Um romance com términos e recomeços, uma história de amor contemporânea, uma tese sobre como é que uma pessoa pode, inesperadamente, mudar a vida de outra e de que maneira é que a intimidade pode ser complicada. Assim é Normal People.
Um romance com términos e recomeços, uma história de amor contemporânea, uma tese sobre como é que uma pessoa pode, inesperadamente, mudar a vida de outra e de que maneira é que a intimidade pode ser complicada. Assim é Normal People.
Abril de 2020. Tão cedo não me vou esquecer deste mês. O mundo estava trancado em casa, as saídas à rua eram pontuais. Se não estava a trabalhar, estava a pôr as séries todas em dia. Os fins de semana estavam reservados para o famoso binge watching. Depois de ver Killing Eve, High Fidelity e Euphoria num abrir e fechar de olhos, e mais um par de documentários criminais na Netflix, eis que me deparo com Normal People na Hulu. Nem sabia muito bem naquilo em que me estava a meter, mas dois dias depois já estava a encomendar o livro online. Numa altura em que ligar a televisão se assemelhava a um qualquer episódio de Black Mirror, mergulhar numa história como a de Connell e Marianne, foi a salvação para os dias infindáveis de quarentena.
Normal People surge através da adaptação do livro homónimo de Sally Rooney - que, em 2019, um ano depois de ter sido editado, vendeu um milhão de cópias - uma jovem autora de 29 anos, nascida em Castlebar, na Irlanda. Esta história acompanha Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal) ao longo de vários anos. Ambos são de uma pequena cidade do oeste irlandês, mas as suas origens são muito dispares: ela é sarcástica, não é popular e pertence a uma família endinheirada; ele é popular, tímido e vive apenas com a mãe, que é empregada de limpeza na mansão da família de Marianne. Os dois começam um relacionamento, um tanto ao quanto peculiar, no último ano do secundário mas que depois continua durante os anos de faculdade. A premissa é simples: o tempo passa e as pessoas crescem. Um crescimento que é feito de mãos dadas, mesmo quando estão fisicamente afastados. Normal People é muito mais do que uma bonita e fofinha história de amor.
A adaptação desta obra literária é uma das mais fieis que vi nos últimos tempos, sendo que a grande diferença está no tom da série e na vontade que surge em vivermos os sentimentos que nos são apresentados. “Rooney mapeou com grande precisão os estados psicológicos dos seus personagens através de uma prosa fria e penetrante. Aqui [na série], muito desse trabalho interior é feito com a realização, dividida entre Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald, o que tornou esta história mais calorosa e sonhadora,” escreve James Poniewozik, no The New York Times. As interpretações de Mescal e Edgar-Jones são soberbas, há determinadas cenas em que sentimos tudo aquilo que cada um está a sentir e, por outro lado, nas cenas de sexo, que são de uma execução exímia, sentimo-nos verdadeiros intrusos e tudo aquilo que queremos é que eles não percebam que estão a ser observados. Toda a narrativa de Normal People é muito fiel ao título. Não é espalhafatosa. É normal, real e muito terra a terra.
Numa história repleta de idas de vindas, não restam dúvidas de que Marianne e Connell foram feitos um para o outro, mas a autora e os realizadores olham mais além: se o amor, a paixão e a afinidade são indispensáveis, este par precisa de mais, nada disto é suficiente. Para que se possam vir a completar, Marianne e Connell precisam de descobrir quem verdadeiramente são, precisam de deixar para trás as pessoas que eram na adolescência e construir a pessoa que querem vir a ser. Assumidamente romântica, esta série é um anti-romance.
Depois de conquistar o Reino Unido e os Estados Unidos da América, Normal People chegou a Portugal, um exclusivo HBO Portugal. A série tem 12 episódios cada um com 30 minutos e uma banda-sonora apetcível, com músicas de de Ry X, London Grammar, Frank Ocean, Yazoo e Janelle Kroll.