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O problema das embalagens na Beleza

24 Mar 2021
By Mathilde Misciagna

Na era do desperdício zero, todas as marcas podem e devem reformular-se, reposicionar-se e reinventar-se.

Na era do desperdício zero, todas as marcas podem e devem reformular-se, reposicionar-se e reinventar-se.

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©Getty Images

Sé é verdade que a pandemia afetou todos os segmentos da indústria global e obrigou as empresas a adaptar-se para conseguirem seguir em frente, também é verdade que nós, os consumidores, nos tornámos ainda mais exigentes quando se trata de escolher onde gastamos o nosso dinheiro. O nosso poder de compra é cada vez mais direcionado para produtos ecológicos, o que significa que as marcas que não adotam embalagens sustentáveis correm o risco de serem deixadas de lado.

Alternativas sustentáveis estão na mira de consumidores e empresas e com a mudança dramática na forma como compramos (inserir aqui shopping online), é absolutamente vital que os nossos novos hábitos digitais sejam apoiados de uma forma que proteja o mais possível o ambiente. Segundo o site Circular Online, quase um terço dos consumidores europeus diz que deixou de comprar determinadas marcas porque as suas embalagens não eram sustentáveis. E, segundo a mesma pesquisa, quase metade dos europeus (46%) diz que preferem embalagens de cartão em vez de plástico e 58% quer menos embalagens de uma forma geral.

Segundo dados fornecidos pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) à ZERO, em 2018 foram parar aos resíduos das nossas casas 478 mil toneladas de embalagens de plástico produzidas nas casas portuguesas, das quais, de acordo com a Sociedade Ponto Verde, apenas 72 mil foram recicladas, o que infelizmente corresponde a uma taxa de reciclagem de apenas 15%. Já sabemos que o planeta está a sufocar à conta de plásticos de uma só utilização como garrafas de água, sacos de plástico e embalagens de take-away. Mas por vezes esquecemo-nos do impacto de outro segmento: o da Beleza – nomeadamente quando se fala de embalagens de champô e gel de banho, batons, paletas de sombras, giletes descartáveis e escovas de dentes... entre tantos outros itens que têm um impacto gigantesco no meio ambiente.

Não existe melhor momento do que o presente para começarmos a investir numa rotina de Beleza mais sustentável. Segundo a Zero Waste Week, mais de 120 mil milhões de unidades de plástico são produzidas todos os anos pela indústria da cosmética – grande parte não reciclável e que acaba em aterros e nos nossos oceanos. Podemos concordar que estes números são de facto demasiado altos para uma só indústria, e uma indústria para a qual contribuímos regularmente e muitas vezes sem pensar duas vezes no impacto que as nossas escolhas de Beleza têm no ambiente. 

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©Istock Images

As compras online com entrega ao domicílio tornaram-se parte integrante do consumo moderno e, como resultado, a embalagem torna-se uma das ferramenta-chave para a construção de uma marca. Mesmo antes da pandemia as embalagens tinham um enorme destaque devido à conhecida tendência do unboxing. No auge da popularidade do YouTube no início de 2010, os vídeos de unboxing tornaram-se uma megatendência entre os youtubers dos mais diversos segmentos. Quer se trate de dispositivos, Beleza ou Moda, queremos ver o que é que os outros estão a comprar. Os vídeos eram muitas vezes gravados no formato de reviews, mas a lenta revelação do que estava dentro da embalagem tornou-se uma parte importante da experiência. Embora a embalagem seja uma ferramenta importante para a construção da marca, também pode ser prejudicial à reputação da mesma se os valores da marca não forem traduzidos na embalagem. Na era do consumo consciente, somos encorajados diariamente a tomar decisões que limitem o nosso impacto individual no planeta.

No entanto, a pior armadilha para uma marca com consciência ecológica pode ser precisamente a embalagem. Se os clientes pedem um produto sustentável, esperam que a embalagem também o seja - e ficarão instantaneamente desapontados se isso não acontecer antes mesmo de abrirem a caixa. Tanto que há uma tendência crescente nas redes sociais que passa pela partilha de maus exemplos de embalagens – nomeadamente se uma embalagem exterior é desnecessariamente grande para o conteúdo, se está cheia de plástico, e por aí fora. 

Gigantes como o grupo L’Oréal ou Unilever querem-se comprometer a tornar 100% das suas embalagens plásticas reutilizáveis, recarregáveis ​​ou compostáveis ​​até 2025 e 2030, respetivamente. Nesse sentido, a La Roche-Posay – marca francesa de dermocosmética do grupo L’Oréal - após o lançamento dos formatos refill de Lipikar Óleo Lavante AP+ e Lipikar Syndet AP+, criou novas embalagens com novos formatos eco-conscious com certificação FSC (Forest Stewardship Council) para dois dos seus produtos estrela da famosa gama Lipikar: Lipikar AP+M 200ml e Lipikar Surgras Pain. O plástico branco original é substituído por uma embalagem composta maioritariamente por fibras de cartão, contendo menos 45% de plástico comparativamente a um tubo comum. Mas não é a única, também a Clinique (parte do grupo Estée Lauder) com a sua nova base em sérum Even Better Clinical assegurou-se de que a sua embalagem de vidro pudesse ser reciclada, removendo a tampa e o doseador.

Instagram @phactcosmetics

E se lá fora os passos dados são satisfatórios, cá dentro todos os dias mostramos o melhor da criatividade e know-how lusitano. Motivada pela reflexão sobre a quantidade de plástico e resíduos gerados pela cosmética, nasce a [PH]ACT pelas mãos de Maria Lourenço, com base em três grandes pilares: a sustentabilidade, a transparência e os factos, tendo como mote o verbo cuidar – “de ti, dos outros, do hoje e do amanhã”. O primeiro lançamento da nova marca portuguesa são champôs e condicionadores sólidos que respeitam o pH natural do cabelo e couro cabeludo e que vão ao encontro das necessidades de cada um. O packaging é de papel reciclado certificado mais uma vez pelo FSC (Forest Stewardship Council) e todas as encomendas são enviadas sem plástico, utilizando a menor caixa possível com um mínimo de 70% de material reciclado e seladas com fita de papel (sem solventes). Por último, de forma a reduzir a pegada de carbono, a entrega da encomenda é 100% carbono neutro. É consciente e é nacional. E o que é nacional é bom, já diz a sabedoria popular.

Nos últimos cinco anos, um grande número de marcas começou a fazer mudanças e a comprometer-se com metas de sustentabilidade. Estão a mudar as suas embalagens de produtos para se tornarem recicláveis, a atualizar a forma como operam para reduzir as suas emissões de carbono ou a mudar completamente as suas fórmulas para se adequar a práticas mais sustentáveis ​​a longo prazo. Com o tempo, esses compromissos, por menores que sejam, impactam o planeta. Portanto, façamos a nossa pesquisa antes de adicionar ao carrinho.

Mathilde Misciagna By Mathilde Misciagna

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