A Moda e a política nunca deixarão de andar de mãos dadas e prova disso é a forma como as celebridades usam a passadeira vermelha para passar uma mensagem.
A Moda e a política nunca deixarão de andar de mãos dadas e prova disso é a forma como as celebridades usam a passadeira vermelha para passar uma mensagem.
Julia Roberts no Festival de Cinema de Cannes de 2016 em protesto contra o código de vestuário feminino
Salma Hayek no Festival de Cinema de Cannes de 2014 em protesto contra o grupo terrorista Boko Haram
Billie Eilish nos American Music Awards de 2019 em protesto pela sensibilização para as alterações climáticas
Simon Helberg e Jocelyn Towne nos Screen Actors Guild Awards de 2017 em protesto pelo acolhimento de refugiados
Aujanue Ellis nos Image Awards de 2016 em protesto contra o uso da bandeira da Confederação no Mississipi
Alexandria Ocasio-Cortez e Aurora James na Met Gala de 2021 em protesto pelas desigualdades económicas
A Met Gala de 2021 pode não ter sido frutífera em looks temáticos, mas deu muito que falar quando o assunto eram mensagens políticas. Com o tema In America: A Lexicon of Fashion, introduziu-se o mote da crítica social - e até económica -, dando espaço para o cruzamento perfeito entre a Moda e a política. Mas este não foi o início de tal cruzamento. E, por este andar, também não parece que será o fim.
Há uma grande parte da história da Moda que cresce em redor dos movimentos políticos contemporâneos. Até porque as nossas roupas são (na teoria) uma representação perfeita do zeitgeist, do espírito do tempo, sendo natural que um acabe por se refletir no outro.
Pensando numa lógica de transmissão dessas mesmas mensagens, facilmente se percebe como a passadeira vermelha acaba por ser um meio tão óbvio para a utilização da Moda enquanto meio de crítica social. Quando transmitimos uma mensagem, procuramos que ela seja ouvida, e por isso recorremos aos meios mais “barulhentos” que arranjamos. Na Moda, quais são as plataformas com a maior audiência e atenção? Os desfiles - mas nem todas as marcas gostam de entrar por terrenos políticos - e as passadeiras vermelhas, onde geralmente esta conta e risco está ao cargo das celebridades.
Os statements políticos podem assumir as mais variadas formas. Umas mais discretas, outras mais explosivas, mas, no fundo, sempre estiveram presentes. Ainda assim, se tivéssemos de fazer uma viagem pelas mensagens políticas da passadeira vermelha, poderíamos colocar a data de início nos Óscares de 1972, quando Jane Fonda optou por usar um power suit preto da Yves Saint Laurent com quatro anos. O ato representava uma forma de ativismo contra a guerra do Vietname, tal como a atriz justificou ao New York Times: “Não ia comprar vestidos bonitos quando há uma guerra a ser disputada.”
Fast forward para 2021 e, no geral, já não são as guerras que são debatidas em plena passadeira vermelha. (Tirando, é claro, o look de Ryan Gosling nos MTV Movie Awards de 2005 que apelava à sensibilização para a guerra no Darfur.) Mas isso não significa que a política já não seja mencionada. Até muito pelo contrário, são cada vez mais diversos os espectros abordados.
Por exemplo, a temática da igualdade de género é um dos temas recorrentes nas mensagens políticas das celebridades. Desde os Globos de Ouro de 1990, em que Julia Roberts apareceu de fato quando todos esperavam que a atriz envergasse um vestido, até aos outfits de Blac Chyna e Amber Rose nos MTV Video Music Awards de 2015, cujas peças de roupa estavam pintadas pelos mais diversos adjetivos pejorativos que as duas celebridades afirmavam receber diariamente. Julia Roberts é, na verdade, uma recorrente nestas andanças. Quando na edição de 2016 do Festival de Cinema de Cannes foi avançada a declaração de que era obrigatório as mulheres calçarem saltos altos na red carpet, a atriz apareceu descalça. E ninguém pode dizer que foi contra as regras. A mensagem de rebelião, essa, chegou na mesma até nós.
É também essencial abordar o movimento Time’s Up. Sendo esta uma contestação que impactou diretamente Hollywood, seria de esperar que fôssemos encontrar repercussões na passadeira vermelha. E encontrámos. Muitas. Nos Globos de Ouro de 2018, foi através dos looks totalmente negros. Nos Globos de Ouro de 2019, foi através de detalhes, como pequenas pulseiras ou pins. Mas sempre unidos pela partilha de um tema de vestuário comum que, quando observado de uma escala maior, surtia o impacto esperado.
Poderíamos gastar linhas e linhas deste texto a enumerar a mais variadas maneiras como as celebridades usaram o meio para passar a mensagem (ou “the medium is the message”, nas palavras exatas de Alexandria Ocasio-Cortez), mas desde a utilização da Moda para apelar ao voto até à sensibilização para as alterações climáticas, foquemo-nos em ver - e absorver - a forma como a roupa pode atuar na sociedade.