Thom Brown © Launchmetrics Spotlight
À medida que o mundo se afunda num estado distópico, a Moda tem uma reação oposta e de igual intensidade.
Ai o começo de algo novo, ai a esperança de um mundo no precipício. O mês da Moda começa no centro da distopia ocidental: os Estados Unidos. Face ao estado depressivo do mundo, a Moda responde na mesma medida. Marc Jacobs, o oráculo da Moda que sempre foi, tratou de fazer a primeira tentativa de interpretar um ambiente de compreensão impossível. O desfile primavera/verão 2025 foi feito fora de horário (e fora de estação) mas no sítio de costume: na New York Public Library. Nos corredores de mármore, Jacobs provou que o seu estatuto de lenda não é ordem de sorte, é de mérito. Numa coleção cuja explicação começava pela palavra “coragem", Jacobs fez algo que precisa de lata: uma visão criativa sem limites. Os seus volumes, reminiscentes da linguagem de Comme de Garçons, são peneirados pelas sensibilidades americanas do designer. Os seus extremos são pensados no léxico americano. Vestidos clássicos, trench coats, camisolas em lã, todas pensadas em extremos. Ombros redondos são complementados com botões ridiculamente oversized.

Marc Jacobs FW25
Passamos do princípio para o fim, do bom para o ainda melhor. Thom Browne apresentou a sua coleção outono/inverno 2025 num cenário enfeitado por mais de dois mil pássaros de origami. O designer, que tem uma abordagem extremamente narrativa, começou a sua história com o seu cinzento clássico, mas detalhes muito pouco convencionais. Ainda que aparentemente simples ao princípio, uma segunda olhar revela calças que são chaps, com coxas que revelam renda delicada debaixo de um fato em lã. Seguem-se casacos arquitetónicos, com cinturas definidas e ombros volumosos. Eventualmente pequenos adornos aparecem; primeiro nas golas de casacos oversized e depois a pontuar padrões de xadrez. A cor é introduzida inocentemente, primeiro na boca de modelos, mas rapidamente absorve looks inteiros. O último quarto do desfile é comandado por color blocking impressionante. Com um fascínio ornitológico omnipresente, os padrões das asas de aves separaram rosas suaves e verdes vibrantes. Um destaque do desfile foi o calçado: o designer tem uma das melhores seleções de sapatos do mercado—ainda que criminalmente subestimados. Esta estação, plataformas com compensados aterradores e saltos ainda mais assustadores foram complementados por kitten heels inocentes. Mas a melhor parte de ambos foram as meias argyle colocadas sobre os sapatos. A escolha de styling encapsula a estratégia criativa de Browne, a reinvenção de uma linguagem que todos compreendemos cria todo um novo léxico.


Thom Browne FW25
Na Coach, Stuart Vevers apresentou a melhor coleção desde que assumiu o controlo criativo da casa. A marca, conhecida pelos seus acessórios em pele, está a ter um momento. A sua popularidade no TikTok, assim como a sua oferta cada vez mais focada numa audiência jovem, revolucionaram a perceção da marca na indústria. É difícil combater contra uma perceção positiva—sim, muitos adoram os acessórios, mas poucos pensam na sua oferta de vestuário. Nesta estação, Vevers fez um esforço concreto de virar a maré. Inspirado na década de 90, a mesma em que este se mudou para Nova Iorque, a coleção teve uma série de momentos altos. Casacos curtos com colarinhos exagerados, sobretudos compridos, mas justos, silhuetas que caiam mesmo em cima do joelho: Coach apresenta uma visão que não é apenas comercial, é desejável—atrevemo-nos a dizer cool.

Coach FW25
Mas, cool por cool, não podemos deixar de mencionar a estreia de Veronica Leoni na Calvin Klein. No que marcou o retorno de uma das mais icónicas marcas americanas às passerelles da NYFW, o desfile foi um surpreendente retorno ao sucesso do passado. Silhuetas limpas, cores neutras, office wear chic—não podíamos pedir mais. Até o próprio Mr. Klein fez questão de marcar presença. Estamos perante um novo começo.
Outros destaques da semana incluíram Luar, uma das marcas que continua a ser das mais entusiasmantes do panorama americano. Para outono/inverno 2025, Raul Lopez focou-se na homofobia que ainda sente na sua cultura. Com uma infância passada em Puerto Rico, o designer sentiu opressão sexual da mais alta ordem. Pato foi um desfile não só nomeado em honra do insulto dado a homens gays, como feito em honra da resiliência necessária para ultrapassar a homofobia. Com odes claras a alguns dos designers historicamente favoritos da comunidade queer—os Gallianos, Lacroixs e Gaultiers—a coleção foi igualmente dramática e leve.
Diotima é outra marca que vale a pena manter debaixo de olho. Ainda que extremamente recente, mostra já alguns sinais do seu potencial. Nesta estação, inspirada pelo tema da domesticidade, a designer Rachel Scott criou uma coleção única com pontos de referência concretos—vestidos de macramé lembram-nos das toalhas nas mesas de jantar das nossas avós. É bom saber que a Moda ainda vive e respira, independentemente de quanto o mundo à sua volta muda. Nova Iorque provou o que temos a sensação que tanto Londres, Milão e Paris provarão—a Moda sempre foi e sempre será um abrigo para aqueles que precisam.



Da esquerda para a direita: Calvin Klein, Luar e Diotima
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