

Oprah Winfrey

Oprah dispensa apresentações tanto quanto o apelido - atingiu um nível de status que lhe permite reconhecimento só pelo primeiro nome, ao mesmo nível de uma Madonna ou de uma Cher. Figura pública, atriz, autora e filantropa, é um pouco de tudo. Mas o caminho até se tornar multimilionária e a afro-americana mais rica do século XX foi longo e árduo. Oprah começou do zero - quase literalmente. Nasceu de pais separados e ausentes e, até aos seis anos, viveu com a avó. A família era tão pobre que Winfrey usava sacos de batatas como vestidos. A pobreza, contudo, nunca a impediu de tentar chegar mais longe. Foi apenas aos três anos que aprendeu a ler versos da Bíblia e na igreja chamavam-na “a pregadora”. Pouco depois de ter começado a viver com a mãe, Oprah foi molestada por um tio e um primo, um abuso que começou aos nove anos e que, intolerável, atingiu o ponto de saturação quando, aos 13 anos, a fez fugir de casa. Um ano depois, a jovem deu à luz prematuramente um filho que morreu pouco depois do parto. Esta seria a única criança de que foi mãe. 

Oprah sempre foi dedicada aos estudos, e talvez tenha sido esse o esforço que a levou onde está hoje. Por causa do seu sucesso académico, foi transferida para uma escola secundária de elite, onde trabalhou para ter uma bolsa de estudos universitária - que assegurou, para a Universidade do Tennessee, onde estudou comunicação. O curso demorou 12 anos a ser concluído, porque a norte-americana rapidamente se lançou aos holofotes da fama como pivô de televisão em 1976. Sete anos mais tarde, Oprah é transferida para Chicago para apresentar um programa televisivo matinal com pouca audiência. Não demorou muito tempo até que a apresentadora se destacasse na indústria: meses depois de se ter juntado ao projeto, o programa passou a ser o mais visto na cidade. Apesar do aparente sucesso, o percurso de Oprah não foi sempre tranquilo, nem mesmo depois de ter lançado a sua carreira. Foi em 1981 que escreveu uma carta de suicídio à melhor amiga, Gayle King, depois de (mais) um desgosto amoroso. A empreendedora acabou por não tentar tirar a sua própria vida e voltou a concentrar-se nas suas aspirações profissionais. Em 1986, o programa passou a chamar-se The Oprah Winfrey Show. A partir daí, foi sempre a subir. Estreou-se como atriz em The Color Purple, filme a que deve o Tony de Melhor Revival de Música, e ainda uma nomeação para o Óscar de Melhor Atriz Secundária. Desde 1996, já assinou dez obras literárias, desde autobiografias a livros sobre alimentação saudável. “O grande ato corajoso que todos temos de fazer é ter a coragem para nos afastar da nossa história e passado, para que possamos viver os nossos sonhos” - Oprah disse-o, e sem dúvida que cumpriu.

Maya Angelou

“Podes não controlar as coisas que te acontecem, mas podes decidir não te deixar abater por elas”. As palavras da poetisa e ativista ecoarão sempre dentro de nós, como o vestígio que ficou de uma grande mulher que marcou as vidas mesmo de quem nunca ouviu o seu nome. A história de Maya Angelou é o original conto de transformação - de vítima de abuso a mulher independente e ativista reconhecida. 

Foi aos oito anos que foi violada pelo namorado da mãe. O homem acabou por cumprir apenas um dia de prisão e, dias depois de ter sido libertado, foi assassinado, presumidamente, pelos tios de Angelou. Consumida pela culpa de o ter denunciado e causado a sua morte, não falou durante cinco anos. Até aos 13 anos, o silêncio de Maya Angelou introduziu-a a autores que viriam a influenciar a sua obra, como Charles Dickens e Edgar Allen Poe. Recuperou a fala graças a uma professora que lhe disse que “não se ama poesia sem a proferir”. Três anos mais tarde, fez história ao tornar-se a primeira mulher afro-americana a ser condutora de elétricos em São Francisco. 

Depois de ter tido o seu único filho aos 17 anos, casou com um eletricista grego, contra a vontade da mãe. Foi dançarina de calipso, um género de música e dança caribeno, num grupo que criou com outros artistas e coreógrafos. O caminho para o reconhecimento não foi fácil para a autora, que, depois de se divorciar, dançou em bares e discotecas na Califórnia e chegou mesmo a ser prostituta e responsável por outras de um bordel. Maya Angelou nunca teve vergonha do seu passado: nas suas autobiografias, a autora fala abertamente, e sem escrúpulos, do que teve de fazer para assegurar condições de vida para a família. Desde cedo, a autora esteve envolvida em causas sociais, particularmente com o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Maya Angelou conheceu Martin Luther King Jr. e foi grande amiga de Malcolm X antes do seu assassinato. A carreira da ativista passou pelo Egito, onde trabalhou como editora para o jornal The Arab Observer. Em 1965, regressou aos Estados Unidos e participou diretamente em organizações e manifestações da causa social. 

A sua primeira, e talvez mais ilustre, obra foi publicada em 1969. I Know Why The Caged Bird Sings é a autobiografia a que Maya Angelou deve a sua reputação e popularidade - espantoso é que a tenha conseguido simplesmente por contar a sua história. Para além de poetisa, dançarina e ativista, ainda enveredou pelo mundo das artes performativas, tendo sido nomeada para um prémio Tony pela sua prestação enquanto atriz em Look Away. Angelou chegou a vencer três Grammys de Melhor Álbum de Palavras Faladas, um deles atribuído ao poema que recitou na inauguração do presidente Bill Clinton. Maya Angelou morreu em 2014 aos 86 anos, mas a obra que deixou para trás é vasta, brilhante, e promete para sempre iluminar com a memória de uma vida gloriosa e inspiradora.

Viktor Frankl

O que é que nos mantém vivos? Há algo em cada um de nós que parece prender-nos à vida, talvez a uns mais do que outros. Viktor Frankl foi, sem dúvida, um dos que, apesar de tudo, se recusou a sucumbir à miséria a que fora condenado. 

Nascido em 1905, em Viena de Áustria numa família judaica, Frankl revelou desde cedo um fascínio pelo estudo da mente e da psicologia. Aliás, dizer que tinha um fascínio pode ser um eufemismo - era mais do que uma paixão, atrevemo-nos a descrever como o seu propósito de vida. Enquanto adolescente, trocou cartas com Sigmund Freud, pai da psicanálise, e pouco depois foi estudar medicina para a Universidade de Viena, onde se especializou em Neurologia e Psiquiatria. Sempre envolvido na sociedade civil, Frankl tornou-se presidente da juventude do Partido Social Democrata austríaco e fundou um centro de terapia na universidade, de forma a combater o alto número de suicídios. Foi uma iniciativa bem sucedida? Digamos apenas que em 1931, dois anos depois, não houve um único estudante em Viena a tirar a sua própria vida. 

Foi em 1938 que a vida aparentemente tranquila de Viktor Frankl começou a tornar-se cada vez mais difícil com a anexação da Áustria pela Alemanha Nazi. Por ser judeu, a sua clínica privada ficou imediatamente limitada, e acabou por ir trabalhar para o Hospital de Rothschild, o único que ainda admitia cidadãos semitas. Durante o ano que passou no hospital, Frankl salvou doentes condenados à eutanásia por incapacidade mental, colocando em risco a própria vida.

Frankl, ao lado da sua mulher, pais e irmãos, foi enviado para o campo de concentração de Theresienstadt em 1941, onde morreu o seu pai, de fome e pneumonia. Três anos mais tarde, a restante família foi transferida para Auschwitz, onde a mãe e o irmão do psiquiatra foram mortos nas câmaras de gás. Já a sua esposa veio a morrer de febre tifóide no campo de Bergen-Belsen. Ao longo dos três anos em que esteve encarcerado, Viktor Frankl passou por quatro campos de concentração.

Depois da libertação, em 1945, o psiquiatra rapidamente voltou a exercer e a estudar, tendo obtido o doutoramento três anos mais tarde. Frankl é hoje conhecido não pela sua trágica história, mas pelo que fez no fim dessa fase - fundou a logoterapia, um método que parte do princípio que a principal força motivacional de alguém é encontrar o seu propósito. Talvez este tenha sido o seu, que o manteve agarrado à vida contra todas as probabilidades.

Frida Kahlo

Não há quem não conheça a célebre monocelha que distingue dezenas de autorretratos da artista mexicana, cujo percurso parece ter sido uma curta sucessão de desgraças. Frida Kahlo “viveu a morrer”, disse Andrés Henestrosa, autor e amigo da pintora. 

Desde cedo, Kahlo parecia estar deveras consciente do ambiente pesado que a rodeava, tendo descrito a sua infância como triste, devido ao casamento infeliz e sem amor dos pais. Foi aos seis anos que foi diagnosticada com poliomielite, o que a obrigou a isolar-se durante meses e a viver para sempre com uma saúde deficiente e frágil. Anos depois de voltar à escola, foi abusada sexualmente por uma professora. 

A paixão pela pintura revelou-se mais tarde, só aos 18 anos, fruto de mais um evento trágico: depois de um acidente de autocarro, Kahlo ficou gravemente ferida por ter sido empalada na pélvis e ter partido a coluna em vários sítios. Presa a uma cama durante três meses, o pai construiu um cavalete que lhe permitia pintar deitada, onde começou a sua grande carreira. Casou com Diego Rivera, artista plástico, com quem teve dois casamentos - sim, dois - ambos com inúmeros casos extraconjugais de ambas as partes. Aliás, um dos mais improváveis passou-se em 1937, quando Leon Trotsky esteve exilado na casa de Kahlo e com quem teve uma breve relação. A pintora esteve grávida várias vezes, mas acabou sempre por abortar, fosse espontâneo ou planeado. 

O seu trabalho começou a tornar-se popular no início da década de 1930, quando se mudou para os Estados Unidos com Rivera, mas o casal rapidamente voltou para o México: apoiante do Partido Comunista, Kahlo desprezava a cultura capitalista e a desigualdade que caracterizava o país. De volta à Casa Azul, a artista começou a pintar mais e a ser incluída em exposições por todo o mundo, incluindo no MoMA, em Nova Iorque.

Sempre com uma saúde frágil, Kahlo passou a ter de utilizar espartilhos para suportar a sua coluna, e teve várias complicações, como uma infeção crónica na mão e mesmo sífilis. A casa onde vivia tornou-se o seu exílio, que lentamente foi tornando num lar - os jardins eram cuidados e tinha vários animais de estimação, como macacos, cães e papagaios. Depois de uma cirurgia falhada à coluna, a pintora ficou dependente de uma cadeira de rodas. Já em 1953, teve de amputar a perna direita, o que a motivou a tentar o suicídio com comprimidos. A morte viria só em julho de 1954, por pneumonia, e foi recebida por Frida Kahlo com alívio e até algum carinho, segundo as últimas palavras que deixou escritas no diário: “Espero alegremente a saída - e espero não voltar mais”.

Ludwig van Beethoven

Pianista, compositor e, ao que parece, eternamente perturbado pelos acasos que a vida lhe trouxe. Nascido em Bona, na Alemanha, no seio de uma família privilegiada, Ludwig van Beethoven teve seis irmãos, dos quais apenas dois chegaram à idade adulta - os restantes quatro morreram nos primeiros meses ou anos de vida.

O talento musical não passou despercebido e a partir dos cinco anos foi obrigado, pelo pai, a cumprir um rígido regime de ensaios que se estendiam até de madrugada. Para além de ter sido o primeiro professor do pianista, o pai atormentava-o, muitas vezes sob a influência de álcool.  Depois da morte da mãe, aos 16 anos, Beethoven ficou encarregue de criar os dois irmãos mais novos, dada a incapacidade do pai. Obrigado a colocar os estudos de parte, o jovem músico viu-se, de repente, a ser o ganha-pão da família a dar aulas e a tocar em óperas. Pouco depois, começou finalmente a compor sinfonias.  Contudo, foi apenas aos 28 que Beethoven começou a perder a audição. Não é claro o motivo, mas especula-se que poderá ter sido provocado por uma doença, como sífilis ou febre tifóide, por ter o hábito de mergulhar a cabeça em água fria para se manter acordado, e há quem diga ainda que tivesse sido o resultado de um desentendimento com um cantor. Sem encontrar uma causa provável ou uma cura para a surdez, o pianista chegou a contemplar o suicídio, como descreveu numa carta que escreveu aos irmãos, mas nunca chegou a enviar. 

Mais do que a mazela física, Beethoven viveu uma série de desgostos amorosos, apaixonado sempre por mulheres que não podia ter. Foi em 1812 que o músico escreveu uma carta à sua Amada Imortal, nome pelo qual ficou conhecida a dedicatória, em que declara o seu amor incondicional e implora por reciprocidade.

Quando um dos seus irmãos fica doente com tuberculose, Ludwig van Beethoven fica com a guarda do sobrinho, a quem impõe uma educação rígida, apesar do jovem ter fugido várias vezes para ir viver com a mãe. A inflexibilidade do pianista terá sido tal que o sobrinho tentou suicidar-se, sem sucesso. Para além da surdez a agravar-se cada vez mais, a saúde de Beethoven fragilizou-se nos últimos anos da sua vida, os mesmos em que compôs algumas das suas mais célebres obras. O músico sofreu de reumatismo, edema e dificuldades em respirar. Foi, várias vezes, alvo de intervenções médicas para drenar líquido acumulado do abdómen. Depois de ter falecido em 1827, aos 56 anos, várias autópsias confirmaram que os esforços médicos podem ter sido a sua sentença de morte, uma vez que os instrumentos utilizados provocaram envenenamento de chumbo. 

Após uma vida árdua, quase repleta de miséria, Beethoven tornou-se no que será, provavelmente, o mais notável pianista de todos os tempos, mesmo depois de ter perdido a capacidade de ouvir.

Joana Rodrigues By Joana Rodrigues

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