Luar SS25
Começamos o fashion month da única forma possível: em Nova Iorque. Entre a ascensão de uma nova geração e o retorno de lendas à cidade, a Semana de Moda americana foi uma abertura digna.
Em Nova Iorque, localização é tudo e a semana de Moda tem chave de ouro. Rockefeller Center, o Museu Guggenheim, Wall Street: nesta estação a indústria da Moda abriu todas as portas necessárias para demonstrar o melhor que tem para oferecer. Ainda que sobre alguns dos tectos mais impressionantes da cidade, a Moda foi o foco.
Ok, já chega de introduções. Recuso-me a continuar a escrever se não abordar Alaïa. Desde que o desfile foi anunciado no princípio do ano, uma certeza cresceu entre a indústria, a coleção seria com certeza a mais bem-sucedida da semana. Não que tenhamos alguma coisa contra designers americanos, mas é inegável que Alaïa sobre a direção de Pieter Mulier tem estado numa espiral ascendente. Sobre a alçada, a marca tem alcançado um nível de sucesso raro desde a morte do icónico designer. Desde os sapatos virais às construções verdadeiramente arquitetónicas na passerelle, Mulier atinge em cheio tanto em termos criativos como comerciais. E, mesmo sobre as altas expectativas que se encontrava após a última estação —célebre por vestido que, magicamente, descendiam em espiral pelo corpo— o designer conseguiu quebrá-las.
Inspirado pelo vestido icónico, a coleção primavera/verão 2025 foi apresentada no museu Guggenheim. A linguagem estética de Mulier é tudo o que se pode querer de um designer à frente de uma maison. O diretor criativo não implementa a sua visão irresponsavelmente, usando a marca apenas como uma plataforma para disseminar o seu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, não se limita a fazer referências a momentos emblemáticos da marca (um recurso vasto no caso da Alaïa). O que Mulier concretiza é bem complexo: este destila a visão de Azzedine Alaïa e expande o seu propósito. Famoso pela sua obsessão pela figura feminina, o fundador da marca era mestre em enaltecer esta. Através do mesmo conceito, Mulier introduz uma dimensão diferente: uma sensibilidade arquitetónica, alcançada através do sacrifício da sensualidade do design de Azzedine. Nesta estação, vestidos encontram-se pendurados nas modelos como se estucados no seu corpo. O local do desfile foi considerado em casacos volumosos que se contorcem no corpo. Mas a maior inspiração para o desfile foi a própria Moda americana. De Charles James a Pauline Trigère, clássicos designers foram usados como ponto de partida para casacos puffer geométricos e capas longas acompanhadas por minissaias. Os pontos de referência não são inéditos: Azzedine Alaïa era um apreciador e colecionador de Moda americana. Aliás, este não é o primeiro desfile da marca em Nova Iorque: essa honra foi para o desfile de 1982 na discoteca Palladium.
Alaïa SS25
Mas os americanos não se deixam intimidar pelos franceses. Ainda que Alaïa tenha apresentado a melhor coleção da semana —uma opinião subjetiva que é o mais objetiva possível— as marcas emblemáticas da cidade fizeram da NYFW uma das mais fortes em estações recentes. A ascensão de marcas que, em vez de obedecerem a noções europeias de Moda, encontram a sua fonte de inspiração na melting pot americana, dão uma nova vida à indústria.
Designers como Raul Lopez e Willy Chavarria graduam-se de nomes que definiam o futuro da Moda americana, estes são o seu presente. O primeiro, fundador e diretor criativo de Luar, impõem-se como uma marca capaz de angariar atenção mediática, quer seja pela sua audiência frequentemente repleta de celebridades (esta estação foi Madonna, na última foi Beyoncé), quer pela seleção de modelos que, para primavera/verão 2025, incluíram Alex Consani e Daniel Julez J. Smith Jr. Mas a sua marca não se reduz à atenção mediática que atrai, é uma panóplia complexa da vida de Lopez.
Esta estação o designer olhou mais uma vez para a sua juventude, desta vez focado na insubordinação adolescente. Através de malhas complexas e silhuetas interessantes, Lopez redefine punk através de uma lente latinx. Com o nome “En Boca Quedó,” uma expressão da República Dominicana que se traduz para “vou-me embora e sei que vão falar de mim", a coleção apela a sentimentos de rebeldia. Proporções exageradas, cut-outs dramáticos e uma paleta neutra (à exceção de padrões animais que, na nossa opinião, são tão neutros como qualquer bege): as propostas para a estação não se afastam do ADN da marca.
Luar SS25
Na mesma geração, Willy Chavarria tem uma energia semelhante. Não pela sua estética, mas pela sua visão que olha para a Moda americana como um reflexo de todas as culturas que contribuem para a diversidade do país. Após três estações focadas em alfaiataria, Chavarria provou-se capaz de expandir o seu léxico. Para primavera/verão 2025, o designer considerou fontes diferentes: athleisure foi transformada, insuflada para atingir proporções invulgares. Os elementos clássicos do guarda-roupa da classe trabalhadora do século XX foram também repensados por Chavarria— subvertidos para atingir noções modernas de luxo. A coleção terminou com a estreia da colaboração entre a marca e a Adidas.
Willy Chavarria SS25
Noutras notícias, Off-White teve a sua estreia nas passerelles nova-iorquinas — surpreendente tendo em conta que seu fundador, Virgil Abloh, era americano. Ib Kamara, que assumiu o leme criativo desde a morte prematura de Abloh, retornou a marca às origens. A localização não foi a única forma através da qual Abloh esteve presente na apresentação das propostas para primavera/verão 2025. A coleção teve o seu ponto de partida na República do Gana, o país do qual os pais de Abloh migraram. A inspiração sentiu-se em numa fusão com os códigos clássicos da marca como as silhuetas e materiais clássicos de athleisure e streetwear. Para a seleção feminina, Kamara apoiou-se num dogma inegável: sex sells. Os clássicos hoodies foram feitos em espartilhos e os decotes em minivestidos caíram até ao umbigo.
Off-White SS25
Mas, em Nova Iorque, a sensualidade já tem mestre. Laquan Smith apresentou uma coleção focada no clássico trench coat. Estimulado pela fantasia sexual do casaco, usado apenas como desculpa para cobrir a lingerie, o designer subverteu a ideia com versões transparentes. Trench coats deixam de ser o esconderijo da sexualidade, passam agora a ser o seu destino.
Laquan Smith SS25
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