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Omer Gilony começou a trabalhar com flores ainda adolescente. Hoje é, acima de tudo, contadora de histórias: é ela a autora do table setting que vemos em Mise-en-scène, publicado no suplemento The Bridal Affair. Sendo impossível de definir, o seu trabalho é uma mistura de nostalgia, melancolia, e memórias de um futuro que ainda não aconteceu. Por Ana Murcho.
Direção criativa, storytelling, cenografia, food styling... Pode falar-nos um pouco mais sobre o que faz e como começou a fazê-lo? Sempre gostei de artes e trabalhos manuais. Venho de uma família que tinha um estúdio de arte e material de arte. A minha mãe era professora de arte e artista, por isso, em criança, brincava com quase todos os tipos de materiais. Quando era adolescente, comecei a brincar com flores. Era um passatempo que rapidamente se transformou numa profissão. Com a ajuda e o apoio da minha família, abri a minha primeira pequena empresa aos 16 anos, a Floralzone. Fazia ramos de flores, coroas de flores e, mais tarde, outras decorações relacionadas com flores. A certa altura, fiz decorações e arranjos de mesa. Quando me mudei de Telavive para Portugal tinha 21 anos. Aos poucos abandonei o negócio no meu país para me concentrar nos estudos de design. Mudei-me para Milão no último semestre, onde estudei cenografia e design de cenários. Durante todo este tempo, continuei a trabalhar com flores e comecei a colecionar utensílios de mesa e peças de decoração vintage em feiras da ladra e onde quer que fosse. Trabalhava em pequenos projetos aqui e ali, por vezes para o meu irmão, em Berlim, outras vezes quando regressava a Telavive para umas férias curtas. Depois de me formar voltei para Lisboa e continuei a criar. Para mim, para os meus amigos, para a minha conta de Instagram, etc., cada oportunidade que tinha era um momento de criação. A partir desse momento as coisas aconteceram rapidamente. Colaborei com os meus queridos amigos da Mustique — Pedro e Vera —, fizemos uma coleção de louça e criámos um evento de lançamento onde fiz a decoração e curadoria do jantar. Este evento expôs definitivamente o meu trabalho ao mercado português. O crescimento dos meus serviços aconteceu em simultâneo: storytelling, curadoria de eventos, decoração de mesas, design floral e direção criativa, todos eles estão ligados. No início, era difícil defini-los, mas [agora] com mais experiência, comecei a perceber o que é que eu ofereço. O meu objetivo é contar uma história bonita. Essa história envolverá sempre pessoas, lugares e paixão.
O seu trabalho é invulgar, dramático, inesperado, requintado... Como é que aborda cada projeto? Trabalha sozinha? E como é que escolhe os materiais com que trabalha? Antes de mais, obrigada! Normalmente começo com uma exploração dessa nova relação entre o cliente/assunto e eu. Se for um evento de marca, exploro e pesquiso a marca ou o produto que estão a lançar/celebrar. Depois disso, crio um enredo entre a minha própria estética visual e a deles. Os materiais são escolhidos depois de o conceito ter sido estabelecido ou, por vezes, são o ponto de partida do conceito. Tento usar materiais naturais, também gosto de usar comida como material principal, mas estou aberta a diferentes meios de acordo com o tema do projeto.
Ao ver as fotografias das instalações e dos arranjos de mesa, é inevitável perguntar: o que acontece a todos aqueles elementos depois de o evento terminar? A verdade por detrás de cada história bonita... depende. Se forem tecidos ou determinados pratos, são guardados comigo e utilizados em eventos futuros. Se for comida, será consumida durante o evento. Se forem flores, ou ficam com o cliente, os seus convidados, ou voltam para casa comigo e com a minha equipa/catering. Adoro distribuir flores depois de um evento. Dá-me prazer saber que alguém as vai ter em casa e apreciá-las durante mais alguns dias.
Onde encontra inspiração para os seus projetos? O local, o cliente, o produto, a ocasião, a estação do ano, a lista de convidados, uma peça de arte que por acaso esteja relacionada... Sinceramente, qualquer coisa. Tenho uma estética pessoal que aparece sempre de uma forma ou de outra. Mas o estilo de cada projeto difere de acordo com o ambiente e os participantes.
Concorda que a sua estética é uma mistura de nostalgia, melancolia, sonho, arte barroca e memórias de um futuro que ainda não aconteceu? Essa é uma bela descrição do meu trabalho. Adoro-a. E sinto-me extremamente feliz por poder comunicar a minha inspiração e os meus sentimentos no meu trabalho. Os tempos antigos sempre foram intrigantes para mim. A saudade de uma época em que nunca vivi é algo que sinto profundamente todos os dias. Este sentimento de nostalgia sempre fez parte de mim e estou grata pela capacidade de integrar esta parte de mim no meu trabalho. E o barroco — é uma das épocas que mais me intriga. Tem uma enorme influência na minha estética visual. Acho que a melancolia está muito relacionada com a paleta de cores que normalmente me atrai, tem a ver com sentimento, beleza e sonho, como refere. Um sonho desvanecido.
O tema por detrás do trabalho que realizou para esta edição da Vogue foi o casamento. Pode falar-nos de cada uma destas três mesas? Esta sessão foi feita no Palácio Seteais, que é lindo e inspirador para começar. A primeira sala: mesa de queijo barroca, feita na sala oval do palácio. Para mim, esta sala tem uma atmosfera muito agradável. Quis criar um cenário que se alinhasse visualmente com esta sala. Comecei com uma toalha de mesa de seda dourada cremosa para combinar com as paredes, que pedi emprestada ao Tudo é Festa. Lindos talheres de prata antigos da Christofle e pratos da coleção do palácio, desenhados pela Vista Alegre. Os tons das flores são pálidos e bonitos, misturados com alcachofra frescas, posicionadas ao lado de queijos reais em diferentes ton, para um casamento de amantes de queijo. O segundo conjunto: natureza-morta de uma manhã de um casamento. Uma apresentação visual de alimentos, inspirada em pinturas clássicas de naturezas-mortas, complementando o fresco da parede por detrás. Para este conjunto, quis criar uma continuação do fresco no meu design de cenário. Este cenário tem como objetivo comunicar a manhã do casamento. Prepararmo-nos para o grande dia enquanto comemos iguarias e bebemos champanhe. O terceiro conjunto foi inspirado na sala onde foi filmado. Tons de laranjas e verdes que cobrem a pintura da parede e deslizam para a mesa. Esta mesa mostra que as cores arrojadas são mais do que bem-vindas nos casamentos. Também se adequa a um almoço de ensaio ou a uma celebração contínua de um casamento longo.
Em que é que trabalhar num casamento é diferente de trabalhar em qualquer outro evento? É mais pessoal. Há mais responsabilidade, mais stress. Acho que é importante criar uma ligação adequada e conhecer o casal para compreender a sua vibração e abordagem. É um compromisso a longo prazo. É uma comunicação a longo prazo e uma impressão eterna, uma vez que se vão lembrar sempre deste dia.
Que tipo de decoração de mesa sugere a um casal jovem de casamento marcado, cujo orçamento seja limitado, mas que queira marcar a diferença? Não tenha medo de utilizar materiais não convencionais. Não são só as flores que podem servir de peça de decoração. Menos pode ser mais — uma decoração minimalista pode ter um enorme impacto se for bem feita. Trabalhe com criativos em ascensão que podem não ser tão grandes como os outros, mas que proporcionam muito mais.