O sentido de comunidade, de comunhão, os laços humanos que nos ligam são a única força quando tudo não parece fazer sentido ou tudo parece estar em destruição.
O sentido de comunidade, de comunhão, os laços humanos que nos ligam são a única força quando tudo não parece fazer sentido ou tudo parece estar em destruição.
@Branislav Simoncik
Dificilmente existe uma necessidade humana mais elementar do que a de pertencer – a uma comunidade, a um lugar, a um coração, a nós mesmos. Num mundo onde cada vez mais uma cultura divisora parece procurar mais maneiras de nos separar do que nos fazer convergir, resistir a essas “forças” divisivas não é apenas um ato de rebelião, ou ativismo, mas sim a única esperança de cura. De alguma forma o sentido de comunidade, de comunhão, os laços humanos que nos ligam são a única força quando tudo não parece fazer sentido ou tudo parece estar em destruição. E se buscamos algum equilíbrio, a busca tem de vir do fundo, da raiz, a começar dentro de nós, nas famílias e nas suas obrigações, nas aldeias e nas suas responsabilidades, a acabar no nosso dever mais universal ao deixar de negligenciar o planeta.
Existe em nós esse anseio de comunhão, como força motriz central da vida humana – algo que tão facilmente esquecemos quando entramos nas narrativas divisivas da diferença que nos fazem desmoronar e tão facilmente nos lembramos quando o desastre e a tragédia nos unem, se caímos juntos. Nunca será alguma comunidade que nos define enquanto indivíduos, mas sim o que somos como pessoas ligadas por um mesmo amor, laços de respeito pelas semelhanças e pelas diferenças que definem uma sociedade. É essa a maior liberdade de pertencer.
Esse é o espírito que celebramos todos os dias na LightHouse, a casa que esta equipa partilha, e que quisemos celebrar quando definimos o tema desta edição, que teve como origem a palavra “Irmandade” e rapidamente se transformou em “Comunidade” para se materializar na frase “We are one” presente nas nossas capas de novembro. Não podíamos ser mais diferentes. A diversidade é total, nas idades, etnias, religiões e convicções políticas, tamanhos e estilos, mas de alguma forma somos uma só essência que se vive aqui, no caos e na ordem daquilo que nos move. Esta é a diversidade que queremos e defendemos na Moda, na Arte, no Jornalismo. Estes laços entrançados são a humanidade compartilhada que nos define e nos transforma numa única essência, que lhe deixamos ao longo dos temas e das páginas que nos unem a si. A palavra final é amor... E para amar temos de nos conhecer e de nos respeitar, nas diferenças e naquilo em que mais somos iguais, na fragilidade. Percebermos o que precisamos uns dos outros e o que nos complementamos pode ser – e é – a maior força, e a única forma de nos levantarmos nas quedas, sobrevivermos às tempestades e celebrarmos as conquistas com o coração cheio.
Durante o fecho desta edição, chegou-nos a notícia da vitória de Jair Bolsonaro, depois de acompanharmos ao longo de tanto tempo os discursos de ódio, de revolta, de indignação vindos de tantas partes do mundo e dos dois lados da barricada eleitoral. Cada um de nós tem direito à sua opinião, à indignação, à sua escolha, mas o resultado inegável é a escolha maioritária de uma comunidade, o povo brasileiro. Veio-me à memória uma frase de Martin Luther King, retirada do seu livro A Testament of Hope. “If I respond to hate with a reciprocal hate I do nothing but intensify the cleavage in broken community. I can only close the gap in broken community by meeting hate with love”, reúne a mensagem essencial e os seus pensamentos sobre a não violência, política social, inclusão, amor e esperança.
A História já nos provou demasiado para cairmos nos mesmos erros.
Nas nossas vidas pessoais, no fundo de nós mesmos, pelo menos, podemos aprender a viver sem a excitação doentia (cada vez mais inflamada pelas redes sociais), sem querermos estar sempre a “marcar pontos” junto de alguém em particular, ou de um bando de pessoas, ou aquela instituição particular ou raça ou nação… E então podemos pedir perdão pelas nossas ofensas, assim também aprendamos a perdoar aqueles que nos ofenderam. E podemos ensinar os nossos filhos e os nossos netos a fazer o mesmo – para que eles nunca venham a ser uma ameaça para ninguém.
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