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To art its (censored) freedom: o futuro da arte nas redes sociais

03 Nov 2021
By Pedro Vasconcelos

O conselho do turismo austriaco abriu uma página OnlyFans para exibir peças de arte censuradas nas redes sociais.

O conselho do turismo austriaco abriu uma página OnlyFans para exibir peças de arte censuradas nas redes sociais.

Artwork: Mariana Matos. Fotografia originalmente publicada na edição de julho/agosto de 2020
Artwork: Mariana Matos. Fotografia originalmente publicada na edição de julho/agosto de 2020

Como uma forma de protesto contra a censura artística, o conselho de turismo de Viena abriu conta no OnlyFans, a plataforma online conhecida, maioritariamente, pela partilha paga de conteúdo explícito. A decisão veio como resultado de uma sucessão de episódios infelizes entre vários museus sediados na capital austríaca e as plataformas de redes sociais. 

Em julho deste ano o museu Albertina teve a sua conta de TikTok suspensa, e eventualmente eliminada, por ter partilhado fotografias de Nobuyoshi Araki. A imagem que, levou a tal ato de censura, revelava o peito de uma mulher em sombra, foi considerada pela plataforma como "conteúdo sexual explícito". Também em 2019 o Instagram removeu uma pintura de Peter Paul Rubens da conta do museu vienense por infringir as regras da comunidade que proíbem nudez. O facto da representação de nudez ter quase quatro séculos parece ser um facto irrelevante para a rede social. Mas a idade de uma peça não a iliba de ser censurada, se assim fosse a figura da Venus de Willendorf, com 25 mil anos, não teria sido considerada pornográfica pelo Facebook em 2018. 

Como Helena Hartlauer, porta-voz do conselho de turismo de Viena, revela em entrevista ao diário britânico Guardian, a censura é verdadeiramente “injusta e frustrante”. Ainda que o espólio dos museus seja massivo (só o Museu Albertina tem mais de 65 mil peças), muitas das suas obras mais emblemáticas incluem nudez. Caso titular será a obra de Egon Schiele, que, ainda que um símbolo de arte austríaca, foi considerada demasiado explícita para estar presente numa campanha publicitária ao turismo vienense. 

Foi desta frustração latente que a decisão de criar uma página no OnlyFans nasceu, não só para divulgar obras emblemáticas, mas também como forma de questionar as políticas de censura nas redes sociais. Claro que esta decisão se enquadra numa tentativa de atrair turistas a Viena, especialmente após 2020 que verificou uma redução de 74% de visitantes na cidade. Neste sentido, quando subscreve a página Onlyfans recebe um Viena City Card, ou um bilhete de entrada grátis para um dos museus vienenses.

A medida do conselho de turismo austríaco enquadra-se num movimento crescente que critica a censura nas redes sociais. Se instituições como museus há muito estabelecidos têm dificuldade em navegar sites como Instagram, artistas independentes encontram-se sequestrados por políticas de censura. Estando dependentes de divulgação nas redes sociais. A censura aparentemente desregulada é uma ameaça ao seu sustento. Neste sentido, plataformas, como Don’t Delete Art, nasceram da necessidade que artistas independentes têm de compreender um algoritmo que, em muitos casos, não parece fazer sentido. 

A importância do assunto é mais profunda do que a censura da expressão artística. O papel que as redes sociais têm na nossa vida quotidiana concede a estas plataformas um determinado nível de poder, regulando de certa forma o tipo de conteúdo e informação à qual temos acesso. Face a um aumento progressivo de censura nas redes sociais, vários utilizadores constatam que a censura é feita de forma injusta, afetando de forma desproporcional mulheres e indivíduos de minorias raciais. Ainda que a censura seja necessária, é essencial que esta seja transparente e justificada, ao risco de se tornar mais um instrumento de censura criativa e opressão sistémica.

Pedro Vasconcelos By Pedro Vasconcelos

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