Em exclusivo para a Vogue Portugal, a designer partilha como a sua visão excêntrica e encantada do mundo inspirou a sua primeira coleção de maquilhagem com a Lancôme.
Em exclusivo para a Vogue Portugal, a designer partilha como a sua visão excêntrica e encantada do mundo inspirou a sua primeira coleção de maquilhagem com a Lancôme.
Como é que descreveria o seu mundo? Muito colorido! Há uma associação com a infância, mas ao mesmo tempo atrevido – são opostos, mas combinam muito bem para criar algo original.
Diria que a sua visão sobre a mulher está relacionada com os padrões mainstream atuais? \Não com os padrões atuais. Tem tudo a ver com a era em que se vive. A minha visão de feminilidade é um bocadinho retro. Sinto essa mesma “vibe” da Lancôme, que é uma marca que considero bastante retro – mas com um toque moderno. Lancôme interpreta o glamour à moda de Hollywood.
Que mulheres é que admirava quando era mais nova? Gostava muito da Veronica Lake, Bettie Page, Marilyn Monroe e da Lauren Bacall. Descobri estas mulheres em livros e filmes. Acho que cresci numa família onde havia sempre esta onda de nostalgia...
Quando é que começou a criar? Sempre adorei fazer coisas. Quando era criança, estava sempre a costurar, desenhar, a fazer cerâmica. A minha avó ensinou-me a costurar e aprendi a pintar com o meu avô. Mais tarde fiz um estágio numa grande marca de moda. Levei alguns restos de tecido para brincar e fazer algumas peças para mim...e depois um dia alguém me pediu para fazer algo específico e os amigos dos meus pais pediram para lhes fazer carteiras e acessórios...foi assim que tudo começou.
O que é gosta mais sobre ser designer?Para começar, acho costurar e bordar extremamente relaxante. Também adoro ficar presa nos pequenos detalhes, fazer trabalho extremamente minucioso e ver até onde é que o consigo levar, fazendo coisas tão pequenas que quase que não se veem – mas tu sabes que existem. E depois há o prazer de ver a peça concluída e sentir orgulho por algo que eu fiz.
Cada uma das suas coleções é diferente da anterior. Há alguma intenção por trás disso, como contar uma história nova todas as vezes? O que une todas as minhas coleções é a ideia de ser feito a mão e por especialistas. Há ainda a combinação de ingenuidade e atrevimento e a cada temporada eu acrescento um tema. Não consigo dizer de onde veem as minhas ideias exatamente. Posso estar na Áustria e decidir que quero avançar com um tema austríaco, ou ir ver uma exposição que me inspire a fazer algo à volta do David Hockney – acho que a minha inspiração vem da vida em geral.
Acha que ser uma mulher a criar para mulheres, faz alguma diferença? Tem os pés mais assentes na terra que um designer homem?Talvez. Os homens nem sempre entendem o que conseguimos ou não usar. Não se apercebem por exemplo que corpetes não são nada confortáveis.
Usa frequentemente mulheres que não são modelos nos seus desfiles. Isto é um gesto ativista? Sim, na medida em que prefiro ter mulheres reais, com personalidade e caráter, do que modelos convencionais. Mas não tem a ver com a forma ou tamanho do corpo. É só que as mulheres que captam o meu interesse têm corpos que têm a ver com elas.
Queria desenvolver algo completamente novo, mas que tivesse presente a herança da Lancôme... Sim, porque há sempre coisas interessantíssimas nos arquivos de qualquer Maison. E como a marca tem uma história tão longa, não resisti a mergulhar nela. A ideia por trás da minha marca – entre outras coisas – é reinterpretar o estilo de design do passado e acrescentar o meu toque pessoal. Gosto mais de construir sobre algo do que criar do nada. Dá-me mais camadas com que trabalhar. Neste caso, havia um pequeno anjo querubim, que quis reinterpretar tornando-o mais feminino.
Diria que o transformou numa versão angelical de si mesma? Um bocadinho! Tive que lhe dar um pouco de cor-de-rosa, óculos para mostrar que sabia ler – mas de inspiração pinup para ser um pouco mais sexy... é um querubim que também é um pouco maroto e que brinca com maquilhagem – um anjo que não é assim tão angelical.
Encontrou mais alguma surpresa enquanto passeava pelos arquivos da Lancôme? Fiquei muito contente quando encontrei um batom chamado Olympia! Havia também um pó compacto dos anos 50, com um laço, que inspirou o design do blush que está na paleta.
Sempre gostou de maquilhagem? A minha relação de amor com o batom começou quando tinha 14 anos. Mas nunca em tons bege – tem que se destacar!
Que maquilhagem usa todos os dias? Para além do batom vermelho, aplico sempre um pouco de máscara de pestanas e blush. Se bem que as vezes nem uso blush porque coro facilmente.
Uma das coisas que tem em comum com a Lancôme é trabalhar com cor. Como é que o faz? Normalmente, quando escolho um tema, começo logo a pensar nas cores que se podem fazer sentido e não demoro muito a construir uma paleta de cores. Por exemplo quando trabalhei com o designer Gilles Dufour, era eu que estava encarregue das cores. Tenho milhares de folhas de feltro de todas as cores no meu escritório, onde vou cortando bocado das cores que acho que fazem sentido para determinado tema. Depois junto-as, vejo quais é que funcionam e quais é que não...para esta coleção fiz exatamente o mesmo. Escolhi cores que gostava e que gostaria de ver usadas em maquilhagem.
O que a deixa mais orgulhosa nesta coleção? De como a paleta de maquilhagem está tão bem feita. Não pensei que fossemos conseguir fazer uma peça de tecido bordado tão bonito. De todas as colaborações que fiz até agora, esta é a primeira vez que foi possível produzir algo bordado. Parece mesmo um dos meus mini minaudières. E fico muito feliz de conseguir usar tudo o que está lá dentro.
A coleção chama-se Olympia’s Wonderland. Gostava de ter oportunidade de como Alice, passar para o lado de lá do espelho? Adoraria visitar o mundo de Alice, porque não? Mas se me perguntasse para voltar atrás aos anos 40 ou 50 não aceitava. É muito mais fácil ser mulher nos dias de hoje.